Bom dia a todos e todas!
Por Carlos Evandro Martins Eulálio Em: 19/07/2015, às 17H18
[Carlos Evandro M. Eulálio]
Refiro-me ao modismo “todos e todas”, empregado ultimamente nas saudações de abertura de reuniões, para fins diversos, ou no início de discursos. Para uns, essa expressão soa estranho, é pernóstica e entediante. Para outros, seria uma forma de dar visibilidade às mulheres, como esclarece Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, organização feminista, ao afirmar: "A regra gramatical invisibiliza a mulher. Entendemos que a palavra todos, por exemplo, não nos inclui."
Para Marta Salomon, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, (edição de 29/8/04), o apelo de Jacira Melo foi ouvido primeiro pelo ex-presidente José Sarney (1985-90), cujos discursos começavam pela famosa saudação populista "brasileiros e brasileiras".
Quanto à expressão todos e todas, marcando a sexualidade no vocábulo todos, é repetida não só pelo ex-presidente Lula, desde 2004, por sugestão da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, mas também por pessoas com um razoável grau de escolaridade, como se o sentido do vocábulo “todos” fizesse referência apenas ao ser humano do sexo masculino.
Essas pessoas confundem gênero gramatical com gênero sexual. Quanto a isso, o professor Mattoso Câmara, renomado linguista brasileiro, adverte-nos que a flexão de gênero “Costuma ser associada intimamente ao sexo dos seres. Ora, contra essa interpretação falam duas considerações fundamentais. Uma é que o gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se refiram a seres animais, providos de sexo, quer designem apenas «coisas», como. casa, ponte, andaiá, femininos, ou palácio, pente, sofá, masculinos. (CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa, 29.ed. São Paulo : Vozes, 1999, p. 88)
Assim quando saudamos as pessoas com um “Bom dia ou Boa noite a todos”, ninguém é excluído, dado que o pronome indefinido “todo”, no gênero masculino, abrange a totalidade das pessoas reunidas num determinado evento. Não vai aí nenhuma conotação machista como alguns admitem, mas uma característica da língua. Isso também se justifica, porque, na passagem do latim (diga-se do latim vulgar) para o português, não herdamos o gênero neutro, cabendo ao masculino o papel de também referir-se ao gênero feminino. Trata-se, portanto, de um princípio gramatical inerente à língua portuguesa, mais do que um sinal de machismo. Assim, o masculino plural em português abrange todos os gêneros, não havendo necessidade de repetir, por exemplo, “os alunos e as alunas”. Seria redundância.