[Flávio Bittencourt]

Eduardo Torres escreve sobre três Solaris

O presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica brasileiro escreve sobre livro e filmes Solaris.

 

 

 

  

 

 

 

 

"(...) Se Solaris pode ler 100% de nossa atividade mental, ele nos conhece melhor que nós mesmos. (...)".

EDUARDO TORRES

 

 

 

 

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"(...) Diz Kelvin [Dr. Kris Kelvin, psicólogo: personagem de Solaris, primeiro dos dois filmes (o soviético, a partir do romance polonês)]: “O sentido da vida e outros temas eternos pouco preocupam um homem feliz. Estes problemas só o preocupam no fim da vida. Mas ninguém sabe quando chega o fim. Por isso, estamos sempre com pressa.” (...)

(http://www.telacritica.org/solaris_tarkovski.htm)

 

 

 

 

"(...) A civilização do progresso científico-tecnológico, a civilização do capital, é uma civilização da infelicidade universal. É a civilização da pressa universal. Como disse Saint-Exupéry, 'os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma'. (...)"

GIOVANNI ALVES,

http://www.telacritica.org/solaris_tarkovski.htm)

 

 

 

 

"(...) Com toda a franqueza e convicção sugiro que cada um pense seriamente neste facto sempre que se trate de menosprezar autores como Brian Aldiss ou Doris Lessing ou cineastas como Andrei Tarkovski ("Solaris") ou David Cronenberg ("ExistenZ" mas sobretudo "Spider" que é inquietantemente beckettiano e, como filme, simplesmente genial). (...)".

(CARLOS MACHADO [AUTOR PORTUGUÊS], artigo adiante transcrito na íntegra, como ocorre com o texto do qual fazem parte os dois trecho de Giovanni Alves, acima transcritos, artigo esse fartamente ilustrado, aliás) 

 

 

 

 

"3836 Lem [ASTERÓIDE,

de acordo com o verbete

concernente, Wikipédia]

 

Lem
Número 3836
Data da descoberta 22 de Setembro de 1979
Categoria Cintura principal
Elementos orbitais
Perélio 1,9104407 UA
Afélio 2,5663695 UA
Excentricidade 0,146517
Período orbital 1 223,21 d (3,35 a)
Velocidade orbital 19,90780689 km/s
Inclinação 2,03854º

 

Lem (asteróide 3836) é um asteróide da cintura principal, a 1,9104407 UA. Possui uma excentricidade de 0,146517 e um período orbital de 1 223,21 dias (3,35 anos).

Lem tem uma velocidade orbital média de 19,90780689 km/s e uma inclinação de 2,03854º.

Este asteróide foi descoberto em 22 de Setembro de 1979 por Nikolai Chernykh".

(http://pt.wikipedia.org/wiki/3836_Lem)

 

 

 

 

 

"(...) Um planeta menor descoberto pelo astrônomo russo Nikolai Stepanovich Chernykh em 1979 recebe seu nome, 3836 Lem (...)".

(VERBETE - versão em língua portuguesa -

SOBRE O DR. LEM, WIKIPÉDIA,

http://pt.wikipedia.org/wiki/Stanis%C5%82aw_Lem)

 

 

 

 

"Stanisław Lem
Stanisław Lem


 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

Stanisław Lem em 1966

Nascimento 12 de Setembro de 1921
Lviv, Polônia (atual Ucrânia)
Morte 27 de março de 2006 (84 anos)
Cracóvia, Polônia
Nacionalidade Polonês
Ocupação Escritor
Gênero literário Ficção Científica, filosofia, sátira, poesia"

 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Stanis%C5%82aw_Lem)

 

 

 

 

"(...) Prêmios e louvores [RECEBIDOS PELO DR. S. LEM]

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Stanis%C5%82aw_Lem)

 

 

 

 

 

"ESCÃNDALO MUNDIAL: O DR. LEM JAMAIS FOI AGRACIADO COM O

PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA:

PIOR PARA ELE, O PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA"

(COLUNA "Recontando...")

 

 

 

 

 

Rubén Díaz de Corcuera: "SOLARIS VARIATIONS" 

 

 Solaris planet view by Rubén Díaz de Corcuera.
Solaris planet view by Rubén Díaz de Corcuera.

 

 

 

 


 

 

Frame of Solaris video painting.

Painting extracted from Solaris.

 

 

 

 

 

Texture example.
Texture example.

 

(http://www.lasuitekali.info/solarisvariations/index.htm)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.fantasticfiction.co.uk/l/stanislaw-lem/solaris.htm)

 

 

 

 

 

 

 

"UM SOLARIS É POUCO, DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS"

[COLUNA"Recontando estórias do domínio público", que é

FANÁTICA pelo romance (DE 1961) do Dr. Stanislaw Lem, ADMIRADORA

COM ALGUMAS POUCAS "RESERVAS" (o final é diferente do estupendo

fecho poético do romance de Lem) DO DESCONFORTÁVEL E

PERTURBADOR FILME - artístico - PRIMEIRO e um tanto "ESTRANHANTE"

relativamente ao - COMERCIAL, MAS NÃO MENOS PETURBADOR (AFINAL, SEU TÍTULO

TAMBÉM É... Solaris!) - segundo filme (EUA, 2002), que parece que ficou sobrando

um pouco nessa "estória do domínio público", salvo preconceito anti-hollywoodiano

nosso, o que ABSOLUTAMENTE NÃO CORRESPONDE ÀS CONCLUSÕES QUE O

ESCRITOR E PESQUISADOR EDUARDO TORRES DEIXA REGISTRADAS NO EXCELENTE

ARTIGO ADIANTE - com a sua autorização (uma vez que ainda não caiu no domínio público) -

