Didáticos eletrônicos
Por Bráulio Tavares Em: 11/01/2013, às 10H17
[Bráulio Tavares]
Nas discussões sobre o livro eletrônico (os Kindles, e-books e assim por diante) tem havido uma ênfase muito grande sobre o modo como essa nova mídia vai afetar a Literatura. Fala-se, p. ex., no perigo da disseminação rápida e incontrolável de versões não-revisadas (ou cheias de erros) de clássicos literários. O erro não é privilégio do texto eletrônico: eu tenho antologias-de-papel de Drummond e de Augusto dos Anjos, lançadas por editoras respeitáveis, com erros de revisão, versos fora do lugar, etc. Fala-se, pelo lado positivo, na possibilidade de versões em hipertexto (edições críticas, p. ex.) desses mesmos clássicos, pois o livro eletrônico permite encher um texto de notas, observações, variantes, links informativos, etc., e esconder isso tudo com um simples toque numa tecla. Quando o leitor quiser ter acesso a isto, outro toque e o material crítico reaparece. Pra mim, isso é uma maravilha.
Existe outro departamento, contudo, onde o livro eletrônico tem tudo para crescer: é o livro didático. Pensem em livros de Matemática, Biologia, Física, História, Geografia, Química, em que seja possível ramificar e ampliar indefinidamente a discussão de cada assunto. Pensem na possibilidade de livros didáticos que se tornem mini-enciclopédias em processamento constante, atualizando conteúdos (principalmente nas ciências humanas – História, Geografia, etc.). Pensem em livros eletrônicos de Matemática ou Física em que os problemas possam ser organizados de diferentes maneiras – por grau de complexidade, por tema, etc. Pensem na possibilidade de estudar Química ou Geometria com pequenas (e baratíssimas!) animações através de Flash ou de imagens Gif.
Já fiz parte de equipe de uma enciclopédia, e lembro que quando começou a tal da Internet nossos olhos brilhavam ao imaginar que finalmente o que fazíamos não estaria desatualizado e superado pelos fatos dentro de poucos meses. Além disso, todo mundo que tem filhos na escola reclama do alto preço do livro didático. É talvez o mercado mais disputado do mundo editorial, briga de cachorro grande. Esses big-dogs bem que poderiam se eletronizar, se agilizar, começar a investir na criação de webs paralelas em que o material de estudo fosse adquirido por assinaturas anuais. Conteúdos interativos, permanentemente atualizados, com enormes bancos-de-dados com exercícios, testes, problemas, links externos e tudo o mais para quem quisesse aprofundar as questões. Ao invés daquelas mochilas cheias de livros pesadíssimos, vergando a espinha dos adolescentes, pequenos tablets com milhões de informações ao alcance de um toque. As possibilidades, como sempre, são infinitas.