C@ARTA AO POETA CHICO MIGUEL
Por Elmar Carvalho Em: 21/04/2017, às 10H09
Elmar Carvalho
Remexendo em velhos papéis, encontrei o convite que o bardo Francisco Miguel de Moura me havia enviado para as bodas de ouro de seu casamento com dona Mécia. A comemoração estava marcada para o dia 08.12.2009, dia de N. S. da Conceição. Por ser feriado nacional, confirmei-lhe a minha presença, tanto por telefone, como pessoalmente, quando nos encontramos em nossa reunião na Academia.
Infelizmente, em virtude da Semana da Conciliação, o Tribunal de Justiça transferiu o feriado para a segunda-feira seguinte. De modo que, não podendo comparecer às bodas do casal amigo, que conheço desde o final da década de setenta, resolvi encaminhar-lhes, de minha Comarca, um e-mail, na data do jubileu matrimonial, a que dei o título de C@RTA AO POETA CHICO MIGUEL, que para honra minha foi lido na festa. Julgo importante transcrevê-lo:
“Caro poeta Chico Miguel: Deveres profissionais me impedem de participar de sua festa de Bodas de Ouro, comemorativa de seu meio século de feliz união conjugal, como era meu desejo, para confraternizar com o amigo, dona Mécia, seus filhos e nossos vários amigos comuns. Entretanto, nada me impede de lhe dirigir algumas palavras, que calo no peito há muito tempo, aguardando o momento propício para deixá-las aflorar.
Você é um típico sertanejo, apesar da pele clara e dos olhos azuis. E como bom sertanejo, é antes e acima de tudo um forte, no dizer euclidiano. Nascido em Francisco Santos, então povoado de Jenipapeiro, estudou, mourejou, você que é um Moura, estirpe de boa fama, e venceu. Criou os filhos com dignidade, sobretudo através da boa palavra e do bom exemplo.
Sob sua liderança, reerguemos, nós, um punhado de escritores, a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI. Você promoveu vários eventos em sua profícua administração e legalizou a entidade, para que ela existisse de fato e de direito.
Diria que o amigo é um poeta do coração e da razão, no perfeito equilíbrio dessas duas vertentes. Sem ser um cerebralista, cultiva a inteligência, a criatividade, o labor, a leitura e a lapidação perfeccionista dos seus escritos, desbastando a sua fatura literária dos lugares comuns, das construções insípidas e da mesmice. Mas sem deixar de lado a emoção e a paixão, e os sentimentos desprovidos de pieguice.
Creio seja você o último remanescente dos polígrafos, a esgrimir a prosa e os versos com invulgar habilidade, e tanto na prosa como no verso produzindo diferentes gêneros da arte de escrever. Em textos eminentemente literários tem cometido belos poemas, urdido admiráveis versos, e enfrentado com galhardia e desembaraço o romance e o conto. Na teoria literária, na crítica e na historiografia, escreveu um notável livro de nossa história literária, elaborou percucientes e instigantes ensaios e crítica literária, em que se percebe a sua avantajada cultura humanística e o seu invejável lastro de conhecimento em literatura.
Considero-o, sem nenhum favor, um de nossos mais honestos intelectuais e críticos, porque não faz concessões espúrias, nem tampouco ignora aqueles que realmente têm merecimento, dando a cada um o seu justo valor, entretanto sem achincalhes desnecessários e desumanos, e sem alardes laudatórios.
Sem dúvida é o amigo um legítimo escritor e poeta, por devoção e vocação incontrastável. E alimentou essa vocação e devoção através de longas leituras, perquirições e ruminações reflexivas, mediante uma inteligência poderosa, porém cultivada no constante esforço pessoal, de que sou testemunha.”
27 de janeiro de 2010