Boletim Quinzenal da Associação RECORTE, Ano I, nº 12
Por Flávio Bittencourt Em: 12/09/2013, às 13H32
[Flávio Bittencourt]
Boletim Quinzenal da Associação RECORTE, Ano I, nº 12
Associação de estudos de Comunicação e Semiótica, cidade Formosa/GO - Primeira quinzena de setembro de 2013
"A certeza implícita de que o conhecimento é redenção coletiva nos inspira a busca de hipóteses que possam ser representações verdadeiras. O saber envolve todos os seres humanos."
(Eduardo de Castro Neiva Jr.)
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KARL POPPER:
28 July 1902 – 17 September 1994
(http://tresnormale.com/t-shirts/philosophers/karl-popper/)
Título: COMUNICAçãO NA ERA PóS-MODERNA
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MONICA RECTOR
Monica Rector é professora aposentada da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente leciona Estudos Luso-brasileiros na University of North Carolina, em Chapel Hill, EUA. Tem publicado, nacional e internacionalmente, nas áreas de Linguística, Semiótica, Comunicação não-verbal e atualmente Literatura Portuguesa. Entre seus livros destacam-se:
Dictionary of Literary Biography. Portuguese Writers (com Fred Clark). Farmington Hills, MI: The Gale Group, 2004. Gestures: Meaning and Use (com Isabella Poggi e Nadine Trigo). Porto: Edições Fernando Pessoa, 2003. Gestos: uso e significado (com Isabella Poggi e Nadine Trigo). Porto: Edições Fernando Pessoa, 2003. 113 pp. Working Portuguese (com Regina Santos e Marco Silva). Chapel Hill: North Carolina Global Center, 2003. 211 pp. Comunicação do corpo (com Aluízio R. Trinta). São Paulo: Ática, 1990, 4a ed. 2003, 88 pp. “Los gestos: sentidos y prácticas. DeSignis 3. Barcelona: Gedisa, 2002. Editor. Comunicação e modernidade: um estudo discursivo (com Joaquim Nepomuceno e Eduardo Neiva). Belém: Universidade Federal do Pará/CLA/ML, 2000, 191 pp. Mulher, sujeito e objecto da literatura portuguesa. Porto: Edições Fernando Pessoa, 1999, 387 pp. Comunicação na era pós-moderna (com Eduardo Neiva). Petrópolis: Vozes, 1997, 387 pp.; 2a. ed. 1998. A fala dos jovens. Petrópolis: Vozes, 1994, 222 pp. Comunicação não-verbal, a gestualidade brasileira (com Aluízio Trinta). Petrópolis: Vozes, 1985, 183 pp.
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(http://www.vidaslusofonas.pt/monica_rector.htm)
12.9.2013 - F.
BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO RECORTE / CIDADE DE FORMOSA / GOIÁS / BRASIL, ANO I, Nº 12 - PERIODICIDADE: QUINZENAL - 1ª quinzena de SETEMBRO de 2013, 12.9.2013 - Editor responsável: Cláudio Ramalho / e-mail: [email protected], endereço: R. 1, Cs. 952, Pq. Laranjeiras, 73.805-610 - Formosa-GO, Brasil - Editor da RECORTE (Revista anual de Teoria da Literatura, Comunicação e Semiótica): Rogel Samuel - Redator: Cláudio Ramalho - Revisor e copidesque: Flávio Bittencourt - Orientador editorial (in memoriam): Reynaldo Jardim - Diretor Honorário da Associação Recorte de Comunicação, Media e Semiótica: Umberto Eco.
