Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.
Carlos Drummond de Andrade
A toda ação corresponde uma reação de mesma direção e intensidade, mas, de sentidos contrários.
Gustavo não sabia explicar porque, de repente, lembrou dessa frase.
Como era mesmo o nome desse negócio? Era uma lei da Física, mas qual? – ele se perguntava. – Não importa, afinal, que diferença faz saber o nome?
Sentia-se um pouco nostálgico.
Parece que foi ontem. O colégio. As gurias. As aulas. As gurias. Tempo bom. Sem muitas preocupações a não ser, é claro, passar de ano. E, é claro, as gurias.
Ele nunca fora muito bom em Ciências.
Por que, então, lembrar, logo agora, de uma lei da Física? – continuava se perguntando. Talvez, fosse por causa da professora. Sempre querendo que os alunos entendessem a matéria. Pior. Gostassem dela.
Gustavo não teve nenhuma dificuldade em relembrar dessa aula em especial.
A professora – como era mesmo o nome dela? – na frente da turma, querendo que o pessoal aceitasse que uma parede era capaz de empurrar as pessoas.
- Gente! É simples. Se vocês empurram a parede, a parede empurra vocês.
Simples nada! Ninguém entendia. Ninguém conseguia sequer imaginar tal absurdo. Mas todo mundo concordava. Era mais fácil.
Mas porque será que estou lembrando disso? – insistia Gustavo, ainda procurando compreender o porquê de uma lembrança tão antiga ter surgido do nada.
A professora – como era mesmo o nome dela? – para tentar, pela milionésima vez, explicar a tal lei – afinal, pela nossa cara, logo se percebia que não estávamos entendendo –, explicava que ela podia ser aplicada a todas as situações de vida. Assim, precisava-se ter muito cuidado. Seria um verdadeiro desastre se as suas consequências não fossem claramente compreendidas.
- Ação e reação, vocês entendem? – perguntava ela, preocupada.
Não! Como das outras vezes, a turma estava longe de entender o que ela tentava explicar. E, de novo, o pessoal acabava concordando com tudo. Era infinitamente mais fácil.
Será que estou lembrando disso por causa da Mariana? – Gustavo se questionava, sem conseguir entender muito bem a ligação.
Na verdade, era preciso reconhecer, seu caso com a Mariana não andava muito bem. A relação dos dois tornara-se muito séria. Séria e chata.
Infelizmente, com suas outras namoradas não havia sido diferente. Todas, depois de certo tempo, começavam com um papo estranho. Sempre querendo conversar sobre tudo. E até insistindo para que ele se abrisse com elas. Resultado? Adeus, namorada!
A Mariana, por exemplo, era uma mulher supergostosa. No início, até muito alegre. E, o mais importante, muito disposta. No entanto, as coisas nos últimos tempos mudaram bastante e ela, lamentavelmente, não estava mais tão alegre. E nem tão disposta. Agora ela resolveu – como as outras – que precisava conversar. Só queria conversar.
Como ele era um cara sensível e instruído, até leu aquele livro – como é mesmo o nome dele? Tem algo a ver com Marte e Vênus – assim, sabia que era normal as mulheres insistirem nesse lance de conversar. Só que de uns tempos para cá estava demais. Até o sexo tinha piorado.
Para onde foi toda aquela disposição? – ele se perguntava. – E eu com essa aula de Física martelando na minha cabeça? Só pode ser brincadeira!
Gustavo estacionou o carro em frente ao prédio de Mariana. Olhando, para cima, viu que a janela do quarto estava acesa. Parado, na calçada, pensou se valia a pena subir. Suspirando, resignado, decidiu enfrentar a situação.
Quem sabe não ganho um “prêmio especial” por toda a minha paciência e consideração? – pensou, esperançoso.
Como tinha a chave, decidiu não tocar a campainha. O apartamento estava às escuras. Andou, sem fazer ruído, até o quarto e sem bater na porta foi entrando.
Seria melhor que tivesse batido.
Mariana – a namorada gostosa – estava na cama com um cara que Gustavo nunca viu mais gordo e nem mais magro. Fazendo o quê? Com certeza não era conversando.
Assustados, ao vê-lo, eles rapidamente se afastaram. Meio aparvalhado – afinal ninguém gostava de descobrir que era corno – Gustavo perguntou que negócio era aquele. Besteira, qualquer um podia ver que negócio era aquele!
Mariana, não parecendo nem um pouco abalada, apoiou-se nos cotovelos e explicou:
– Gustavo esse é o Sérgio. Desculpa ficares sabendo deste jeito. Há dias estava querendo conversar contigo, mas não me davas atenção. O problema é que eu reavaliei o nosso namoro e percebi que não tinha mais nada a ver. Acabou. Lamento.
Gustavo não conseguia falar. Aliás, nem se esforçou. O que podia dizer numa hora dessas. O jeito era reunir o pouco de dignidade que ainda lhe restava e sair dali o mais rápido possível.
Quando já estava dentro do carro, tentando entender o que havia lhe acontecido, uma “luzinha” acendeu na sua cabeça. Ele conseguiu lembrar o nome da professora de Física. E, enfim, compreendeu o que ela tentou explicar naquela aula.