Pintura de Paul Gauguin
Pintura de Paul Gauguin

FONTE 

 

 

Vem à boca

o deus mudo 

das águas

ou o demônio 

que ribomba 

em desforra 

nas ondas. 

 

A língua fluida inclina 

os devaneios do rio 

que se aterram

e se arrebatam

na substância 

colérica, bela, 

e desmoronada

do mar.

 

Correm

entre as duas 

margens imóveis

o homem

e a visível 

solidão.

 

O espaço do fogo

domando o destino 

e a folha escura do mangue

a suspirar 

(no Parnaíba 

ou em algum outro 

jorro d'água insaciável) 

descendo calmamente 

no duelo sangrento

dos elementos

ao sabor do tempo.

 

Eis aqui o silêncio 

em liquidez

e esta dor 

sonorizada

em redemoinho 

com os olhos 

no Atlântico.

 

O interior infinito? 

Tudo não sabido?

Todas as carências

da vida?

 

O sonho de navegar 

no oculto do mundo 

onde o abismo da alma

exalta a vertigem 

e o chão falta 

para a queda

ambígua.

 

 

Poema de Diego Mendes Sousa