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ERA uma criança. Um bebê recém-nascido, que a índia tinha acabado de parir. João Beleza pegou aquilo, segurou no ar e viu que era uma menina e, erguendo-a, disse: “Vai-se chamar Júlia!” - e foi aquilo colocado no aió da mula entre as cartucheiras de balas e sobre um impermeável. Quando o comando regressou ao Manixi levaram para o barracão de João Beleza que a quis, para criar.

 

Oh, eu me lembro daquela menina, oh, eu me lembro! De quando ela era ainda muito pequena, uma criança de três palmos de altura e em tudo diferente que não chorava nem gemia, não falava nem fazia arruído qualquer. Não. Não era alegre ou triste, um ser apenas, um ser que olhava, um misterioso ser que olhava sem medo ou espanto, como se nada vissem os negros enigmáticos olhos. Sim, que era Júlia, que não invento nem minto, - não adoecia, não pedia comida, e ficava imóvel, num canto, imóvel, não requerendo cuidados, crescendo, crescendo insólita e muda como se soubesse o que ia passar. Quando já era menina, uma piranha do lago Quati solapou-lhe um pedaço esférico da coxa, arrancando-lhe naco de carne macia. Então Júlia riu-se, e riu-se muito, ih, ih, - ria-se ela, como se a ferida lhe desse prazer, miúda e contínua.

 

João Beleza tratava-a como filha. Anos mais tarde, Júlia preparava-lhe a comida, limpava o barracão, criava os animais e os domesticava. Júlia crescia. E devia de ser extremada amante, pois João Beleza dormia sempre com ela.