TRANSCRITO, conclusões que reconhecem a superioridade artística do PRIMEIRO

FILME SOLARIS, RELATIVAMENTE AO SEGUNDO, mas são favoráveis, como PRODUTO

DE FC (matéria inteiramente dominada por Eduardo Torres, aliás), ao filme Solaris, de 2002,

norte-americano, que é, até agora, o último: modestamente, imagina-se que vários outros virão,

a propósito!]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.zamandayolculuk.com/cetinbal/HTMLdosya2/Kutuphanem.htm)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SOLARIS, o primeiro filme (URSS, 1972):

FILME PRODUZIDO NA UNIÃO SOVIÉTICA A PARTIR

DO ROMANCE DO IMORTAL DR. STANISLAW LEM

(escritor polonês nascido em 1921 e falecido, infelizmente,

em 2006,

http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-151938139-dvd-solaris-de-andrei-tarkovski-ver-outros-frete-gratis-_JM)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O ATOR COMPETENTE - e, segundo muitas mulheres, bonito -, 

ESTADUNIDENSE, GEORGE CLOONEY EM PLENA ATUAÇÃO NA VERSÃO

DE 2002 (EUA) DE SOLARIS: inquietante, mas MENOS inquietante do que

O FILME DIRIGIDO POR TARKOVSKI, CUJO FINAL É TREMENDAMENTE ASSUSTADOR

(para tentar superar, em clima de "guerrilha fria cultural", 2001, uma odisséia no espaço

(SEM A LEGENDA LIIDA LOGO ACIMA, a foto de G. Clooney trabalhando

nas filmagens de SOLARIS-DE-2002 está, na web, em:

http://movies.yahoo.com/movie/1808411942/photo/441026,

onde se pode ler:

"George Clooney in 20th Century Fox's Solaris")

 

 

 

 

 

 

 

 

              QUANDO SE REVERENCIA A MEMÓRIA DO GRANDE ESCRITOR POLONÊS

              STANISLAW LEM (1921 - 2006) E SE AGRADECE A EDUARDO TORRES

              POR MAIS UM ARTIGO POR MEIO DO QUAL MUITO SE APRENDE A

              RESPEITO DE UM ASSUNTO AQUI CONSIDERADO DE GRANDE

              IMPORTÂNCIA, NÃO APENAS LITERÁRIA, CINEMATOGRÁFICA E FILOSÓFICA,

              MAS, TAMBÉM, PSICOLÓGICA E - pode-se afirmar - PARAPSICOLÓGICA

 

 

 

 

9.11.2010 (Brasília) - Não conheço um texto de Eduardo Torres que não seja muito informativo e altamente explicativo - Percebe-se que a inteligência dele é privilegiada e é uma honra para o responsável por este espaço de discussões civilizadas sobre produtos culturais de nosso tempo contar com a sua autorização para a divulgação de alguns de seus artigos (*)  na Coluna "Recontando estórias do domínio público". COMO SE NÃO BASTASSE TANTO PRIVILÉGIO, A VERDADE É QUE EU PEDI TEXTO PARA ELE... e ele, da cidade do Rio de Janeiro-RJ, Brasil, mo mandou. Não acho que isso seja pouca coisa - e fico orgulhoso com a feliz circunstância, cujo resultado proveitoso, SEM MATERIALIZAÇÕES DE PENSAMENTOS ESTRANHOS (além das "cristalizações" semiótico-textuais de praxe [ILUSTRAÇÕES OPORTUNÍSTICAS-CONTUDO-ÉTICAS "no meio disso aí..."], que são apenas um pouco diferentes das normas do jornalismo cultural dito conservador), passo a compartilhar, com muita alegria, com os estimados leitores deste portal Entre-textos!   F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

(*) - OUTRO ARTIGO DE EDUARDO TORRES, aqui divulgado, PODE SER ACESSADO, DESDE QUE SE VENHA A clicar NO SEGUINTE LINK:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/biologia-na-ficcao-cientifica,236,3434.html

("BIOLOGIA NA FICÇÃO CIENTÍFICA")

 

 

 

Advertência do autor do artigo: "(...) [O artigo] Não está hoje disponivel em lugar nenhum na net.  Autorizo a sua publicação exclusivamente no Portal ENTRE-TEXTOS, registrada a autoria e indicado meu e-mail de contato, permitido o download exclusivamente para uso pessoal sem fins comerciais" (Eduardo Torres, em 8.11.2010). [E-mail de Eduardo Torres: [email protected]

 

 

 

 

"Solaris: O livro e os filmes
 
 
 
Eduardo Torres
 
 
O homem partiu à descoberta de outros mundos, de outras civilizações, sem ter inteiramente explorado seus próprios abismos, seu labirinto de corredores escuros e câmaras secretas.
-Solaris, o livro
 
O Homem foi criado pela Natureza para explorá-la. Quando alcança a Verdade, está fadado ao Conhecimento. Todo o resto é besteira.
-Solaris, o filme
 
-Quem sou eu então? -Uma marionete. - E você não é? Ou talvez você seja minha marionete. Mas como todas as marionetes, você pensa que é realmente humano. Esse é o sonho de todas as marionetes.
-Solaris, a refilmagem
 
 
Versões literárias e cinematográficas de uma mesma obra de ficção científica em geral são conflitantes, com infindáveis debates sobre a possível perda da essência do livro em sua transposição para a tela e a eventual necessidade de se mudar a história devido às grandes diferenças entre os dois meios.
 
Em poucas ocasiões a divulgação de um trabalho de ficção científica nesses dois formatos adquire características de sinergia, onde o somatório das duas formas excede a soma de cada uma delas isoladamente.
 