Sócios-correspondentes da Associação Recorte:
Varsóvia (Polônia): Jerzy Pelc
Helsínque (Finlândia): Eero Tarasti
Paris (França): Rafael Mário Hime
Perpignan (França) [in memoriam]: Gérard Deledalle
Lafayette, Indiana (EUA): Floyd Merrell
Brasília/início Asa N: Cleber José Coimbra
Brasília/ponta Asa N: Herondes Cezar
Brasília/início Asa S: Athos Cardoso
Brasília/ponta Asa S: Sandro Machado
Brasília (in memoriam): Profª. Regina (SQN 216 [Dona Helena, pseudônimo literário])
Brasília/Condomínios do Lago (SHDB): Sílvio Rocha
Sobradinho/DF: Geraldo Lima
Teresina: Dílson Lages Monteiro
Fortaleza: Jorge Tufic
Recife: Eduardo Henrique Accioly Campos
Manaus: Jair Jaqmont Cantanhede
Boa Vista: Maurício Zouein
Campos dos Goytacases: Frederico Schwerin Secco
Rio de Janeiro/Copacabana: Frank Fragoso Willye
Rio de Janeiro/Urca: Rogel Samuel
Rio de Janeiro/Vila Isabel: Luiz Cesar Saraiva Feijó
Rio de Janeiro/Tijuca: Miguel Carqueija
São Paulo: Norval Baitello Júnior
The Charles S. Peirce 2014 International Centennial Congress
As Artes como sistemas comunicativos – o intercâmbio de signos no universo do possível. O fenômeno da invenção visto pela sua ontologia. É a arte semioticamente cognitiva?",http://www4.pucsp.br/cos/docentes/ivo_assad.html]
Francisco Miguel de Moura [AUTOR DA RESENHA QUE SE SEGUE]
Eduardo Neiva [AUTOR DO LIVRO RESENHADO] - Introdução a Popper
Finalmente, temos em mão o livro que fazia falta: O Racionalismo Crítico de Popper, de Eduardo Neiva Júnior, Editora Francisco Alves, Rio, 1999. Seu autor é piauiense e leciona na Universidade de Alabama at Birmingham, nos Estados Unidos, onde também dirige o Centro para Pesquisa em Comunicação. E pasmem os que não foram vê-lo e ouvi-lo, na Academia Piauiense de Letras, no dia 5 de setembro do corrente ano, onde ministrou uma magna aula de filosofia sobre assuntos ligados à comunicação, baseando-se especialmente no filósofo K. Popper, seu autor preferido: – Simples, claro, ameno, agradável é o seu discurso falado, tal como o escrito, no livro.
Longe de mim a pretensão de querer resumir o pensamento de Eduardo Neiva, ao interpretar Karl Popper. Muito menos a teoria desse filósofo, um dos mais importantes e profundos do século, senão o mais. E não só isto: que, certamente, será o filósofo do próximo século XXI, como Marx o foi deste século. O popperismo é uma cosmologia onde cabem tanto a "propensidade" – uma nova interpretação objetiva da probabilidade – quanto o estudo sobre a liberdade e a sociedade aberta. "Popper entende que as questões de teoria do conhecimento carregam consigo os problemas centrais de tudo que nos cerca. A teoria do conhecimento não é apenas parte da filosofia. Posições tomadas face à questão do conhecimento repercutem por toda parte, atingindo horizontes cada vez mais amplos, tais como a ética e a política. A obra de Popper reflete esses pressupostos, já que se origina no exame do método das ciências empíricas, mas acaba por oferecer teses influentes a propósito da vida social, da consciência dos indivíduos, de seus corpos e do cosmos ao redor." (p.83).
Pensava eu que, dentre os piauienses, apenas o Prof. Raimundo Nonato Monteiro de Santa era popperiano – este mestre da filosofia da ciência e divulgador do método de Popper, conhecido de todos nós. Eis que nos surge esse sábio moço, Prof. Eduardo Neiva, para nossa alegria e, melhor dizendo, para nosso proveito.
O leitor de Eduardo Neiva logo vê, no primeiro capítulo do livro, uma clara introdução ao pensamento de Popper, desde a condenação do método indutivo ("a indução inexiste e não pode servir como critério demarcador do conhecimento", p.15) à confirmação da dedução como excelência para a filosofia da ciência ("o conhecimento científico é hipotético e dedutivo; o cientista introduz uma hipótese que é, então, testada empiricamente", p. 15).
