"Manoel de Oliveira

 
Manoel de Oliveira
Manoel de Oliveira em Paris (3 de julho de 2008)
Nome completo Manoel Cândido Pinto de Oliveira
Nascimento 11 de Dezembro de 1908 (104 anos)
Porto, Portugal
Nacionalidade Portuguesa
Atividade Cineasta
IMDb: (inglês) (português)

Manoel de Oliveira (pron. mɐnuˈɛɫ doliˈvɐjɾɐ), de nome completo Manoel Cândido Pinto de Oliveira ComSEGCSEGCIH (Porto, Cedofeita, 11 de Dezembro de 1908)[1], é um cineasta português e, actualmente, o mais velho do mundo em actividade.[2]

Índice

Biografia

Realizador mais velho do mundo em actividade, autor de trinta e duas longas-metragens[3], Manoel de Oliveira nasceu no seio de uma família da alta burguesia nortenha, com origens na pequena fidalguia. É filho de Francisco José de Oliveira (Vieira do Minho, Mosteiro, c. 1865 - ?), industrial e primeiro fabricante de lâmpadas em Portugal, e de sua mulher (Porto, Lordelo do Ouro) Cândida Ferreira Pinto (Porto, Santo Ildefonso, 13 de Abril de 1875 - Porto, 2 de Julho de 1947).

Ainda jovem foi para A Guarda, na Galiza, onde frequentou um colégio de jesuítas. Admite ter sido sempre mau aluno. Dedicou-se ao atletismo, tendo sido campeão nacional de salto à vara, e atleta do Sport Club do Porto, um clube de elite. Ainda antes dos filmes veio o automobilismo e a vida boémia. Eram habituais as tertúlias no Café Diana, na Póvoa de Varzim, com os amigos José Régio, Agustina Bessa-Luís, e outros.

Aos vinte anos vai para a escola de actores fundada no Porto por Rino Lupo, o cineasta italiano ali radicado, e um dos pioneiros do cinema português de ficção. Berlim: sinfonia de uma cidade, documentário vanguardista de Walther Ruttmann, influência-o profundamente. Tem então a ideia de rodar uma curta-metragem sobre a faina no Rio DouroDouro, Faina Fluvial (1931) foi o seu primeiro filme, que suscitou a admiração da crítica estrangeira e o desagrado dos críticos nacionais. Seria o primeiro documentário de muitos que abordariam, de um ponto de vista etnográfico, o tema da vida marítima da costa de Portugal, motivo repercutido em Nazaré, Praia de Pescadores de Leitão de Barros, Almadraba Atuneira de António Campos) ou Avieiros de Ricardo Costa.

Adquiriu entretanto alguma formação técnica nos estúdios da Kodak, na Alemanha e, mantendo o gosto pela representação, participou como actor no segundo filme sonoro português, A Canção de Lisboa (1933), de Cottinelli Telmo, vindo a dizer, mais tarde, não se identificar com aquele estilo de cinema popular.

Só mais tarde, em 1942, se aventuraria na ficção como realizador: adaptado do conto Os Meninos Milionários, de João Rodrigues de Freitas, filma Aniki-Bobó (1942), um enternecedor retrato da infância no cru ambiente neo-realista da Ribeira do Porto. O filme foi um fracasso comercial, mas com o tempo daria que falar. Oliveira decidiu, talvez por isso, abandonar outros projectos, envolvendo-se nos negócios da família. Só voltaria ao cinema catorze anos depois, com O Pintor e a Cidade, em 1956.

Em 1963, O Acto da Primavera (segunda docuficção portuguesa) marcou uma nova fase do seu percurso. Com este filme, praticamente ao mesmo tempo que António Campos, iniciou Oliveira em Portugal a prática da antropologia visual no cinema. Prática essa que seria amplamente explorada por cineastas como João César Monteiro, na ficção, como António Reis, Ricardo Costa e Pedro Costa, no documentário. O Acto da Primavera e A Caça são obras marcantes na carreira de Manoel de Oliveira. O primeiro filme é representativo enquanto incursão no documentário, trabalhado com técnicas de encenação, o segundo – que conheceu a supressão de uma cena por parte da censura – como ficção pura em que a encenação não se esquiva ao gosto do documentário.

Por causa de alguns diálogos no filme passou dez dias de cadeia na PIDE[4].

A obra cinematográfica de Manoel de Oliveira, até então interrompida por pausas e projectos não-realizados, só a partir da sua futura longa metragem (O Passado e o Presente, de 1971) prosseguiria sem quebras nem sobressaltos, por uns trinta anos, até ao final do século. A teatralidade imanente de O Acto da Primavera, contaminando esta sua segunda ficção, afirmar-se-ia como estilo pessoal, como forma de expressão que Oliveira achou por bem explorar nos seus filmes seguintes, apoiado por reflexões teóricas de amigos e conhecidos comentadores.