Resgatando três raros exemplos em que isso ocorreu, ‘2001, Uma Odisséia no Espaco’ de 1968 seria o mais famoso e, nesse caso, o romance de Arthur C. Clarke, publicado pouco antes do lançamento do filme, sequer existiria se não fosse o roteiro escrito a quatro mãos por Clarke e Stanley Kubrick, no qual se baseou (e com participação significativa das idéias desse último, como honestamente reconheceu Sir Arthur em ‘Mundos Perdidos de 2001’). O segundo seria ‘Blade Runner’ de 1982, o hoje cult-movie de Ridley Scott, baseado no romance ‘Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas?’ de 1968, que fez uma vasta legião de leitores (re)descobrirem Philip K. Dick, talvez o mais filmado autor de FC de todos os tempos. Além disso, para muitos críticos e leitores/espectadores (entre os quais me incluo), esse seria um dos poucos filmes de FC que superaram os livros em que se basearam.
 
O terceiro seria ‘Solaris’.
 
Stanislaw Lem, que viria a falecer de complicações cardíacas em Cracóvia em 2006, tinha 40 anos quando escreveu e publicou ‘Solaris’ em 1961 na sua Polônia natal. Na época já era um escritor conhecido em seu país, embora tivesse se formado em medicina e trabalhado numa instituição estatal de pesquisa, escrevendo seus primeiros livros nas horas vagas. Sua visão pessimista da humanidade freqüentemente lhe trouxe problemas com o governo socialista, mas conseguiu se firmar como um dos mais famosos escritores de ficção científica do então Segundo Mundo, pois teve suas obras logo traduzidas para o russo e diversas línguas dos países sob a órbita política da antiga União Soviética.
 
Mas permanecia pouco conhecido no Ocidente, até que chegaram as notícias no início dos anos 70 de que o já prestigiado cineasta russo Andrei Tarkovsky estava dirigindo um filme de ficção científica que seria a ‘resposta soviética a ‘2001’’, baseado num livro de um certo escritor polonês.
 
Só a partir de então é que, pela primeira vez, Lem foi traduzido para o inglês, com uma pioneira edição britânica de ‘Solaris’ em 1970. Embora houvesse uma edição francesa anterior (na qual se baseou o texto em inglês), só a partir dessa publicação ‘Solaris’ e Lem passaram a ter repercussão entre leitores e editores anglofônicos de FC, que dominavam (como ainda dominam) o mercado mundial do gênero.
 
E como o Brasil na época estava bem mais antenado do que hoje com a ficção científica internacional, logo no ano seguinte, em 1971, era publicada em nosso país a primeira tradução do mundo de ‘Solaris’ em português, pela Editora Sabiá, em texto vertido pelo famoso (segundo alguns, pela qualidade dos textos, infame) José Sanz.
 
Em 1974, quando do lançamento do filme ‘Solaris’ de Tarkovsky no Brasil, os exemplares encalhados da edição de 1971 voltaram em massa às livrarias e rapidamente se esgotaram. Eu, na época adolescente e ávido leitor de FC, tive o privilégio de ser um desses felizes compradores e até hoje guardo carinhosamente meu exemplar, já com as bordas das páginas amareladas (uma segunda publicação brasileira só surgiria treze anos depois, em 1984, pela Editora Francisco Alves, em seqüência à primeira edição lusa de 1983 pela Editora Europa-América).
 
Essa foi uma das grandes sinergias que o filme ‘Solaris’ de 1972 ocasionou em sua associação com o livro homônimo escrito nove anos antes. Lem criou uma história instigante para o filme e o filme tornou Lem e sua obra conhecidos em todo o mundo. A outra foi que as duas obras se complementaram muito bem, a ponto de, na memória intelectual de muitos leitores/espectadores (entre os quais me incluo mais uma vez), ‘Solaris’ ser como um ‘continuum’ entre as duas mídias.
 
Trinta anos depois, em 2002, uma refilmagem do agora clássico (segundo alguns, cult) filme de Tarkovsky, produzida por James (Titanic) Cameron e dirigida por Steven (Erin Brockovich) Soderberg reacendeu o interesse por essa vigorosa obra de FC.
 
Os dois filmes ‘Solaris’ são bem diferentes entre si, mas, cada um a seu modo, são fiéis à letra e ao espírito do romance, embora sem subserviência estéril ao texto, e sim recriando-o num outro meio de comunicação que tem linguagem própria, e até ousando criativamente nas cores vindas da paleta de Lem.
 
‘Solaris’, o livro, tem como cenário uma estação espacial em órbita de um planeta distante. O planeta Solaris é um grande oceano, que é estudado há quase cem anos, e que se comporta como se fosse um único gigantesco ser. Inteligente? Consciente? Apenas uma grande complexidade orgânica? A Solarística (especialidade científica criada em torno da busca para compreender Solaris) ainda não sabe. Pior: Todo o conhecimento acumulado em décadas não parece ter permitido qualquer avanço em decifrar o enigma de Solaris desde o dia de sua primeira descoberta. O místico ‘Contato’, o coroamento final da Solarística, é um sonho cada vez mais distante. A Estação Solaris agora só é ocupada por três cientistas, mas a comunidade solarista hesita em fechá-la definitivamente. Seria o reconhecimento do seu fracasso. Um psicólogo é enviado da Terra para uma inspeção.
 
Esse é o cenário onde se desenrola o drama criado por Lem. Kris Kelvin, o psicólogo, logo percebe o motivo do comportamento estranho dos cientistas, um dos quais, seu amigo Gibarian, se suicidou poucos dias antes de sua chegada: ‘Visitantes’ aparecem para cada um deles, inclusive Kris. São exatamente como as imagens dessas pessoas estão nas mentes dos cientistas. E essas ‘visitas’ desencadeiam um turbilhão de emoções e angústias.
 
