Conceitos da Comunicação de Massa (9)
Por Flávio Bittencourt Em: 25/01/2012, às 07H49
[Flávio Bittencourt]
Conceitos da Comunicação de Massa (9)
Muniz Sodré (1996): Nova Ordem Tecnocultural, complexa, vinculada ao mercado.
Alexandra Martins/UnB Agência
Para Muniz Sodré, jornalismo distanciou-se de sua relação com a cidadania
(http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5538,
legenda por Henrique Bolgue, da Secretaria de Comunicação da UnB)
"(...). Para Sodré, televisão é principalmente um modo de organizar a sociedade, antes de ser um caminho para a manipulação de uma classe social ou uma individualidade eminente."
(PAULO CIRNE DE CALDAS, trecho do resumo de artigo que pode ser lido em:
http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_10/contemporanea_n10_paulo_cirne.pdf)
"AINDA QUE MUNIZ SODRÉ - PROFESSOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO E EX-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (GOVERNO LULA) - PREFIRA A EXPRESSÃO TECNOCULTURA A CULTURA DE MASSA, USAMOS AQUI A EXPRESSÃO ANTIGA PARA QUE O LEITOR IDENTIFIQUE DE FORMA IMEDIATA A ÁREA DE QUE SE TRATA"
(Coluna "Recontando...")
"A IMPORTÂNCIA DOS ÚLTIMOS LIVROS DE MUNIZ SODRÉ NÃO É PEQUENA: PELO CONTRÁRIO, PARECE-NOS CRUCIAL, HOJE. CONSIDERE-SE, POR EXEMPLO, AS SEGUINTES CONSIDERAÇÕES DE SODRÉ, PARA QUEM DESDE O SÉCULO XIX HÁ UMA DESVINCULAÇÃO CRESCENTE ENTRE O ESPAÇO PÚBLICO E POLÍTICA: "(...) Hoje o espaço público é mais publicitário do que político”. PARA MUNIZ SODRÉ, ESSE ESPAÇO, SEPARADO DOS SUJEITOS, TORNA VISÍVEL A CULTURA, OS PADRÕES E AS REPRESENTAÇÕES QUE AS PESSOAS FAZEM DELAS MESMAS === em edição === (citação de artigo contido em:
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5538 [ARTIGO
"Redes sociais ainda não mudaram a ação política, diz Muniz Sodré - Professor da UFRJ ministrou aula inaugural da Faculdade de Comunicação", por Henrique Bolgue, da Secretaria de Comunicação da UnB, 23.8.2011
, "
(IDEM)
(http://www.literal.com.br/artigos/entrevista-muniz-sodre-diretor-da-biblioteca-nacional)
25.1.2012 - Muniz Sodre publicou, em 1996, pela Editora Vozes (Petrópolis-RJ), o importante livro Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos - De acordo com o Prof. Dr. Muniz Sodré, a Nova Ordem Tecnocultural, que é complexa, vincula-se ao mercado. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
CONSTA EM Reinventando a cultura:
a comunicação e seus produtos
(Petrópolis-RJ: Vozes, 1996):
"(...) Observa-se [NA ATUALIDADE] que as exigências da economia de mercado impõem progressivamente um código cultural assimilador de todas as atividades humanas, apoiado por uma rede complexa de tecnologias de produção e consumo de massa, onde desempenham papel de proa os meios de comunicação de massa. Em face do código e da rede, enfraquece-se ou retrai-se a individualidade do sujeito, sob as aparências narcisísticas de que aumenta a sua autonomia, em razão do maior poder de escolha de objetos de consumo.
Na socialização por redes (sistemas auto-reguláveis de comunicação e instituições baseados em tecnologia de ponta), o sujeito é obrigado a comutar-se ou ligar-se interativamente a circuitos comunicacionais. O corpo do indivíduo enreda-se na trama tecnológica. Não mais se registra a predominância de relações primárias ou cara-a-cara, como descrevia a sociologia tradicional, mas a interface como motor de contato entre os indivíduos. A informação converte-se, nos termos da cibernética, num processo de administração da vida social, cujo contrário será a desordem ("entrópica") ou a marginalidade.
=== em edição ===
(pp. 49 -
===
O ARTIGO INTITULADO
"Televisão e Poder na leitura de Muniz Sodré",
de Paulo Cirne de Caldas [*],
encontra-se, na web, em:
http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_10/contemporanea_n10_paulo_cirne.pdf
[*] - Jornalista free-lancer, doutor em Comunicação Social-PUC/RS (2007), mestre em Comunicação Social-PUC/RS (2001).
===
PORTAL LITERAL PONTO COM PONTO BR,
apresentou, em agosto de 2010
(ENTREVISTA CONCEDIDA A
ANA PAULA FANON):
"Entrevista: Muniz Sodré, Diretor da Biblioteca Nacional
Ana Paula Fanon, Salvador (BA) · 19/8/2010
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Todo discípulo procura aprender com o seu mestre valores que intensifiquem a sua forma de atuar e ver o mundo de modo que possa refletir sobre as ciências, as artes, a literatura, e pensar no presente, mas dialogando com e sobre o futuro.
