Emílio Moura (1902-1971)
Por Dilson Lages Monteiro (org.) Em: 01/03/2013, às 19H55
A fábrica do poeta
Fabrico uma esperança
como quem apaga
algo sujo num muro,
e ali, rápido, escreve:
Futuro.
Fabrico uma pureza
tão menina,
tão cristal e tão fonte
que, de repente,
É meu todo o horizonte.
Fabrico uma alegria
que é de ver as coisas
como se só agora
é que nascesse
a aurora.
Fabrico uma certeza
exata
para cada instante.
A vida não está atrás,
Mas adiante.
Fabrico com o que tiro
de mim mesmo e do mundo
meu dia.
E ao que, em síntese, sou
junto o que queria.
Fabrico uma hora densa,
como quem te descobre.
Ah, quem diria
que essa hora imensa
já é poesia?