"E" com vírgula - sim ou não ?
Em: 09/11/2008, às 09H23
Por Maria Teresa Piacentini
Muitas vezes nos é ensinado na escola que NUNCA se deve usar vírgula antes da letra e. Eu mesmo, no meu trabalho, já fui corrigido várias vezes por utilizar-me desta “ferramenta gramatical”, mas tenho certeza de que ela não é de todo errada. Quem está certo e quando? Gustavo Leança Adriano, São Paulo/SP
--- Na frase “CEDAE – produzindo qualidade, e distribuindo saúde” está correto o emprego da vírgula antes da partícula de ligação e? Seria correto escrever “produzindo qualidade e distribuindo saúde”? André Prieto Machado, Rio de Janeiro/RJ
A conjunção E é uma das partículas mais utilizadas no nosso idioma. Como tal, ela pode ser encontrada em várias situações: com vírgula antes ou depois e, mais freqüentemente, sem vírgula. Tudo depende do caso. Hoje veremos dois deles.
1. NÃO se usa vírgula junto com a conjunção E quando ela coordena ou liga os elementos de uma enumeração (indicação de coisas uma por uma), que pode ser formada por substantivos, pronomes, adjetivos, orações etc. O E justamente substitui a vírgula diante do último elemento da enumeração:
Fico satisfeito em ver matéria tão clara, objetiva, concisa, correta e informativa.
O rabino não acredita que possa haver paz entre israelenses e palestinos.
Ele e ela estão casados há dez meses.
Produtos inovadores reduzem o colesterol, controlam a pressão arterial e tratam a depressão, entre outros efeitos.
Thompson era extremamente criativo e original, com seu estilo próprio e sua notável capacidade de interpretação e de crítica.
CEDAE – produzindo qualidade e distribuindo saúde.
2. APARECE necessariamente uma vírgula antes ou depois da conjunção E na enumeração quando ali se coloca alguma intercalação. Neste caso, a vírgula não tem relação direta com o E - ela está lá para fechar ou abrir o encaixe apenas.
Abaixo, veremos a enumeração (ou soma) sem a intercalação e com ela:
1.a O Estado de São Paulo e a Fundesp firmaram convênio com vistas a formar pessoal.
1.b O Estado de São Paulo, através da Secretaria de Meio Ambiente, e a Fundesp firmaram convênio com vistas a formar pessoal.
2.a Proceder de acordo com os arts. 2º e 12 da Lei 2.309/87.
2.b Proceder de acordo com os arts. 2º, § 1º, e 12 da Lei 2.309/87.
3.a João Silva e sua mulher, Nair Silva, brasileira, professora, requerem...
3.b João Silva, brasileiro, comerciante, residente na Rua X, e sua mulher, Nair Silva, brasileira, professora, requerem...
4.a Só beberam água e um cafezinho.
4.b Só beberam água, que faz tanto bem à saúde, e, ao final da festa, um cafezinho.
5.a Ele foi conselheiro de Segurança Nacional de George Bush e é tido como porta-voz informal do velho presidente.
5.b Ele foi conselheiro de Segurança Nacional de George Bush, pai, e é tido como porta-voz informal do velho presidente.
6.a Dividiu o bolo em fatias e distribuiu-as rapidamente.
6.b Dividiu o bolo em fatias e, pela pressa das crianças, distribuiu-as rapidamente.
Continua no próximo número.
--- Gostaria de saber se há uma regra sobre colocar vírgula antes da conjunção e. Já vi casos como: Nossa empresa vai ser lançada no ano que vem, e deve atingir todas as metas. Esta vírgula não é desnecessária? Luís Cláudio, Rio de Janeiro/RJ
Luís Cláudio apresenta uma frase em que a conjunção E liga ou coordena duas orações com o mesmo sujeito. Como vimos no número anterior, quando se trata de soma ou enumeração, basta usar a conjunção E entre os dois elementos coordenados, sem a vírgula. A construção correta, portanto, é esta: "Nossa empresa vai ser lançada ano que vem e (nossa empresa) deve atingir suas metas".
1. Às vezes, porém, vamos encontrar uma vírgula antes do E que introduz uma oração com o mesmo sujeito da oração anterior. Este uso se justifica por estilo, pela necessidade que sente o autor de fazer uma pausa por ênfase:
Cometemos equívocos com nós mesmos, e jogamos fora boa parte de nossa energia vital com coisas que não valem a pena.
Nosso nascimento como nação não resultou de guerra ou revolução; foi antes uma transição natural da condição de colônia para a autodeterminação, e já estava implícita quando D. João VI instou seu filho a consumá-la antes que um aventureiro o fizesse.
Comecei a fazer uma prece para os soldados judeus que estavam sendo mortos naquele momento, e também para os soldados egípcios.
2. Quando duas orações interligadas por E têm sujeitos diferentes, a vírgula é comumente usada junto com a conjunção no intuito de prevenir o leitor contra ambigüidades; e deve realmente ser usada quando a primeira oração acaba com substantivo e o sujeito a seguir é também um substantivo, pois aí é que a leitura pode ficar truncada.
Vamos perceber esse problema na frase abaixo. A vírgula antes da conjunção E permitirá saber de pronto que a partir dela começa uma nova afirmação com diferente sujeito:
1.a Velhos processos sociais e econômicos perduram com novos significados e novas práticas e valores no nível macro e micro reconfiguram relações entre nações e entre indivíduos.
1.b Velhos processos sociais e econômicos perduram com novos significados e novas práticas, e valores no nível macro e micro reconfiguram relações entre nações e entre indivíduos.
Outros exemplos:
2. Mas as Ciências Sociais acompanharam de perto todas essas mudanças, e a produção de conhecimento foi extraordinária.
3. A mudança se exprime através de tensões graves, e destruições de toda ordem a acompanham.
Não havendo problemas de ambigüidade, a vírgula pode ser deixada de lado, o que acontece muito na linguagem jornalística:
4. Acredito que sanções econômicas severas funcionariam (,) e com essas medidas ganharíamos uma maior cooperação dos europeus.
5. O simulacro de uma máquina de lavar tornou-se o conceito de felicidade (,) e o apresentador da mercadoria tornou-se o filósofo, o artista.
6. No decorrer do tempo continuaram as apresentações teatrais de grupos profissionais e amadores (,) e a casa também era cedida para funções comemorativas.
Em conclusão: como sempre, deve prevalecer o bom senso.