BURRICE TRÁGICA E O BRASIL DA INJUSTIÇA SOCIAL
Por Cunha e Silva Filho Em: 06/10/2022, às 13H27
BURRICE TRÁGICA E O BRASIL DA INJUSTIÇA SOCIAL
CUNHA E SILVA FILHO
Há certos assuntos que não valem um tostão furado discutir sobre eles, principalmente quando dizem respeito a religião, futebol e principalmente política. No meio menos escolarizado, que é a fatia maior do povo brasileiro, esse tipo de discussão tende a ter um fim trágico e é o que está acontecendo pelo país afora: pessoas, mesmo amigos, parentes, aderentes ou simples estranhos, discutindo sobre política polarizada. No caso em pauta, quem seria melhor Lula ou Bolsanaro?.
O páreo é duro, e a discussão descamba logo para xingamentos, ofensas e vias de fato. Já houve vários casos, em todo o país, praticamente que adversários políticos, sem serem políticos, terminam uma amizade que vira tragédia e aí facadas ou mesmo armas de fogo são empregadas para culminarem as diatribes dialogais, os insultos e as divergências de indivíduos que nem mesmo sabem do que estão falando por lhes faltarem fundamentação histórico-política, de educação e urbanidade. O fato curioso a assinalar é que os candidatos polarizados nem estão aí para esses ignorantes que perdem a vida estupidamente, sem ganharem nada com as inúteis discussões na anomia da política nacional.
Semelham tais tragédias a torcidas ferozes de fanáticos por times de futebol. Um tragédia brasileira que parece não ter fim. O resultado : a morte de um dos contendores, cuja maior tristeza é bem mais assustadora quando se trata de amigos ou conhecidos.
O Brasil tem recorrentemente informado pela imprensa e outros meios de comunicação acontecimentos dessa espécie para vergonha dos povos civilizados. É preciso insistir que eleições representam períodos estabelecidos pelos regimes democráticos quanto à alternativas no poder. Não é possível que seres que se definem como humanos cheguem a esse ápice de hediondez a ponto de cometerem barbaridades inúteis como estas.
O país está longe de atingir um patamar de civilização enquanto houver ignorância coletiva de um povo que não atingiu sequer um grau mais desenvolvido de saber comportar-se diante de questões que, no fundo, não melhorarão a vida de nenhum dos antagonistas; Os eleitores ignaros praticam essas atrocidades por puro impulso de uma subjetividade destituída do mínimo de competência ara travarem um diálogo dialético entre si. Agem por impulsos e interesses pessoais ou mesmo por absoluta ausência de educação. Daí que a questão da Educação brasileira deveria ser o ponto mais alto de interesse dos polítcos, dos governos e das elites nacionais; Sem os pilares só propiciados por uma ensino decente de alta qualidade para pobres e ricos o país se transforma nessa realidade a que assistimos na qual a criminalidade tomou conta da sociedade civil.
Por falar na questão momentosa da educação e do ensino brasileiro esses dois temas nem sequer foram discutidos amplamente durante essa recente campanha presidencial para o primeiro turno. O que deduzo da minha visão de professor, ensaísta , articulista, escritor e observador da realidade brasileira é que os candidatos também fugiram nos debates entre si como o diabo foge da cruz do problema crucial, que é o altíssimo índice de criminalidade de todos os tipos em nossa país, para cuja solução nenhuma proposta consistente foi apresentada e, portanto debatida. Somos um país de políticos mais no papel do que na práxis, mais na oratória vazia e falaz.
Somos uma nação dita democrática sem havermos atingido a democracia plena que é o integral e pleno respeito à nossa Carta Magna. Somos uma nação meio formada, meio instituída social e politicamente sem havermos chegado a uma melhor simetria de base social. Questões como esta e outras implicando uma modernização real foram, muitas vezes, um tema repisado em obras do grande ensaísta e crítico Eduardo Portella(1932-2017)) ao tratar exaustiva e criteriosamente do que que chama de Brasil de “modernidades,” i.e., assinalando sobejamente que o arcaico em nosso país convive cronicamente ainda em enclaves do interior e mesmo das grandes metrópoles em desarmonia funesta e nefanda com o moderno. Essa é uma das maiores chagas sociais do país.
Quer dizer, não chegamos, até hoje, à modernidade plena nem tampouco superarmos a condição arcaica e crônica, já que não soubemos ou não desejamos, por incompetência ou ausência perversa ou de “vontade política”(eufemismo por não dizer desídia e insensibilidade ou mau-caratismo) minimizar ao máximo as injustiças sociais de todas os tipos que teimam em massacrar o povo, mantendo grande parcela da população em eterna estagnação e miséria crônica sem dó nem piedade. Ora, um país assim jamais poderá desenvolver-se em igualdade e harmonia social para o cidadão no que tange a todos os setores da vida nacional.
Voltando à tragédia de brasileiros ignorantes e selvagens diríamos, para concluir esses breves comentários : sem investir maciçamente na educação integral (termo que vi, pela primeira vez, nos excelentes livros de Mário Gonçalves Viana, um eminente educador português, jamais chegaremos a sermos uma nação pacífica, civilizada e desenvolvida. Sem tampouco um programa amplo e bem planejado em toda a sua infraestrutura, sem paliativos de improvisação inócua e degradante, não atingiremos o amadurecimento de um país de dimensões continentais.
Queremos, sim, ser respeitados pelos países adiantados do mundo, sem guerras e negacionsmos de índole autoritária, sem patriotadas nefastas a um patriotismo autêntico e responsável, sem crispações que levem os irmãos da mesma terra a se dividirem em inimigos. Urge unir a nação. Esse é o caminho que pavimenta a paz social duradoura e o progresso tão urgentemente desejados pelos homens de bem do Brasil.