[Gabriel Perissé]

O contato com a arte exercita a sensibilidade, provoca uma abertura para o visível, e para o invisível. A filósofa Simone Weil (1909-1943) dizia que precisamos ter um olhar mais atento, que nos predisponha a receber a realidade. Podemos "treinar" essa recepção ativa ao observar os detalhes de uma pintura, ao ler e reler um poema, ao ouvir uma canção sem pressa...


"A arte expande nossa compreensão do mundo e nossa capacidade de amar", como escreveu Judith Dupré, especialista em história da arquitetura, que publicou vários trabalhos sobre o diálogo entre cultura, arte e espiritualidade. No seu Full of grace (Random House, 2010), fala da presença de Maria no nosso ideário e imaginário, analisando pinturas, esculturas, fotografias etc.

A palavra "graça" tem sentido estético quando se refere à harmonia das formas, ao encanto de uma presença, e tem sentido teológico com relação à força divina que nos vem de modo "gratuito", os dons, a graça de Deus. A "cheia de graça" se surpreende e nos surpreende. Ela possui beleza e santidade. Os artistas se sentem atraídos por essa combinação.

Retablo de la Virgen Indigena, 1995 / J. Michael Walker


A beleza nos desloca de um excessivo autocentramento. A graça é generosa. A beleza não é abstrata. A graça não é uma noção vaga. A beleza implica um relacionamento com o concreto. A graça se torna presente no tempo e no espaço. A beleza se esconde e se revela. A graça escapa e preenche.

Maria tem mil retratos e feições. Sua universalidade se expressa em traços de beleza judaica, grega, eslava, oriental, negra, indígena, e é sempre um convite a experimentarmos o que nos transcende.