Uma das coisas mais impressionantes no livro ‘Solaris’ é como Lem cria uma sensação de maravilhamento ao tecer de modo arrepiantemente verossímil a Solarística, a ‘geografia’ de Solaris, e a estrutura física dos ‘visitantes’. As prolixas referências às obras científicas da Solarística (que ressoam as resenhas de livros imaginários feitas por Jorge Luis Borges), tão criticadas por alguns leitores menos habituados à FC de maior densidade, são justamente o rito de passagem ao universo criado por Lem. As ‘digressões’ de Lem têm ainda a função de ditar o ritmo da leitura, fazendo-nos equilibrar pausas meditativas com momentos de ação e tensão. A descoberta de que Harey, a cópia da ex-mulher de Kris, era na verdade formada por neutrinos organizados de modo a imitarem exatamente a estrutura molecular de um ser humano é assustadora, pois implicava que Solaris podia duplicar corpo e mente humanos de modo que nós próprios somos incapazes. Ainda hoje me arrepio quando leio esse trecho.
 
No entanto, o próprio Lem, na voz de Snaut, mostra como nem isso seria um verdadeiro ‘Contato’, ao lembrar que, mesmo se pudéssemos recriar tecnologicamente de modo perfeito as complexas formas sintetizadas pelo oceano, isso não implicaria que compreendêssemos sua verdadeira natureza.
 
A leitura da edição brasileira de ‘Solaris’ tem alguns solavancos devido à tradução algo confusa de Sanz. Algumas passagens parecem nitidamente truncadas e até meio incompreensíveis, mas com boa vontade e uma versão em inglês ao lado, podemos minimizar os problemas.
 
‘Solaris’, em suma, provoca o leitor a refletir sobre o fato de que no fundo não procuramos novos mundos, mas sim espelhos do nosso. Convida-nos a pensar que a verdadeira busca do conhecimento é tentar conhecer verdadeiramente a nós próprios. A idéia central de ‘Solaris’ é que dentro de cada homem há um oceano de complexidades muito maior que o próprio Solaris, e que mais desconhecido que o ser-oceano é o próprio Homem.
 
O filme ‘Solaris’ de Tarkovsky recria de modo inspirado a história de Lem. Diferente do livro, dedica uma longa introdução para situar melhor no espectador a missão de Kelvin, de modo a obter uma sensação de suspense desde antes de sua chegada à estação. O ritmo da ‘leitura’ no filme é obtido não pelas detalhadas descrições sobre Solaris, inviáveis nesse meio, mas pelas longas tomadas, pela montagem e, principalmente, pela música de Bach (nesse ponto numa inspiração artística semelhante à de Kubrick em ‘2001’). Logo no início há uma polêmica longa seqüência de um carro percorrendo autopistas ao entardecer até que a noite sobrevém, mas essas cenas parecem ter a mesma função das descrições detalhadas de Lem no livro: Dirigir nosso ritmo de ‘apreciação’ como um competente maestro. E, ao apreciar a cena final dessa seqüência, vista do alto à noite, de um emaranhado de pistas se entrecruzando e com milhares de carros correndo por elas como glóbulos vermelhos em artérias, temos a sensação de que todo o conjunto tem vida própria, como correntes de um grande oceano, fazendo-nos pensar em perturbadoras analogias com o oceano vivo com o qual em breve nos depararíamos.
 
Tarkovsky concluiu a direção de ‘Solaris’ exatamente com a mesma idade em que Lem terminou o livro. Na época o diretor já tinha prestígio fora da União Soviética, desde que ganhou o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza em 1962 com ‘A Infância de Ivan’.
 
Em ‘Solaris’, o roteiro de Tarkovsky e Fridick Gorenshtein cria uma interessante ligação entre a seqüência inicial do filme, com Kris à margem do lago da casa do seu velho pai, às cenas finais do protagonista na mesma casa e mesmo lago, dessa vez recriados na superfície de Solaris, como uma nova etapa de uma experiência cósmica que ecoa o monolito de ‘2001’. Nesse ponto creio que foi um final mais rico que o próprio livro em termos de caminhos abertos à reflexão do leitor/espectador.
 
Muitos diálogos do filme reproduzem os do livro, mas em diferentes personagens, o que também é instigante.
 
Em termos de efeitos especiais, no entanto, o filme foi bem mais fraco que ‘2001’, que se propunha a ‘responder’. Tem uma cena de falta de gravidade na estação muito bonita, e que serviu como contraponto entre duas fases importantes no relacionamento dos cientistas com os ‘visitantes’, mas que tinha erros primários, como velas com chamas verticais e os cabelos de Harey caindo para baixo sob a ação de seu peso.
 
Tarkovsky morreu de câncer em Paris em 1986. Embora ‘Solaris’ tenha sido sua obra mais famosa, o cineasta sempre dizia que não era sua favorita.
 
Tanto ‘Solaris’, o livro, como ‘Solaris’, o filme de Tarkovsky, nos fazem pensar nos abismos que temos dentro de nós mesmos, ainda mais perturbadores que as profundezas de Solaris, e os dois têm momentos sublimes de fascínio, embora não focados nas mesmas seqüências, o que, como disse, enriqueceu as duas obras.
 
Já ‘Solaris’ de Soderbergh situa a narrativa numa estação de propriedade de uma empresa privada (numa polêmica ‘atualização globalizada’ da exploração espacial), sem envolver o espectador na longa história científica da Solarística. E muda o frio e cínico Sartorius para uma física negra mais sanguínea chamada Gordon, mas que mantém em linhas gerais a personalidade original do protagonista. Snaut agora é Snow e a Harey do livro em polonês (que virou Hari em russo no primeiro filme) agora é Rheya.
 
