DISCURSO DE JOSÉ FRANCISCO PAES LANDIM NA CÂMARA DOS DEPUTADOS SOBRE OS POETAS BRASILEIROS VINICIUS DE MORAES E MURILO MENDES
Por Diego Mendes Sousa Em: 11/12/2025, às 22H43
NOVÍSSIMO ORFEU
Vou onde a Poesia me chama.
O amor é minha biografia,
Texto de argila e fogo
Aves contemporâneas
Largam do meu peito
Levando recado aos homens.
O mundo alegórico se esvai,
Fica esta substância de luta
De onde se descortina a eternidade.
A estrela azul familiar
Vira as costas, foi-se embora...
A Poesia sopra onde quer.
Poema de Murilo Mendes
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VINICIUS MORAES E MURILO MENDES
DISCURSO DE JOSÉ FRANCICO PAES LANDIM NA CÂMARA DOS DEPUTADOS
EM 16/10/2015
Sr. Presidente, Sras. e Srs. aqui presentes, nesta tarde de hoje, fugindo um pouco da pauta política, gostaria de exaltar a memória de dois ilustres homens da cultura nacional, os poetas: Vinicius de Moraes e Murilo Mendes. Neste ano de 2015, completam-se, respectivamente, 35 e 40 anos do falecimento dessas nobres figuras.
Meu caro Presidente, a presente lembrança é uma forma de prestar uma homenagem – ainda que singela - a esses dois homens que tanto contribuíram, em seus tempos, à poesia, à música, à literatura, às artes de forma geral, ampliando a nossa compreensão da vida, enriquecendo nosso olhar sobre as coisas e fatos, enriquecendo a nossa cultura, apreciada no mudo inteiro por sua beleza e por sua variedade de manifestações.
Portanto, Sr. Presidente, na exaltação do legado de Vinicius de Moraes e de Murilo Mendes faço minha ode à cultura brasileira, comumente tão diminuída por nós mesmos, brasileiros, que, afetados por um complexo de inferioridade histórico, valorizamos a cultura importada em detrimento das grandes forças expressivas que encontramos nas nossas próprias terras, como esses dois grandes artistas que hoje reverencio no Plenário desta Casa.
Vinicius de Moraes é sujeito que dispensa maiores introduções, foi diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor, um homem que tinha verdadeira vocação para as artes, vindo a ser um dos grandes expoentes da nossa poesia, da nossa música popular, sendo um dos fundadores da Bossa Nova, gênero que carrega a alma brasileira mundo afora. Vinicius é expressão do estilo de vida carioca, do “bon vivantismo” que contaminou o Rio de Janeiro nos tempos de Garota de Ipanema, é síntese do boêmio, do homem moderno, intelectualizado, formado, mas com uma profunda concepção da beleza, da delicadeza e da leveza da vida, por isso o “poetinha carioca”, como era chamado, é eterno em nossa memória.
Em 2010, 30 anos da morte de Vinicius, o Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva dirimiu a dívida histórica do nosso governo, com a promoção do poeta ao cargo máximo da carreira diplomática, o de embaixador, dado o papel que Vinicius exerceu e exerce até hoje o de embaixador do Brasil, da cultura brasileira.
Já Murilo Mendes é um nome da nossa cultura erudita, mais rebuscada, mais exclusiva às cabeças pensantes, por isso um homem não tão largamente popular como foi o boêmio Vinicius de Moraes. Mas Murilo Mendes também é um expoente da cultura brasileira, tendo participado do Movimento Antropofágico, em 1920, e desde então, foi responsável por uma vasta obra em que analisa, com profundidade, o destino do homem, através de poesias de cunho social, religioso e, claro, as questões que abalam o íntimo do ser.
Com um caráter lírico e reflexivo sem igual, Murilo foi verdadeiramente um represente da vanguarda artística brasileira, tanto que foi convidado para lecionar literatura brasileira em Lisboa, em 1953, e mais tarde, vindo a percorrer diversos países europeus até se estabelecer em Roma, em 1957, onde passou a lecionar sobre cultura brasileira. Em 1972, recebe o prêmio internacional de poesia Etna-Taormina, talvez Murilo fosse mais reconhecido lá fora, vindo ainda a falecer longe da pátria, em Estoril, Portugal, em agosto de 1975.
Neste ano, então, completam-se 40 anos da morte de Murilo Mendes e 35 anos do falecimento de Vinicius de Moraes, esses dois grandes artistas que merecem sempre ser lembrados por nós, ocasião que aqui o faço, em um manifesto ainda pela valorização da cultura brasileira.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
José Francisco Paes Landim, mais conhecido como Paes Landim (São João do Piauí, 23 de março de 1937) é um advogado, professor e político brasileiro. É recordista no número de mandatos como deputado federal pelo Piauí, elegendo-se oito vezes.

