Cristovam Buarque
Por Bráulio Tavares Em: 31/08/2006, às 21H00
Leio a transcrição do debate de Cristovam Buarque com jornalistas do “Globo”. Em sua coluna, Artur Xexéo comenta: “O Cristovam de uma idéia única na televisão mostrou-se sereno, inteligente, bem-humorado e até criativo. Um hipotético governo sob seu comando seria muito mais do que a cantilena de educação que ele mostra na TV”. Cristovam sabe que não vai ganhar (reconhece que só ganha “se todos os outros morrerem”), e transformou sua campanha numa peregrinação cívica em que usa o tema da Educação para falar do futuro, de providências a longo prazo, e para abrir os olhos do presente com relação à catástrofe social que criamos, e que nos aguarda, de arma em punho, daqui a algumas décadas.
Talvez faltem a Cristovam aquelas qualidades pessoais que elegem tanta gente, seja o charme londrino-parisiense de FHC, seja a autenticidade migrante-proletária de Lula. Cristovam, na melhor das hipóteses, se parece com aquele professor boa-praça que põe as cadeiras em círculo para dar aula, e que é visto tomando cafezinho na cantina e discutindo idéias com os alunos. Falta-lhe o carisma olímpico de quem diz representar As Elites, e o carisma pé-descalço de quem diz representar o Povo.
Anos atrás, numa campanha presidencial norte-americana, li um artigo numa revista comentando os pré-candidatos. O jornalista dizia: “O melhor presidente para os EUA seria Fulano de Tal, que é honesto, bom administrador, tem idéias avançadas, etc. Mas jamais será eleito, porque não tem carisma, não aparece bem na TV, e não sabe discursar. Perdemos os melhores presidentes simplesmente porque, do jeito que é a democracia hoje, eles não são bons candidatos”. Creio que estamos sujeitos à mesma maldição.
Cristovam justifica com tranqüilidade o fato de ter 1% nas pesquisas: “Sou professor, e a minha profissão é mais convencer do que seduzir. E eleição é mais sedução do que convencimento”. Pense num sujeito destinado a um eterno um-por-cento! Deve ser esta a percentagem de eleitores brasileiros dispostos a discutir idéias, entender propostas, examinar plataformas, comparar ideologias. O resto vota com o Inconsciente Coletivo, vota no mesmo estado de semi-alucinação com que se apaixona por estrelas de cinema. A democracia eletrônica é uma espécie de telenovela permanente, onde os mesmos atores estão sempre em cartaz, mesmo que de vez em quando mudem de personagem. Geraldo Alkmin queixa-se de que é menos conhecido do que Lula, porque “Lula já disputou seis eleições presidenciais”. E tem razão. Ninguém liga para o Mensalão; os atuais 40-e-tantos por cento de Lula se devem ao efeito residual e cumulativo destes anos todos na telinha. Mais conhecido do que ele, só mesmo Renato Aragão ou Tarcísio Meira.
Cristovam é uma ilha de lucidez no meio do delírio e da falsa liberdade que é a democracia eletrônica. Uma ilha pequena demais para comportar os não-sei-quantos milhões de votos de que precisaria para ser eleito.