FAKENEWS, POLARIZAÇÃO POLÍTICA E OUTRAS MAZELAS BRASILEIRAS E ESTRANGEIRAS
Por Cunha e Silva Filho Em: 07/09/2022, às 00H24
[Cunha e Silva Filho]
Dois economistas brasileiros, Gustavo Franco e Fábio Gambiagi, lançaram um livro, Antologia da maldade II, que reúne declarações de "personalidades e de anônimos" neste Brasil de hoje, palco de divisões, fanatismos, aberrações e animosidades estéreis e sem precedentes tão violentos para a corrida presidencial deste ano.Um dos autores do referida obra, Giambiagi, declarou que " o país se tornou mais incivilizado," o que é uma afirmação correta e reveladora do que atravessa esta nação de dimensões continentais. Contudo, é de se assinalar que os verbetes coletados pelos dois autores, por razões óbvias, remetem mais à fase atual vivida pelo país em tempos bicudos de bolsonarismo, essa espécie de bandeira na contramão da História.
Não li o primeiro volume nem o segundo. Deste apenas li uma reportagem sobre ele publicada por Cássia Almeida no Globo de 20 de agosto do corrente ano. Ligando as pontas da reportagem a outros temas conexos, notadamente vinculados às maldades que tomaram conta do mundo contemporâneo, maldades que não podemos negar que possam ser rastreadas facilmente em tempos brasílicos e bruzundanguenses mais remotos ou menos remotos, porém que indubitavelmente se tornaram mais indesejáveis e perniciosas na atualidade, conforme se podem indiciar pelo título da presente crônica.
Com o vertiginoso surgimento das mídias eletrônicas e do seu poder orwelliano de captar, em tempo real, notícias de acontecimentos e fatos globais houve um recrudescimento de nossa visão e da escalada de embrutecimenentos das ações humanas nunca antes vistas na Galáxia de Gutemberg. São, destarte, informações nacionais e internacionais, com quantidade assustadora de inputs que, se não tivermos o cuidado, o discernimento e a firmeza de saber selecioná-las com critério e prudência, elas nos deixarão atordoados de imagens e dados, de referências e contra-referências, de verdades e mentiras num verdadeiro caos babélico.
No esfera movediça e traiçoeira da política, seja nacional, seja internacional, foi o que se deu com o aumento gigantesco das chamdas fakenews, cujo epicentro histórico foi a vitória infausta e imprevisível do fascista multimilionário Donald Trump e suas ideias segregacionistas em vários aspectos da vida social americana. Foi um candidaato criador de caso desde a sua campanha para presidente Estados Unidos, para usar uma velha expressão inglesa, by hook or by crook, chegando ao ponto de se envolver espúria e nebulosamente, a fim de aniquilar a candidatura de Hillary Clinton, até com um país que se proclama comunista e aliado de comunistas (China) e de ditadores sanguinários (Síria). Sua administração foi pontuada de desmandos, atitudes fascistas e autoritarismos de toda sorte. O seu malogrado governo, exemplo de retrocessos, de nacionalismo patrioteiro, de exclusão, foi, melhor dizendo, um furacão de insânias facciosas que só macularam a imagem de um país democrático não obstante seus erros de potência hegemônica no plano internacional.
Na verdade o conceito de comunista nada tem a ver com os princípios marxistas originais. O que na Rússia se tem é um capitalismo acumulador de milionários autarcas, mas praticado com mão de ferro discricionária, como é exemplo típico o poderio econômico do próprio Vladimir Putin. Na Rússia, o que temos é ditadura mesmo, sem liberdade de imprensa, ou seja, bico calado, prisão para os opositores ou mesmo sumiços ou assassínios, por tiro ou envenenamentos, de adversários políticos. Portanto nada tem a ver com os princípios norteadores do marxismo puro. O mesmo se poderia afirmar da China, da Coreia do Norte, de Cuba, entre outros países, cuja sociedade vive sob o tacão da ditadura.
No Brasil, com a vitória de Jair Bolsonaro nos deparamos, desde o início, com uma nova realidade de péssima e tumultuada gestão, já sinalizada pela escolha de alguns ministros que iriam compor o seu governo caracterizado também por retrocessos em vários aspectos da sua infraestrtura, principalmente na condução do Ministério da Educação, no qual foram substituídos três ou quatro ministros, cada um pior do que o precedente.Assim também, nas escolhas infelizes dos ministros das Relações Exteriores, do Meio-Ambiente, da Cultura. Talvez só escape figura do Ministro da Ciência e Tecnologia.
O super-ministro da Economia foi outro nome lamentável na condução das finanças do país, dolarizador da economia nacional, entreguista, ministro, cuja atuação, prepotente e autoritária, levou o país novamente à escalada de aumentos dos preços de itens fundamentais à sobrevivência dos mais desfavorecidos e mesmo ao endividamento da classe média, culminado tudo isso com a volta da fome. A despeito de todo esse desgoverno do Sr. Guedes, o presidente Bolsonaro o manteve intacto no cargo. Ele formam um par perfeito de prepotência manu militari.
Ora, uma mente de mau banqueiro que serviu à ditadura chilena, não podia resultar senão no desastre e no sofrimento por que passam agora os mais pobres brasileiros com os preços aumentando praticamente todo dia. É maldade demais nesse laissez-faire dos preços subindo sem que o povo, os funcionários federais de níveis baixo ou médio, os chamados barnabés, tenham reajuste. Não o têm há uns dez anos! E ainda exite empresário, como o Abílio Diniz que declarou recentmemente na Folha de São Paulo não estar mal a economia brasileria. Ele pode afirmar isso porque é alto empresário e não sofre as agruras fianceiras de uma família de classe média e sobretudo de uma famíla pobre ou abaixo da linha de pobreza.
