Cunha e Silva Filho


                 A coisa anda feia no país. Hoje, o jornal O Globo surpreende, na primeira página, o leitor com vinte e quatros fotos de gente ligada ao grande empresariado e de altos funcionários da Petrobrás envolvidos em negociatas com partidos políticos do PMDB, PP e do PT. Numa mega-operação de uma segunda fase da Lava-Jato, foram mobilizados  300 policiais da Polícia Federal, 50 agentes da Receita Federal em diferentes partes do Brasil. Fundamento da operação: corrupção na Petrobrás com altos executivos de empresas em conluio com executivos da Petrobrás. Os primeiros  são acusados de pagarem propinas a executivos do alto escalão da Petrobrás e a políticos do PT, do PP e do PMDB. Várias páginas daquela jornal são reservadas a reportagens que esmiúçam os meandros da roubalheira nacional num escândalo, talvez ainda pior do que o do Mensalão e dos anos sombrios do governo Collor.
               Como contraponto aos escândalos da Petrobrás, o mencionado jornal refresca a memória do leitor, lembrando que os membros do governo petista e de outros partidos que foram presos no Mensalão, após um só ano de detenção, sete presos já andam livres e fagueiros distantes da prisão. Ora, ao cidadão brasileiro que se depara com tanta malandragem da politicalha nacional e com o que resultou de denúncias, investigações policiais e encarceramento dos sentenciados não resta senão manifestar sua indignação contra julgamentos que resultaram praticamente em flagrante impunidade.
       Como se há de confiar num governo que age dessa forma no que diz respeito a práticas reconhecidamente identificadas como delituosas e nocivas ao dinheiro público, i,e, terminam num simulacro de penalidades que recebem o nome de “prisão domiciliar”? Onde fica o peso da Lei, onde fica a Justiça que deveria dar exemplo de sua imparcialidade e de sua obrigação de fazer valer a essência da Lei e o respeito à Constituição?
            O que mais me causa espécie é o fato de que os prosélitos do PT fecham os olhos a todo esse quadro de quebra de decoro político e faz ouvidos de mercador   a  todas as maquinações, imposturas e mentiras do governo federal.
           Reconhecer realizações importantes do governo federal, a partir das administrações do Lula e da Dilma em alguns setores pontuais, melhorando a vida de parte da pobreza brasileira através de benefícios sociais ainda que populistas nas suas motivações, ou constatar-se a multiplicação de cursos superiores federais e escolas técnicas, com algum ganho salarial bem mais significativo do que era no governo FHC, que deixou o funcionalismo federal por mais de uma década sem nenhum aumento, é algo que não podemos omitir.
             Mas, a melhoria de setores da estrutura governamental federal não pode nem deve ser um biombo com o qual possamos esconder os problemas cruciais e de alta gravidade que afligem hoje o Estado Brasileiro: a violência sem precedentes na história da criminalidade brasileira, a precariedade dos transportes de massa, o sucateamento de hospitais, a impunidade generalizada pondo em descrédito as intenções e os planos do governo em quererrem   efetivar reais mudanças nos pontos mais críticos de sua governança.
             Nenhum brasileiro sensato e avisado pode desejar para o país rupturas do sistema democrático posto que este  ainda se apresente lamentavelmente com tantas falhas não só no Poder Executivo, mas também no Judiciário e Legislativo. Daí a necessidade premente de reformas nos três e reformas que venham a fortalecer o regime democrático, modernizando-o deveras, tornando-o atuante, capaz de minimizar as tremendas mazelas da sociedade brasileira.

          O salto maior de qualidade para aperfeiçoar a democracia brasileira somente será dado quando os nossos políticos forem outros, ou seja, forem homens compenetrados profundamente com  o bem-estar do povo brasileiro. Esses novos homens, o que não quer dizer simplesmente que sejam novos só na idade, porquanto existem políticos jovens que já abraçam a carreira pública com vícios ancestrais, com formação viciada e corrompida. Sendo assim, de nada adianta dizer-se como é lugar-comum: "Têm  sangue novo."                Ora, isso nunca foi atestado de integridade moral para ninguém. A ética não se conta pela idade. O homem digno para exercer um cargo público é fruto de uma solida formação moral, combinada com competência e espírito cívico e uma boa dose de liderança, amor à causa pública, respeito à lei. É desses componentes formadores de grandes homens que o país tanto precisa e com urgência
         Em que terreno poder-se-ia semear homens desse quilate? No da educação integral, nos estudos sérios, na prática do humanismo. Daí depender essencialmente esse terreno do sistema educacional modernizado, feito com plena convicção de que somente o conhecimento profundo e contínuo, desde o ensino fundamental e médio até à universidade, aliado a princípios éticos e morais, pode melhorar  o país. Ao empreender essa mudança modernizadora, a Escola será sempre o grande instrumento da formação de homens sérios, leais, humanos e sensíveis às agruras da sociedade e sobretudo dos mais necessitados. O político ideal pode, sim, não ser apenas uma utopia, porém um fato concreto. O pilar principal da Política e do político depende dessa condição inestimável e inarredável. A felicidade de um povo pressupõe a existência de homens de caráter que, no exemplo brasileiro, não passa atualmente de um wishful thinking.
        Sem um sistema de educação visto pelo político como um investimento tão ou mais importante que o crescimento econômico de um país, não se há de conseguir vencer a batalha da politicalha, da corrupção e da impunidade.  Sem a educação aprimorada,   país continuará a renovar o que de pior pode nos representar no Congresso e na Casa Legislativa e o mesmo vale para os outros dois poderes. A unidade e grandiosidade dos poderes de uma Nação é produto do tipo de formação educacional e familiar que tiveram seus membros.
      Por que nos surpreendemos tanto quando nos decepcionamos com um jurista, um professor, um engenheiro, um advogado, entre outras atividades, que dão  mau exemplo de atitudes no exercício de suas função. Por isso, não é só a competência, a formação austera intelectual que faz de um indivíduo uma pessoa justa, correta, digna e honesta. É preciso que o indivíduo tenha na sua mente e nas sua alma o compromisso com a verdade que seja o instrumento do bem e a serviço da comunidade. É necessário que a competência seja regulada pela grandeza das ações, das atitudes e do respeito ao outro, que pode ser uma só pessoa, uma grupo, uma sociedade, uma universalidade de povos.
       Não se quer significar com isso que eu esteja advogando um tipo de governança feita na base de um elitismo de competência, mas de um elitismo de indivíduos respeitados e respeitadores numa sociedade livre e pacífica.