E daí segue Eduardo Neiva descrevendo, historiando, interpretando o filósofo: "Já há meio século Popper percebera afinidades entre o fascismo e as revoluções comunistas" (p. 18). Não é que Popper condene in limine a tradição, tudo o que passou, sem consideração e detido exame. Mesmo porque, procedendo dessa forma, condenaria sua própria teoria da inexistência de verdades a priori. Assim, algumas vezes mostra-se admirador de contribuições localizadas de Sócrates, Hume, Kant, Marx e de seu contemporâneos Alfred Tarski e Charles Sanders Peirce. Mas em Marx, por exemplo, critica a inevitabilidade histórica e a defesa da ação condutora do Estado, as quais em última análise conduzem à desqualificação da democracia.
Portanto, o livro de Eduardo Neiva não se limita a uma descrição do popperismo, muito menos constrói uma paráfrase da teoria. A finalidade de divulgar o mestre, como muito se tem visto por aí, é claro que existe. Mas extrapola essa primeira intenção e, com um jovem filósofo, Eduardo Neiva acrescenta sua crítica, levemente, em alguns pontos, como esta, só para dar um exemplo: "Popper julga Aristóteles como sendo subserviente a Platão, o que me parece um exagero" (p. 63), provando que recebeu bem a lição do mestre, quando repete com ele que "nesse mundo, deve-se refutar mais do que aceitar" (p.58), tal como as afirmações de que "qualquer suposição pode em princípio ser criticada. E o fato de todos poderem criticar constitui a objetividade científica." (p. 88).
Entrementes, é a partir do capítulo 2, quando discorre sobre "linguagem e verdade", que encontraremos o escritor e filósofo piauiense/norteamericano mais solto, comentando, interpretando e criticando os antepassados que trataram do mesmo problema, especialmente Sócrates, Platão e Aristóteles, num "chou" de conhecimento e percuciência. Essa performance de Eduardo Neiva prossegue nos capítulos seguintes, sobre "conhecimento" e "sociedade, indivíduo e universo", onde critica severamente o psicologismo e a psicanálise, portanto o velho Freud, e mostra a parte teórica de Popper aplicável ao social.
Em sua palestra, na APL, numa espécie de "boutade" conta que leu a seguinte inscrição, num banheiro público: "Marx morreu, Freud morreu! Estou-me sentindo mal."
Realmente, após da imensidade dos conhecimentos que Popper nos indica e nos sugere, criticando o passado filosófico da humanidade, vemo-nos diante de um mundo novo e diferente, apontado para a sociedade aberta, a liberdade e a democracia, diferente daquele em que as ideologias fizeram tantos estragos. É bom que a verdade que ele já pôde nos mostrar, livre de determinismos, positivismos e outras ficções, seja o caminho para a sociedade futura, racional e crítica, sem utopia. Essa sociedade aberta ao indivíduo, à crítica e à participação democrática, com todos os seus percalços, perigos e enganos, e que se renova numa velocidade impressionante e nos deixa tontos, embora nos faça sentir mal por algum tempo, por falta de referentes, é melhor do que a sociedade do passado, cheia de ódios, guerras e destruições coletivas, inúteis. E avaliam os otimistas que o mundo de hoje está produzindo melhores condições de vida para os chamados "excluídos" que todas as utopias e dogmatismos juntos, religiosos ou não.
O livro de Eduardo Neiva termina com um capítulo sobre a vida de Karl Popper e um glossário filosófico precioso, indispensável.
Mais não tenho condições intelectuais para dizer nem espaço para usar. Portanto, é ler e comprovar. O livro é imperdível Pois, como diz Eduardo Neiva: "A certeza implícita de que o conhecimento é redenção coletiva nos inspira a busca de hipóteses que possam ser representações verdadeiras. O saber envolve todos os seres humanos."
"Meio Norte", 29-9-2000