Exame de Próstata no Matuto*

Gisleno Feitosa

Coisa errada acontecia:

Eu mijando enviesado.

Cuma dizê pra Maria?

Matutei, desconfiado.

 

Ah! meu cumpade foi fogo.

Aperrei do satanás:

O pinto tando com gogo

E a xana correndo atrás.

 

Mas deixando de lorota,

Vamos direto pro caso:

Pingava mais na lajota

Que pingo dentro do vaso.

 

Se eu mijava no capim,

Era tudo diferente:

O mijo caía em mim,

Raramente ia pra frente.

 

O pensamento mandava;

A bicha num obedecia.

Muitas vezes eu chorava

Quando a bexiga enchia.

 

Doía até nos cabelos

Que iam se arrepiando.

Bebia que nem camelo

Mas mijar, só gotejando.

 

Urinava à prestação,

Numa vertida marota:

No banheiro, a precisão,

Era uma atrás da outra.

 

Depois de comer tampado

E de sentir tanta dor

Me senti encorajado

De procurar um doutor.

 

Só faria um pedido:

Aliviar o sofrimento.

Que me desse um comprimido

Ou me passasse um ungüento.

 

Mas moço, foi um vexame,

Depois de tanta agonia.

Era um montão de exame:

Sangue, urina, ecografia.

 

Com uma sonda no “bico”

Mandaram me ajoelhar

E urinar num penico

Pru mode num derramar.

 

Depois de tanta desfeita

E de tanta humilhação

Pensei sair c’a receita

Na palma da minha mão.

 

Mas tava muito enganado

E tomei até um choque

Quando ouvi encabulado

Que ia passar por um “toque”.

 

Minha cabeça num entendia,

Era grande o meu dilema:

Pra que mexer noutra via

Se é na piroca o problema?

 

Assuntei c’a minha mulher

E fui mudando meus planos.

Mas matuto nenhum quer

Ser futricado no ânus.

 

Relutei o mais que pude

Envergonhado e covarde.

Mas se é pro bem da saúde

Fazer o que, meu cumpade?

 

Digo com toda a verdade,

Que desse exame nojento,

Nunca vou sentir saudade

Um só tiquim de momento.

 

Mas, cá pra nós, meu amigo,

Ainda tive foi sorte.

Pru mode o exame tou vivo.

Melhor que a melhor morte.

 

O cabra tem que ter peito.

Botar a vergonha de lado

Enfrentar o preconceito

E viver desvirginado.

 

Esta trova é advertência

Aquele que não se importa

E não toma consciência

Que o câncer lhe bate à porta.

 *Baseado no poema “Dedo Bandido” de Mano Lima, nome artístico de Mário Rubens Battanoli de Lima (Itaqui, 26 de agosto de 1953) é um cantor brasileiro. Grande filósofo gaúcho adepto do ruralismo desmedido.

**Gisleno Feitosa é ginecologista.

"O Câncer da próstata tem cura e a cura depende do diagnóstico precoce".

O objetivo deste poema é sensibilizar e conscientizar os homens da importância do exame de próstata, que ainda é visto com preconceito por grande parte da população masculina.