O roteiro de Soderbergh privilegia a história de Kris (agora Chris), Rheya e Gibarian antes de sua viagem à estação, numa recriação ousada do texto original de Lem, mas que funciona muito bem. Nessas seqüências em flash back, o diretor optou por uma brilhante iluminação amarela que contrastava com os tons azuis metálicos e escuros das cenas na Estação Solaris. A música do filme (especialmente composta, diferente da opção de Tarkowsky) impressiona e serve também como agente dramático do filme. Nessa versão, a angústia e desconcerto com os ‘visitantes’ são centrados, muito mais que nas outras duas versões, nas relações emocionais e amorosas entre Chris e Rheya. Mas creio que essas opções do roteiro não fizeram injustiça à essência da história e às idéias originais de Lem, apenas as mostraram por novo ângulo, igualmente rico.
 
É interessante observar que, apesar dos comentários cáusticos da crítica na época da produção de que seria uma obra muito mais comercial que artística, a refilmagem de Soderbergh foi muito mais baseada no livro de Lem que no filme de Tarkovsky, com até mais diálogos do romance original reproduzidos ‘verbatim’ que na primeira versão cinematográfica (e, como nela, também com interessantes inversões das falas entre os personagens).
 
Em termos de ritmo, o filme de Soderbergh é bem diferente do livro e do primeiro filme, com as seqüências de ação e diálogos se sucedendo praticamente sem nenhuma pausa meditativa, exceto os curtos, mas belos planos gerais de Solaris criados por computação gráfica, que servem como marcadores da entrada de cada nova fase da história.
 
O aspecto ‘hard’ dos dois filmes é, propositalmente, menos cuidado que no livro, mas na versão de Soderbergh é relegado a plano mais que secundário, exceto nas cápsulas de ejeção dos ‘visitantes’, que no filme de 2002 parecem mais verossímeis que no livro e na película de 1972, onde temos foguetes com chamas lançados do interior da estação. (Aliás, essas cenas de ‘divórcio’ estão presentes nas três obras, e são tão perturbadoras para Kris/Chris quanto para o leitor/espectador). Em termos de explicação sobre a constituição física dos ‘visitantes’ e do seu aniquilamento, foi o mais fraco dos três.
 
No entanto, a rica ousadia da versão de 2002 prossegue quando o espectador descobre que o Snow que conhecemos não é o ‘original’, mas também uma criação de Solaris. Esse ‘passo além’ não foi pensado (ou pelo menos mostrado) por Lem, mas parece uma conseqüência natural, abrindo novos e angustiantes questionamentos sobre a natureza humana, dentro do espírito da história original, e até ampliando seu alcance.
 
O final do filme de Soderbergh também inova criativamente em relação a Lem e a Tarkovsky. Nessa versão Chris reencontra Rheya de modo mais definitivo (de novo, sugestivamente, num ambiente amarelo brilhante), ao permanecer na estação em sua queda em direção a Solaris, atraída inexoravelmente pelo oceano. Fica uma possível leitura de continuidade da ‘experiência’ em um nível mais profundo, como no primeiro filme, ou um presente de Solaris, como insinuado no romance sobre o verdadeiro objetivo dos ‘visitantes’. Soderbergh mostra ainda uma tocante cena do ‘visitante’ menino, filho de Gibarian, estendendo o braço para um Chris jogado ao chão, confuso com o colapso da estação, criando uma bela alegoria do ‘Contato’ longamente sonhado pelos solaristas de Lem.
 
E, como uma possível interpretação ainda mais rica, creio que Soderbergh deixa em aberto para o espectador a possibilidade de Chris ter efetivamente embarcado na ‘Athena’ e deixado com Gordon a estação a caminho da Terra (pois as etapas de lançamento confirmadas por Gordon com Chris a bordo pareciam ser irreversíveis e impeditivas de um abandono repentino da nave).
 
Nesse caso, o Chris que vimos deixar a ala de embarque não seria o original, mas uma cópia criada por Solaris (interpretação reforçada pela seqüência de volta à Terra de Chris mostrada logo após as confirmações das etapas de lançamento anunciadas por Gordon).
 
Assim, a cena final de Chris e Rheya seria inteiramente uma recriação de Solaris, aprofundando o ‘Contato’ com a observação do relacionamento íntimo de seres criados exclusivamente de memórias humanas, mas que seriam tão humanos quanto os originais. Talvez até mais, pois, nas palavras de Snaut no romance, apenas 2% de nossa atividade mental é consciente. Se Solaris pode ler 100% de nossa atividade mental, ele nos conhece melhor que nós mesmos.
 
Creio que, se esteticamente o ‘Solaris’ de Tarkovisky pode ser considerado superior ao de Soderbergh, este último foi no mínimo do mesmo nível em termos de ficção científica, ousadia criativa e respeito ao cerne do romance.
 
Os leitores de ‘Solaris’ podem se beneficiar dos dois para ampliar o alcance e a reflexão propostos no livro, e ainda manter o exclusivo prazer de imaginar livremente em suas mentes o poético trecho, não reproduzido em qualquer dos filmes, em que Lem descreve o primeiro contato direto de Kris com o oceano vivo, quando, ao estender seu braço, uma das ondas de Solaris hesita, recua, e depois envolve sua mão enluvada, sem no entanto tocá-la.
 
‘Solaris’, o livro e os filmes, representam um tour de force imaginativo com o que há de melhor na ficção científica: Têm a capacidade de nos fazer pensar com novos paradigmas num mundo possível, mas inteiramente diferente do nosso. E, dessa posição vantajosa, nos permitir olhar mais penetrantemente para nós mesmos.
 
