Loucura na tradução
Por Miguel Carqueija Em: 28/08/2016, às 07H05
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Loucura no espaço”, de Murray Leinster. Título original: “Doctor to the stars” (Doutor das estrelas), copyright 1964 by Will F. Jenkins. Editora Livros do Brasil, Lisboa, Portugal, sem data. Coleção Argonauta 164. Capa de Lima de Freitas. Tradução de Eurico Fonseca.
O título desta resenha refere-se sem dúvida à incoerência do título colocado na edição portuguesa. Trata-se de uma coletânea com três grandes contos em torno de Calhoun, do Serviço Médico Interestelar, e seu bicho de estimação Murgatroyd, o “tormal”, que só “fala” “chee” ou “chi”. Calhoun passa por diversas peripécias nas suas missões em diversos locais da Via Láctea, numa era de diáspora humana através do espaço — coisa muito comum na ficção científica heróica dos USA, nos anos 30, 40, 50, 60.
Calhoun passa por situações patéticas e quase humorísticas, pelo inusitado das mesmas. A primeira história, A guerra dos avós”, fala de um planeta que coloniza outro enviando a fina flor de sua juventude em sucessivas vagas, mas abandonando essas novas gerações à própria sorte e depois querendo ajuda quando o sol original ameaça explodir. Então os mais velhos ficam em pé de guerra contra os mais novos e querendo invadir seu mundo, e os mais novos, revoltados por terem sido lançados a uma situação de penúria, tendo de construir do nada uma civilização (o que nem estavam conseguindo). Calhoun tem de tentar mediar essa maluquice (há um grau de loucura nos enredos, mas a meu ver não justifica a troca de título na tradução, pois o verdadeiro foco é a atuação do médico).
A segunda história, “O homem da Mednave” (essa expressão quer dizer “nave médica”) em seu entrecho estapafúrdio tem mesmo assim a vantagem de alertar contra um pecado muito comum em nossa civilização (sem precisar esperar por esse distante futuro) ou seja, que para ganhar dinheiro se façam “experiências” que resultem na morte ou na desgraça de seres humanos, animais e plantas... e quando confrontados com o resultado de suas leviandades, tais plutocratas alegam que não sabiam...
Na terceira história, “Tallien Três”, Calhoun se vê ás voltas com uma estranha epidemia. Os infectados formam um grupo à parte, alimentando-se de coisas repugnantes, e a colônia se vê às voltas com uma espécie de guerra civil. Calhoun tem de descobrir o que há por trás disso. Mais uma vez, há uma pessoa mal intencionada.
O romance é divertido e cada parte pode ser lida separadamente. Murray Leinster, de resto, era um autor norte-americano de grande popularidade e teve a sua época.
Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2016.