(Miguel Carqueija)

Termina aqui a dramática história de Faisão Verde e sua luta pela liberdade.

 

EPÍLOGO

O FUTURO CHEGOU


        Lorne tinha acabado de assinar um decreto que criava a Rede de Restaurantes Populares (que serviriam refeições pela metade do preço habitual, como recurso de emergência para atenuar o terrível custo de vida) quando a lâmpada de seu videofone acendeu, acompanhada pelo apito característico. Lorne teclou e a ligação se completou. Apareceu a figura conhecida de Hermelinda:
        — Presidente, o Ministro da Defesa e sua esposa já chegaram e pedem para ser recebidos.
       — Claro, claro. Mande-os entrar sem demora.
       Logo a porta se abriu e Riní, de mãos dadas com Lena, se aproximou. Ambos sorriam. Lorne levantou-se para cumprimentá-los calorosamente e em seguida indicou-lhes poltronas em frente à escrivaninha.
        — Bem, bem. O que é que os amigos vão tomar?
        — Um mate gelado estaria bem para mim. E você?
        — No dia em que eu pedir o mesmo que ela, Lorne, pode me demitir. Um xerez dos bons, se puder...
        — É claro que pode. Vou até lhe acompanhar.
        Depois que o robô (agora, só eram admitidos robôs construídos segundo as leis de Asimov) trouxe as bebidas e se retirou, Lorne iniciou a conversa:
        — Às vezes, sabem, eu ainda sinto a falta de tantos amigos que morreram na guerra... como o velho e bom Tousand, por exemplo.
        Lena, recostada na poltrona, observou:
        — Diga logo quase todos, Lorne. Como há tempos eu perdi meu pai nas mãos daquela gente, já estava de certa forma vacinada...
        — Lena, talvez seja melhor cicatrizarmos todas as nossas feridas... eu também perdi tanta gente... — observou Riní.
        — É verdade que eles também pagaram caro... — acrescentou Lorne.
        Realmente, a cúpula do governo iconoclasta morrera com o desabamento do ominoso Triângulo. Saturnino, Iantok, Helena, Marte, até o terrível Ipuwer haviam perecido. Todos os corpos puderam ser identificados. Lena e seus amigos escaparam, já que o aposento de controle achava-se super-energizado e isolado, tendo permanecido incólume após a espatifação do castelo, de modo que a grande perda foi para a Arqueologia. Foram necessárias horas para que uma tinta de normalidade retornasse a Gloria, mas a queda do Triângulo resultara em que as forças regulares, na sua maior parte, tinham aderido à rebelião, com o apoio da população sublevada e o que restou das brigadas rebeldes, dizimadas em 90%.
        A terrível Arma do Poder fôra aniquilada e, graças a Deus, ninguém sabia como reconstruí-la.
        Lena, heroína nacional, era agora uma pacata escritora, além de dona de casa. Pretendia ter muitos filhos.
        — Às vezes eu penso — disse Lorne — o Faisão Verde encerrou mesmo sua carreira para sempre?
      — Creio que, se ele voltasse, eu ganharia meus primeiros cabelos brancos — objetou Riní.
        LENA (rindo) — Faltando um motivo, eu realmente não vejo por que voltar... quem sabe um dia? Rita às vezes diz que sente saudades daquele tempo.
        Lorne comentou:
        — Estou lendo seu último livro. É bom saber que você faz sucesso nesse ideal... que é tão difícil. Mas é pena que não tenha acompanhado Rita...
        A amiga de Lena era a pessoa mais nova do gabinete. Era Ministra da Infância. O governo do Presidente Lorne Hurne (eleito oito meses atrás, por sufrágio universal) dedicava atenção especial às crianças, tendo proibido rigorosamente o abortamento, além de possibilitar, após tantos anos de proibição, o ensino do catecismo. Já não existiam padres, pastores e rabinos secretos.
        Lena respondeu à observação de Lorne:
        — Eu sempre quis manter minha independência, desde a rebelião. Por isso preferi continuar de fora... assim, um dia, meu caro Lorne, no futuro, se as forças do mal voltarem a dominar o nosso país...
        Fez uma pausa de pontuação dramática e concluiu, grandiosa:
        — O Faisão Verde retornará.



FIM