Fichas Ténicas:
 
O livro:
 
Primeira edição em português:
 
‘Solaris’, Stanislaw Lem, tradução (do inglês) de José Sanz, Coleção Asteróide, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, GB, dezembro de 1971
 
Primeira edição em inglês:
 
‘Solaris’, Stanislaw Lem, tradução (do francês) de Joanna Kilmartin e Steve Cox, Editora Faber, Londres, junho de 1970
 
Primeira edição em polonês:
 
‘Solaris’, Stanislaw Lem, Editora Wydawnictwo Mon, Varsóvia, 1961
 
O filme:
 
‘Solaris’ (1972)
 
Direção: Andrei Tarkovsky
Produção: Viacheslav Tarasov
Roteiro: Fridick Gorenshtein e Andrei Tarkovsky
Elenco:
Donatas Banionis (Kelvin)
Natalya Bondarchuck (Hari)
Jüri Järvet (Snaut)
Vladislav Dvorzhetsky (Berton)
Sos Sargsian (Gibarian)
Nikolai Grinko (pai de Kelvin)
 
A refilmagem:
 
‘Solaris’ (2002)
 
Direção: Steven Soderbergh
Produção: James Cameron, Jon Landau, Rae Sanchini, Charles Bender, Gregory Jacobs e Michael Polaire
Roteiro: Steven Soderbergh
Elenco:
George Clooney (Kelvin)
Natascha McElhone (Rheya)
Viola Davis (Gordon)
Jeremy Davies (Snow)
Ulrich Tukur (Gibarian)".
 
(EDUARDO TORRES) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PERTURBADORAS - também existencialmente - MATERIALIZAÇÕES

DE PENSAMENTOS

(SEM A LEGENDA ACIMA APRESENTADA, QUE É DA COLUNA "RECONTANDO...",

A REPRODUÇÃO DA IMAGEM ACIMA CONFERIDA ESTÁ, NA WEB, EM:

http://agresticism.org/furrow/2003/6/17/bits_and_pieces/

 

 

 

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"Solaris (Solyaris), Andrei Tarkovski (1972)/colorido/35 mm/ 165 min./12 anos

Baseado em romance homônimo de Stanislaw Lem, o filme narra a história de um psicólogo encarregado de realizar uma investigação sobre os mistérios que interferem em uma missão em torno do planeta Solaris.
03/07 às 19h e 10/07 às 17h".

(http://mostratarkovskieherdeiros.blogspot.com/2010_05_01_archive.html)

 

 

 

NO VELHO CONTINENTE (PAÍS: PORTUGAL),

CARLOS MACHADO ESCREVEU NOTAS BREVES,

contudo relevantes, SOBRE ALGUNS

PRODUTOS DA INDÚSTRIA CULTURAL

MUITO ESPECIAIS (SEGUNDA METADE DO

SÉC. XX)

 

 

"Ficção... científica"

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Spider" de David Cronenberg


 

Muita gente, ainda hoje (muitos leitores, seguramente alguns críticos) persiste teimosamente em relativizar, quanto mais não seja inconscientemente, a importância cultural e crítica da chamada "ficção científica".

Trata-se, indiscutivelmente, do meu ponto de vista pessoal, de um erro grosseiro de perspectiva crítica ou criticional, isto é, de uma deformação grave da visão analítica da nossa época, desde logo (é sempre, de um modo ou de outro, disso que, no limite, se trata) mas, também, no caso particular dos últimos, dos críticos, da sua própria identidade epistemológica e profissional, digamos assim.

De facto, que é, enquanto "temema cognicional" básico, elemental, puro, a ficção científica senão uma irmã gémea da própria Filosofia cujo objectivo real foi sempre, desde o início, antecipar e prever a própria realidade, exactamente como faz, sobretudo hoje, com os grandes autores, a dita ficção?

 

 

 

 

 

"Solaris" de Andrei Tarkovski
 

Com toda a franqueza e convicção sugiro que cada um pense seriamente neste facto sempre que se trate de menosprezar autores como Brian Aldiss ou Doris Lessing ou cineastas como Andrei Tarkovski ("Solaris") ou David Cronenberg ("ExistenZ" mas sobretudo "Spider" que é inquietantemente beckettiano e, como filme, simplesmente genial).

 

 

 

 

 

 

 

"ExistenZ" de David Cronenberg

São, todos eles (em especial "Spider", insisto) objectos narrativos espantosos que um bom professor de Filosofia não hesitaria em seleccionar como utensílio electivo de introdução às ontologias ditas "da existência", de Kirkegaard a Sartre.

 

 

 

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Blog Cinestesis transcreve

tradução de entrevista

concedida por Tarkovski

 

"Andrei Tarkovsky fala sobre Solaris, Stanislaw Lem, Cannes e Fellini

 

 
Por quê, em um filme que poderia ser categorizado como ficção científica, você esta mais concentrado no drama de consciência do herói do que com a situação dramática na estação espacial?[1]

Quando eu li a novela de Lem
[2], o que me tocou, sobretudo, eram os problemas morais evidentes no relacionamento entre Kelvin e sua consciência, como manifestado na forma de Hari. De fato, se eu compreendi, e admiro profundamente, a segunda metade da novela - a tecnologia, a atmosfera da estação espacial, as perguntas científicas - era inteiramente por causa dessa situação, que me parece ser fundamental ao trabalho. Os problemas internos, escondidos, humanos, problemas morais, fundem-se sempre distantes, mais do que todas as perguntas da tecnologia; e em toda a tecnologia do caso, e como se torna, relaciona-se invariavelmente às questões morais, no final, estes problemas me interessam mais. Minhas fontes principais são sempre o estado real da alma humana e os conflitos que são expressos em problemas espirituais. E assim, eu dei mais atenção a esse lado das coisas em meu filme, mesmo que inconscientemente. Fazia parte do processo orgânico da seleção. Eu não apaguei o resto, mas tornou-se, de algum modo, mais apagado do que as coisas que me interessaram mais.