O professor Muniz Sodré é um intelectual engajado com as questões do seu tempo. Soteropolitano, jornalista e sociólogo, professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com vários livros publicados na área da comunicação, da cultura e da literatura, além disso exerce a função de diretor-presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Nessa entrevista concedida para o Portal Literal, o professor Muniz Sodré fala sobre a sua gestão à frente da FBN,a política da leitura no Brasil, sua candidatura para Academia Brasileira de Letras (ABL) e o papel do negro na literatura brasileira.
Ana Paula Fanon:O senhor poderia falar um pouco da sua gestão como diretor da Biblioteca Nacional ?
Muniz Sodré: A minha gestão tem se pautado pela preservação e pela ampliação do escopo social da Biblioteca Nacional. Veja só: ao longo dos dois últimos séculos, a Biblioteca Nacional –– de fato, a oitava do mundo em acervo –– tem servido à formação de elites culturais, e não apenas àquelas oriundas das classes dirigentes. Antes da popularização de editoras e da maior democratização dos meios de acesso ao patrimônio das letras, membros dos estratos economicamente menos favorecidos do país, encontraram na BN os livros e os materiais que lhes seriam formativamente essenciais.
Hoje, a Fundação Biblioteca Nacional, vinculada ao Ministério da Cultura, dá continuidade ao que sempre se afigurou como seu destino: preservação da memória e criação de uma ecologia cognitiva em escala nacional por meio da implantação de bibliotecas públicas em municípios carentes. No final do ano de 2010, O Ministério da Cultura, por meio da Biblioteca Nacional, terá implantado 1.074 novas bibliotecas municipais no país, num esforço que visa a zerar o déficit. E agora, com os aparatos tecnológicos do tempo, que permitem a virtualização e, claro, a democratização progressiva de seu acervo.
Não podemos ignorar que herdamos um pesado déficit cultural. Coube e cabe, portanto, ao Ministério da Cultura a tarefa de operar políticas públicas enraizadas e promissoras. Agora, a realidade brasileira em termos de acesso público a livros pode ser descrita pelo montante de cinco mil bibliotecas públicas e dez mil comunitárias. Entretanto, estão defasadas em sua maioria e com escassa capacidade de atração de leitores, sobretudo quando se localizam nas periferias urbanas e no interior dos estados. A reversão do quadro desfavorável vem sendo rigorosamente priorizada. O que exige a inclusão da cultura como trabalho social avançado.
Nesse horizonte é que vem se erguendo a nova política social do governo federal e do MinC, que engloba entre os seus diferentes desafios socioculturais para citar apenas o que diz respeito às finalidades da Fundação Biblioteca Nacional o de potencializar as ações de inclusão cultural; o de reincorporar a cultura como vetor de qualificação da educação; o de desenvolver a prática da leitura como fator determinante para o acesso à cidadania; o acesso à produção cultural; a potencialização da cultura digital.
APF:E a política da leitura no Brasil, avançamos ou ainda é um sonho a democratização do acesso aos livros e à leitura ?
MS: Creio não ser exagerado afirmar que a América Latina esteja agora começando a abrir os olhos para o fato de que a inserção dos indivíduos no estatuto da cidadania plena começa, ao lado da questão do trabalho, com a questão do aprendizado e exercício da interação social por meio da potenciação do que a leitura e a escrita guardam de expressão criativa dos sujeitos sociais. Mas hoje colocar leitura e escrita num horizonte que seja de fato culturalmente mais interativo implica uma maior largueza política. Política –– não no sentido partidário-eleitoral que vicia esta palavra, mas no sentido de distribuição efetiva dos cidadãos na variedade dos espaços públicos, portanto, política voltada para a cidadania como acesso aos bens sociais. Política que se destina a proporcionar, tanto a adultos como jovens, novos espaços de aquisição de conhecimento e de interação com a diversidade cultural.
Além da dimensão puramente técnica, há quem pense na leitura como o meio de se promover a interação das diversas culturas que hoje habitamos com aquelas que a escola exclui e que a hegemonia letrada despreza econdena: as culturas orais e as sonoras, especialmente as musicais, as audiovisuais e as digitais, e isso tanto em sua projeção escolar como trabalhador tanto em seu desfrute lúdico como na ação cidadã e na participação política.
APF: Quando surgiu o interesse em se candidatar para a Academia Brasileira de Letras (ABL) para ocupante da vaga da cadeira de nº29 ?