Tanto na terra do Tio Sam quanto no "pais do futuro" podemos reconhecer as consequências danosas e maléficas às duas nações. Mesmo para um leigo, porém um leigo que sabe discernir os limites do bem e do mal (sem entrarmos na bisantinice de considerações religiosas maniqueístas), é notória a constatação de que ambos os países experimentaram um descida escabrosa e dantesca de encrencas homéricas a partir da tomada de posse dos dois presidentes, em muitos aspectos bem parecidos quanto às suas personalidades e visões polítco-partidárias. Só que, no caso do brasileiro, o mimetismo e, portanto, servilismo, foi bem evidente, desde a visita de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos com os seus rapapés ao presidente yankee e até algumas outras atitudes intempestivas e estambóticas levando ao trágico-farsesco de, em algumas declarações, revelar ausência de comportamento digno de um líder ou estadista.
Não foram gratuitas as coincidênncias na maneira de adminstrar de ambos posto que entre os dois existem diferenças de metas governamentais. No entanto, o lado antidemocrático de ambos é bem visível, sem se falar de atitudes golpistas e negacionistas no âmbito das ciências. O conservadorismo trumpiano encontrou no bolsonarismo também o seu corolário tupiniquim.
A "América para os americanos" corresponde ao slogan bolsonarista "Pária amada" que, no país, por criativa ironia fonética bem bolada por alguém e em bom tempo, virou "Pátria armada" - uma alusão à tendência belicosa endossada por Bolsanaro de armar a sociedade. Ao nacionalismo deformado e racista do antipático Trump (de resto, ambos fazem questão de serem antipáticos, um pouco mais da parte de Trump) corresponde à grossura do Bolsoanro arrepiante. Agora, me recordo do que o escritor peruano Vargas Llosa comentou, em entrevista, se referindo a Jair Bolsonaro. O escritor disse tratar-se de alguém que faz palhaçadas, embora tenha igualmente afirmado que jamais votaria em Lula para presidente por seus fortes envolvimentos, diretos ou indiretos, com corrupções.
Uma outra possívael coincidência poder-se-ia aventar: as tentativas de Bolsonaro negando lisura na contagem de votos pelo sistema eletrônico, embora já tenha sido eleito por esse mesmo sistema relembrando ainda que o republicano Trump possivelmente, até hoje, nunca aceitou que havia perdido as eleições no confronto com o democrata Joe Biden. No Brasil, logo que se teve notícia e confirmação da vitória de Biden, tivemos da parte do atual vice-presidente, em ligeira entrevista, quando lhe foi perguntado se reconhecia a vitória de Biden, uma atitude reticente. Aliás, demonstrou cautela por não dar ao jornalista uma resposta categórica, ou seja, revelou certa dúvida ou parcialidade, o que, por si só, revela uma atitude nada republicana.
Por outro lado, a questão da polarização foi logo reconhecida como um salto maior para uma divisionismo perigoso ou uma clivagem de correntes acirradamente opostas - lulismo e bolsonarismo -, provocadora, de parte a parte, de fanatismos e intolerância, levando a tragédias já ocorridas entre os dois flancos antagônicos na corrida pelas reeleições. É essa dimensão trágica que atravessa atualmente a arena política nacional.
Uma sociedade cindida pooliticamente, com fanatismos imperando entre os dois adversários não é conveniente a qualquer país que deseja atingir uma grau de amadurecimento civilizatório, não obstante Os Estados Unidos, país super-desenvolvido, terem sido palco de um acontecimento impensável, em tempos atuais, no campo político-institucional: a vexatória e truculenta invasão do Capitólio (vista mundialmente na televisão e por outras mídias ) por seguidores fanáticos do trumpismo e com vítimas fatais, estimulados pelo nefasto Donald Trump, hoje sendo investigado pelo governo federal em razão da sua tentativa de desestabilizar os pilares da democracia americana e se configuar como um verdadeiro atentado contra o Estado Democrático de Direito.
Oxalá seja punido duramente pelas leis americanas, tanto no Congresso quanto na Corte Americna e seja considerado inelegível sine die. Quer dizer, um exemplo flagrante de um mandatário sem as mínimas condições morais e competência de adminstrar uma nação como os EUA. Um anti-estadista, um fascista, por conseguinte, que deu o pior exemplo de como não se comportar como chefe de governo de uma grande nação. Sem respeitar as normas constitucionais de seu país, procurou os meios mais aleivosos para provocar desordens institucionais e macular a imagem da política americana no concerto das nações democráticas.
Espero que não ocorram outras coincidências similares ao trumpismo quando nossas próximas eleições presidenciais se realizarem em outubro próximo. Que os resultados das eleições sejam obedecidos e cumpridos em consonância com a legislação eleitoral vigente e não como ocorreu no já mencionado desatroso evento da invasão do Capitólio americano. Não mais estamos aqui no Brasil e em outro países democráticos em épocas de caudilhismos e de golpismos inconstitucionais. A vitória de um pleito deve ser garantida por todos os meios legais. Não somos mais uma nação ainda em fase de regimes ditatoriais como na Rússia de Putin e em outras nações mundiais.
A humanidade necessita de democracias consolidadas e não de guerras inúteis e destrutivas de soberanias alheias. Devemos, sim, superar o conservadorismo já caduco e substituí-lo pela conservação e manutenção de nossa democracia. Não mais quarteladas e inclinações a regimes autoritários. Quando lemos notícias, por exemplo, que já se divulgaram na imprensa mundial sobre uma possível guerra civil nos EUA, isso me parece uma ideia tresloucada a ser execrada pela sociedade contemporânea, não só a americana como em quaisquer países do mundo. As nações amadurecidas devem lutar para a conquista da democracia e pela escolha de governantes competentes, éticos e amigos de seu povo.