Qual a idéia central em seu filme?

O central são os problemas interiores, o qual me preocupei e que preponderou a produção inteira de uma maneira muito específica: a saber, o fato que, no curso da humanidade, do seu desenvolvimento, esta, numa mão, está lutando
constantemente entre a entropia espiritual, moral e a dissipação de princípios éticos, e na outra - a aspiração para um ideal moral. O esforço interno e infinito do homem, que quer se ver livrado de toda a restrição moral, mas procura ao mesmo tempo um significado para seu próprio movimento, na forma de um ideal, que é a dicotomia que produz constantemente o conflito interno intenso na vida do indivíduo e da sociedade. Parece-me que o conflito, e a busca fértil e urgente por um ideal espiritual, continuarão até que a humanidade se liberte suficientemente para se dedicar somente ao espiritual. Assim que isso acontecer, um estágio novo começará no desenvolvimento da alma humana, quando o homem será dirigido em seu ser interno por uma intensa e profunda paixão ilimitada, como dirigiu seus esforços até agora na sua busca para a liberdade. E a novela de Lem, em minha própria compreensão, expressa precisamente a inabilidade do homem se concentrar em seu interior, e os pontos de conflito entre a vida espiritual do homem e a aquisição objetiva do conhecimento. É um conflito que nunca da ao homem toda a paz, até que consiga a liberdade externa completa. Nós pudemos chamar esta liberdade social, a liberdade do indivíduo social que não é necessariamente o pão, o alimento, um telhado, ou suas crianças futuras. A humanidade não se move para a frente sincronicamente. Ela para e começa, vai afora em sentidos diferentes. E somente quando as descobertas científicas ocorrem no curso do desenvolvimento tecnológico há um pulo correspondente no desenvolvimento moral do homem. Há uma coesão extraordinária entre os dois. Aquele era o problema que me exercitou toda a hora onde eu trabalhava no filme. Em termos simples, a história do relacionamento de Hari com Kelvin é a história do relacionamento entre o homem e o sua própria consciência. É sobre o interesse do homem por seu próprio espírito, quando não tem nenhuma possibilidade de fazer qualquer coisa sobre ele, quando está perdido na exploração e no desenvolvimento da tecnologia.


E qual é o resultado do conflito entre Kelvin e sua consciência?

Em Kelvin está simbolizado o “perdedor”, porque tenta reviver sua vida sem repetir o erro que fêz na terra. Tenta reavivar a mesma situação, porque tem uma consciência pesada, porque sente culpado de um crime, e tenta mudar interiormente em relação à Hari. Mas não se esforça. Seu relacionamento termina como aconteceu na terra, a segunda Hari também comete o suicídio. Porém, se Kelvin pudesse reviver diferentemente este estágio de sua vida, não seria culpado na primeira vez. E realiza a razão para que sua inabilidade se efetive nesta segunda vida com Hari. Realiza o que não é possível. Se fosse, então seria possível pressionar a tecla deste microfone que está gravando nossa conversação, replay a fita adesiva, limpa fora o todo o que foi gravado, e o começo novamente como se nada tivesse ocorrido. E então os conceitos, assim como a vida espiritual, a consciência, e a moralidade, não teriam nenhum significado.

 

 

Isso tudo não da um significado de pessimismo ao final do filme?

A película termina com o que é o mais precioso para uma pessoa, e ao mesmo tempo a coisa a mais simples de tudo, e o mais disponível a todos: relacionamentos humanos ordinários, que são o ponto inicial da viagem infinita do homem. Apesar de tudo, essa viagem começou para preservar intacta, protegendo os sentimentos que cada pessoa experimenta: o amor de sua própria terra, amor daqueles perto de você, daqueles que o trouxeram ao mundo, amor de seu passado, do que sempre foi, e é ainda caro a você. O fato que o oceano trouxe para fora de suas profundidades a coisa verdadeira, e que era a mais importante para ele - seu sonho do retorno à terra - que é, a idéia do contato. Contatar no sentido de “humano,” no sentido de “fazer bem.” Para mim, o final é o retorno de Kelvin ao berço, a sua origem, que não pode nunca ser esquecida. E é mais importante porque tinha viajado assim, distante, ao longo da estrada do progresso tecnológico, no processo de adquirir o conhecimento.

 


Você acha que Lem ficou satisfeito com seu filme?

Eu não quis causar grandes expectativas a Lem sobre a película. É uma pessoa cuja a opinião eu tenho muito respeito, eu admiro seu talento e seu intelecto. Eu sou muito afeiçoado ao filme, e extremamente grato a Lem para permitir que eu o faça. Porém, a respeito do que Lem acha sobre o filme, eu não penso que se ofenderá ou se irritará pela película, ou achará que foi mal feita, ou com falta de sinceridade, ou com falta de profissionalismo. Até agora, eu não sinto que o decepcionei. Eu estou certo que gostará de Hari.


