Já está em casa

                        JÁ ESTÁ EM CASA

     Muita coisa tem me tocado neste mês de abril. Porém nenhuma me tocou mais fortemente do que o brutal ataque de três cães da raça pitbull contra a escritora Roseana Murray. Ela perdeu o braço direito, uma orelha e teve vários ferimentos pelo corpo. Não a conheço pessoalmente, mas confesso que fiquei muito triste, muito mesmo, quando soube desse crime. Imaginei o terrível susto e as dores que ela sofreu e talvez ainda esteja sofrendo. Não é mole perder o braço direito e, no caso da escritora, que é destra, isso é mais problemático ainda.

     Vi uma pequena entrevista dessa poetisa ainda no hospital. Mostrou-se alegre, otimista, dizendo-se vencedora, pois os cães queriam sua morte, mas ela sobreviveu. Falou também sobre o bom tratamento que recebeu de médicos e enfermeiras, sobre a importância do SUS, elogiou-o, pois a casa de saúde em que ficou internada não é particular, mas do nosso Sistema Único de Saúde. Explicou ainda que vai ter que aprender a escrever com a mão esquerda e reaprender a fazer muitas outras coisas. É admirável que, ainda no hospital, ela fez um poema.

     Mas Roseana já está em casa. Passou treze dias hospitalizada. Mostra-se alegre e otimista. Dessa maneira, ela nos dá uma verdadeira lição de vida. Há tanta gente por aí com todos seus membros intactos e com saúde física plena, mas reclamando da vida e se irritando com coisas pequenas.

     Os três responsáveis pelos cães que atacaram a escritora foram presos, mas já estão soltos. Nada mais lógico no país da impunidade. É até de se admirar que tenham curtido alguns dias de cadeia.

     Agora, pergunta-se: até quando cães ferozes vão continuar atacando, ferindo e até matando pessoas no Brasil? São tão ferozes, que às vezes chegam a matar o próprio dono. É claro que o poder de destruição de uma onça é muito maior. Porém animais como pitbull, rottweiler e outros são muito mais perigosos do que uma onça. Esta não ataca de frente. Vai por trás, sorrateiramente, pisando macio, tomando chegada, até atacar sua presa. Já esses cães ferozes vão de frente, latindo e rosnando sem nenhum temor. Alguns são orientados por seus donos a morder o pescoço da vítima.

     É preciso que alguma medida seja tomada contra esse absurdo de pessoas serem atacadas por essas feras quando estão simplesmente fazendo uma caminhada, como foi o caso de Roseana Murray, ou em qualquer outra situação. Não podemos continuar a lamentar o sofrimento e morte de pessoas vítimas de cachorros ferozes.