Por Maria Teresa Piacentini

Vamos tratar do uso da crase com as locuções prepositivas quanto a, junto a, relativamente a, etc.

A locução prepositiva é composta de dois ou mais vocábulos, sendo o último deles uma preposição simples (ex.: ao lado de, de acordo com, frente a). Sua função é a mesma da preposição. Só nos interessam agora as locuções que acabam na preposição a, pois estas exigem o a craseado quando se ligam a um substantivo feminino determinado.

Como são relativamente poucas as locuções que se enquadram nesta categoria, pode-se memorizá-las para evitar os condenáveis erros de crase:

1. Graças à competência do médico, o menino se curou completamente.

2. Em atenção à reclamação formulada por sua empresa, revisaremos o produto.

3. Foram abertas inscrições com vistas à renovação da diretoria.

4. Nada apuramos quanto à participação da nossa equipe no campeonato estadual.

5. Em relação à solicitação de emprego que V. Sa. nos fez, nada podemos adiantar.

6. Qual seu interesse relativamente às tabelas afixadas no mural?

7. O governo se calou no tocante às perguntas sobre o empréstimo compulsório.

8. Qualquer matéria com referência à música minimalista é de nosso interesse.

9. Face às necessidades detectadas, novas prioridades serão estabelecidas.

10. Qual foi sua atitude com respeito à difamação?

11. O carro pifou próximo à rua onde morávamos.

12. Frente às reivindicações dos funcionários, a diretoria fará alterações no quadro.

13. Parou em frente às galerias.

14. Vamos nos encontrar defronte à barbearia do Luís.

15. Viajou em direção à fronteira.

16. O governador logrou êxito junto às autoridades federais para que fossem liberadas outras linhas de crédito.

O uso de junto a em frases desse tipo (e outras como: solicitar providências junto a, conseguir/obter/acertar/fazer pedidos junto a alguém) é condenado por puristas. Contudo, não há como negar a sua frequência em artigos de jornais, revistas e correspondência em geral. Estritamente falando, junto a significa apenas “perto, próximo, ao lado”, por exemplo: Encostou o carro junto à calçada.

17. Os produtores de uva enfrentaram uma queda de produção de 70% devido à ocorrência de geadas em outubro.

Devo advertir que o uso de devido a não tem o “respaldo dos autores cuidadosos”, no dizer do professor A. da Gama Kury, porque a locução surgiu da “masculinização” do particípio do verbo dever, que concordava normalmente com o substantivo referente: “ausência devida a problemas pessoais; problemas devidos ao excesso de chuvas”.

Já a opinião de Celso Luft é a seguinte: “Os puristas não gostam desta locução e acham que devido deve ser usado apenas como particípio: o acidente foi devido (= deveu-se) a um descuido. O uso corrente da locução, claro, desautoriza os puristas”.

Em todo caso, observe-se a concordância quando devido é realmente particípio e atente-se sempre para a colocação do acento indicativo de crase diante de substantivo feminino, dada a presença da preposição a nos dois casos: Acidentes devidos a motoristas imprudentes / ao desatino / à imprudência do motorista... Foi cancelado o show devido a problemas / devido ao tempo / devido à chuva.

DADO O, DADA A

Dada a dificuldade em alugar uma casa, ficaremos no apartamento.

Que não se faça confusão com a locução "devido a", apesar da semelhança de significado e uso. Dado sim é um particípio; não rege preposição, portanto não forma uma locução, mas concorda com o substantivo sequente: Dado o mau tempo / dados os raios e trovões / dada a chuva / dadas as condições de tempo, não fomos à praia.