 

 

 

 

 

Você exibiu sua película em Cannes. O que você achou dos outros filmes que foram mostrados lá?[3]

Eu estou pasmo com o baixo padrão. Eu não compreendo. Por um lado, eu achei tudo altamente profissional, por outro lado, tudo era totalmente comercial. Por exemplo, trataram de um assunto que era limitado para ser do interesse de todos: o problema do movimento do classe operária, ou o relacionamento entre a classe operária e outros segmentos da população. E toda ela foi feita com tal olho às audiências, com tal desejo de agradar… tive realmente a impressão que todas as películas tinham sido editadas por uma e para a mesma pessoa. Mas na película, de tudo, a coisa a mais importante é estar ciente do ritmo interno. Assim, o que poderia ser individual teve o lugar comum tornado vulgar. É extraordinário. Mesmo a película de Fellini sobre Roma, a película a mais interessante de todas, mostrou-se fora do festival apropriado. É uma regra do jogo, dar-se combinado com a audiência, o ritmo editorial é assim, que com lisura faz-se sentir ofendido em nome de Fellini. Eu recordo planos seus, onde os tiros, o comprimento dos tiros, e seu ritmo, foram amarrados ao estado interno do caráter e do autor. Mas este retrato foi feito com um olho para o que está agradando à audiência. Eu acho aquilo repugnante. De qualquer modo, a película não nos diz nada de novo sobre Fellini ou sobre a sua vida.

 



Que você achou sobre o Macbeth de Polanski?[4]

Eu não gostei. É muito raso, muito superficial. Ignora completamente o problema moral da consciência do homem que está pagando pelo mal que cometeu. Eu sou desconcertado com o fato de que qualquer um pode falar sobre Shakespeare e contornar completamente
as questões espirituais envolvidas. É uma falha crucial na obra de Polanski. Suas intenções sérias se mostram somente em seu impulso em ser naturalista. A película é assim tão detalhada que cessa de ser realísta. O alvo do diretor torna-se óbvio, e com isto, temos meramente meios de conseguir um efeito. E uma vez que as audiências podem ler aquilo assim, claramente, a obra cessa de ser única, como uma moda, um filme que se transforma apenas em um alvo patentemente óbvio.

 



Quais são os seus planos agora?

Não é fácil falar sobre eles, para mim sempre muito amedrontador de fazer isto. Se você falar demasiado então nada acontece. Mas, de qualquer modo, eu tenho um roteiro todo pronto. Eu quero começar a rodar no outono. Será uma película autobiográfica, sobre minha infância
[5]. Olhará os mesmos eventos de dois lados: o ponto de vista da geração mais velha e minhas próprias percepções. Eu penso de que o uso daquele paralelo e que poderia criar uma maneira interessante de ver coisas, um ângulo interessante, e a interseção emprestará uma coloração curiosa aos eventos que são familiares a todos no curso de suas vidas. Eu estou muito excitado em relação ao roteiro. Eu estou muito ansioso para fazer a película, porque eu estou receoso que se qualquer coisa der errado, eu nunca retornarei ao mesmo tema. Eu pensei muito sobre o roteiro, e eu tenho tantas coisas para produção. E eu tenho a convicção de que se minhas idéias estiverem corretas, o filme ganhará vida própria.


 


[1] O seguinte é um transcrição de uma entrevista com Tarkovsky, conduzido por Zbigniew Podgórzec em 1973. Sr. Podgórzec entrevistou também Tarkovsky em 1972 - os fragmentos dessa entrevista são encontrados entre os excertos nesta página. Referência: A primeira tradução para o inglês desta entrevista apareceu em um apêndice in Time With Time: The Diaries 1970-1986, Seagull Books Private Limited, Calcutta, 1991, pp. 362-366. ISBN 817046083-2. Tradução para o inglês Kitty Hunter-Blair. Constitui abaixo os excertos da parte original. A tradução heróica do Inglês para o Português foi minha, porém faço questão de frisar que meu Inglês não é dos melhores. A entrevista no original pode ser encontrada no link, http://www.acs.ucalgary.ca/~tstronds/nostalghia.com/
[2] Escritor polonês, nasceu em Lwów em 12 de setembro de 1921, falecendo recentemente em Cracóvia, 27 de Março de 2006. Para mais informações, consultar http://pt.wikipedia.org/wiki/Stanis%C5%82aw_Lem
[3] Faz-se importante citar que o grande vencedor do prêmio de melhor filme desse festival (1972), Palma de Ouro, foi “A Classe Operária vai ao Paraíso”, de Elio Petri. Porém, o filme Solaris ganhou o Prêmio Especial do Júri, Federico Fellini, por sua vez, conquistou o Grande Prêmio da Comissão Técnica.
[4] Quanto a Polanski, não descobri a relevância do filme colocado em questão por Tarkovski em relação ao festival desse ano.
[5] O filme se concretizaria e se tornaria extremamente polêmico, tudo indica que Tarkovski estaria falando do filme, O Espelho".

(http://cinestesis.blogspot.com/2007/04/andrei-tarkovsky-fala-sobre-solaris.html)

 

 

 

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PROGRAMAÇÃO CULTURAL DE HOJE, BRASÍLIA-DF

 

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BRASÍLIA: produção de felicidade "durante a vida" [KLÉBER LIMA, editor da Ed. Da Anta Casa, do DF / Patos de Minas-MG]

 

 

Querid@s uma linda exposição que abre hoje, dia 9... espero vcs para tomarmos um vinho...bjs

Elaine Ruas

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61-93266034
 

 

ELIANE RUAS, DIRETORA DO ESPAÇO CULTURAL RENATO RUSSO [AV. W-3 SUL,

508 SUL], INFORMA:

BRASÍLIA, hoje, terça-feira, 9.11.2010 (a partir das 19h00): ABERTURA DA

EXPOSIÇÃO "ABC de BSB [BRASÍLIA] -

gravuras com rolhas de vinho de SYLVIO CARNEIRO"

 

 

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Divulgação 

(http://achabrasilia.com/sylvio-carneiro/