Capítulo 3: As filhas dos cientistas nem sempre são personagens inúteis.

(Miguel Carqueija)
 

Neste episódio, tomaremos conhecimento de alguns fatos do passado.

AS FILHAS DOS CIENTISTAS NEM SEMPRE SÃO PERSONAGENS INÚTEIS


        Não há mistério.
        Havia um cientista, Stopenhouse, que desenvolvia experiências revolucionárias sobre a utilização prática de formas sutis de energia. Suas idéias políticas eram visceralmente contrárias às do Partido, e ele não possuía a necessária prudência.
        Quando achou que devia tomar certas providências já era quase tarde. Mas conseguiu entregar os segredos codificados antes que alguém se apossasse deles. Foi executado apenas por “atividades políticas subversivas”, aliás sem ter chegado a entrar em contato com a facção clandestina dos Rebeldes.
        E Lena herdara os segredos.


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        A própria existência de Lena, como filha de Stefânio Stopenhouse, era um segredo.
        A mãe de Lena era morta há muitos anos e não se casara com Stopenhouse — homem estranho, anti-social e pouco dado a sentimentos profundos. Na velhice mantinha uma certa ternura com a filha, por remorsos pela forma nada recomendável como tinha agido, no passado, em relação à mãe da garota. Por não ter assumido uma família, por demais preocupado que estava com a Ciência. Esse remorso cresceu com o tempo e sempre o perseguiu, até torná-lo displicente e desgostoso com a própria vida.
        Lena herdara o seu espírito científico, mas sua personalidade era bem diferente.
        Em primeiro lugar, era adepta da luta até a morte, se preciso fosse, em defesa de ideais que a sua consciência reputasse justos. Em segundo lugar era uma pessoa dinâmica, capaz de tomar iniciativas e levá-las adiante, arrostando riscos e beirando pela temeridade. Em terceiro lugar possuía um raciocínio prático muito ágil, de modo que as elucubrações científicas jamais a tirariam da realidade perigosa do dia-a-dia. Havia uma missão a cumprir, e os segredos, relacionados com o domínio de formas de energia, davam-lhe acesso a um poder incomensurável e incompreensível.
        A criação do Faisão Verde foi o resultado de tudo isso. Lena buscara uma aparência e uma denominação que raiassem pelo ridículo, para desnortear bastante os seus inimigos. Quanto à primeira missão, parecera-lhe evidente: libertar o cientista condenado á morte.
        Já vimos como foi bem sucedida.