A tetralogia dos amores frustrados seria o palco por excelência de toda essa longa experimentação. O palco seria o plateau, em que o filme falado, em «indizíveis» tiradas teatrais, se tornariam a alma de um cinema puro só por ter o teatro como referência, como origem e fundamento. Eram assim ditos os amores, ditos eram os seus motivos, e ditos ficaram os argumentos de quem nisso viu toda a originalidade do mestre invicto: dito e escrito, com muito peso, sem nenhuma emoção, mas sempre com muito sentimento.

Manoel de Oliveira insiste em dizer que só cria filmes pelo gozo de os fazer, independente da reacção dos críticos. Apesar dos múltiplos condecorações em alguns dos festivais mais prestigiados do mundo, tais como o Festival de Cannes, Festival de Veneza ou o Festival de Montreal, leva uma vida retirada e longe das luzes da ribalta. Durante o Festival de Cannes em 2008, foi congratulado e felicitado pessoalmente pelo actor norte-americano Clint Eastwood.

Os seus actores preferidos, com quem mantém uma colaboração regular são Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira, Diogo Dória, Rogério Samora, Miguel Guilherme, Isabel Ruth e, mais recentemente, o seu neto, Ricardo Trepa. Não são também alheias as participações de actores estrangeiros, como Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni, John Malkovich, Michel Piccoli, Irene Papas, Chiara Mastroianni, Lima Duarte ou Marisa Paredes.

Em 2008 completou cem anos de vida, tendo, entre outras, comemorações, sido condecorado pelo Presidente da República, e assistido à produção de um sem número de documentários sobre a sua vida e obra. Centenário, dotado de uma resistência e saúde física e mental inigualáveis, é o mais velho realizador do mundo em actividade, e ainda com planos futuros.

Prémios e galardões

Filmografia

Longas-metragens

Curtas e médias metragens

Como actor
Como supervisor
  • 1970 - Sever do Vouga… Uma Experiência, de Paulo Rocha
  • 1966 - A Propósito da Inauguração de Uma Estátua - Porto 1100 Anos, de Artur Moura, Albino Baganha e António Lopes Fernandes.

Outros

  • 1937 - Os Últimos Temporais: Cheias do Tejo (documentário)
  • 1958 - O Coração (documentary, 1958)
  • 1964 - Villa Verdinho: Uma Aldeia Transmontana (documentário)
  • 1987 - Mon Cas (1987)
  • 1987 - A Propósito da Bandeira Nacional (1987)
  • 2002 - Momento (2002)
  • 2005 - Do Visível ao Invisível (2005)
  • 2006 - O Improvável não é Impossível (2006)

Vida pessoal

Oliveira casou com Maria Isabel Brandão de Meneses de Almeida Carvalhais (nascida em 1918), no Porto em 4 de dezembro de 1940. Do casamento resultaram quatro filhos:

  • Manuel Casimiro Brandão Carvalhais de Oliveira (nascido em 1941).
  • José Manuel Brandão Carvalhais de Oliveira (nascido em 1944).
  • Isabel Maria Brandão Carvalhais de Oliveira (nascida em 1947).
  • Adelaide Maria Brandão Carvalhais de Oliveira (nascida em 1948).

Tem também já vários netos e bisnetos. Um dos netos é o conhecido actor Ricardo Trepa (filho de Adelaide).

Curiosidades

O primeiro nome do cineasta é por vezes erroneamente escrito Manuel. As primeiras reformas ortográficas que levaram à alteração de diversos grafemas em Portugal, entre os quais as formas de diversos nomes (como Philippe), ocorreram de 1911 em diante. O cineasta nasceu e foi registado em 1908 e, nessa data, Manoel era a forma oficialmente aceite nos registos civis e paroquiais portugueses. Dado que em Portugal é permitida a manutenção do nome original de qualquer cidadão registado, e visto ser essa a vontade do próprio, a grafia original Manoel será sempre a forma apropriada de grafar o nome do cineasta.

Notas

  1. O assento de baptismo (nº 147/1909, Cedofeita, Porto) refere 12 de Dezembro como data de nascimento, mas o próprio Oliveira afirma ter nascido a 11 de Dezembro
  2. Centenarian Director’s Very Long View (em inglês). The New York Times. Página visitada em 11/05/2011.
  3. Manoel de Oliveira - Movies - New York Times
  4. Manoel de Oliveira revê o filme que o levou à prisão.
  5. http://www.ordens.presidencia.pt/
  6. http://www.ordens.presidencia.pt/
  7. http://www.ordens.presidencia.pt/
  8. UTAD vai atribuir honoris causa a Manoel de Oliveira. Canal UP (23 de Março de 2011). Página visitada em 24 de Março de 2011.
  9. Homenagem a Manoel de Oliveira e Luís Miguel Cintra. site Diário de Notícias (10 de janeiro de 2013). Página visitada em 11 de janeiro de 2013.

Ver também

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Ligações externas