MS: Com o falecimento de José Mindlin, conhecido por seu grande amor aos livros e por sua preciosa biblioteca, achei que sua vaga na Academia Brasileira de Letras poderia ser preenchida por alguém que, nos últimos cinco anos, tem ajudado a alavancar institucionalmente a Fundação Biblioteca Nacional. Também achei que meus 34 livros nos campos da comunicação, cultura nacional e ficção constituiram uma boa plataforma.Além disso, tenhos bons amigos na ABL, que é um lugar de convívio e de memória
APF:O senhor escreveu em 1985 o livro A Literatura de Mercado. Após vinte e cinco anos, que análise o senhor faz da literatura atual ?
MS: Escrevi um livrinho de iniciação denominado “Best-Seller: a literatura de mercado”. Continuo interessado no fenômeno da literatura de grande consumo, tanto que, em livro recente (A Narração do Fato, Ed. Vozes), dedico um capítulo à narrativa policial, que aprecio e que faz parte dessa literatura, nem sempre bem compreendida pelos cultores do cânone literário.
APF:O senhor poderia falar um pouco do projeto Periódicos Literários: publicações efêmeras, memória permanente, realizado pela Biblioteca Nacional ?
MS: Este projeto está em andamento. Trata-se de recuperar publicações que, há mais de um século, se encontram “enterradas” em arquivos, sem a devida análise. Desse trabalho deriva um esforço conceitual no que diz respeito a gêneros editoriais (jornal, revista etc.), que poderá vir a ser de grande valia para os historiadores do impresso e para os pesquisadores da literatura brasileira.
APF:E o negro na literatura Brasileira. Que análise o senhor faz da atuação e representação do negro no universo da escrita ?
MS: Sobre o negro na literatura brasileira, aconselho você a tomar contato com o prof. Eduardo de Assis Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais, que elaborou um excelente trabalho sobre a produção literária de autores brasileiros afro-descendentes. Ele deixa bem claro que, desde o período colonial, essa produção autoral abrange todos os campos da atividade artística, com escasso reconhecimento. Um exemplo: em nenhum manual de História da Literatura Brasileira consta o nome de Maria Firmina dos Reis, a primeira negra a publicar um romance no Brasil: Úrsula (1859). O interesse do trabalho de Assis Duarte está, além do levantamento com resultados surpreendentes, no fato de que não se trata simplesmente de averiguar a côr da pele do escritor, mas de buscar marcas discursivas da cultura afro-brasileira
APF:Cruz e Sousa, Lima Barreto, Luiz Gama, José do Patrocínio são grandes escritores da literatura Brasileira, porém não aceitos pela Academia Brasileira de Letras. Em sua opinião o critério da cor prevalece diante da competência no campo das letras ?
MS: Vejá só, dos autores que você menciona, um, José do Patrocínio, foi membro da Academia Brasileira de Letras, aliás fundador da cadeira 21. Lima Barreto foi candidato derrotado: teve apenas dois votos. Luiz Gama morreu em 1882, e a ABL foi fundada em 1897. Cruz e Sousa não pertenceu à Academia, mas, ao que eu saiba, é lido e lembrado É preciso não esquecer que fundador da ABL, Machado de Assis, era negro. Além dele, houve o bisco Dom Silvério, também negro, grande conhecedor das línguas clássicas e vivas, famoso por suas cartas pastorais. O filólogo Domício Proença, que hoje integra os quadros da ABL, deve ser aí incluido.
APF: Quando o senhor proferiu o discurso na entrega do prêmio Luiz Beltrão(2001) que ganhou por maturidade acadêmica,o senhor fez a seguinte citação: “Pensar”, diz Nietzsche, “é meter o corpo” Como se dá esta relação nietzschiana com a literatura ?
MS: Pensar é de fato “meter o corpo”. Entendo esta afirmativa como uma recusa à compreensão platônica do Ser, limitadas às idéias que se situam acima das transformações históricas: as famosas “idéias eternas” de Platão. Meter o corpo significa “narrar” (literatura?) a formação do mundo (Weltbildung) a partir do “jogo” da vida, ancorado nas vicissitudes da História, sem separar corpo de espírito.
APF: Para Platão a poesia não é ética, filosófica ou pragmática pois ele acreditava que a criação artística não imitava a natureza verdadeira (o universo das idéias). O senhor concorda ?
MS: Discordo. A poesia pode ser ética e filosófica. Pragmática... certamente, não. Mas, veja só, Platão, ele próprio, era um poeta em seus diálogos e mitos. Ele não queria realmente expulsar os poetas da República. Referia-se apenas aos maus poetas, geralmente rapsodos.
APF:E o intelectual Muniz Sodré? Como senhor definiria este intelectual ?
MS: Zé Limeira, o grande repentista dos sertões da Paraíba, definia-se assim: “Sou um negro moderno/ foi não foi, estou pensando”... Faço minhas as palavras de Limeira. Como ele, “peço licença aos prugilos/ dos quelés da juvenia/ dos tolfus, dos aldiacos/ dos baixos da silencia/ do Ginuíno da Bíbria/ do grau da grodofobia”...