Blog debate criação de capas de livros

Ricardo Araújo

Samir Machado de Machado fica intrigado. Desconhece como as pessoas descobrem e se interessam pelo SobreCapas (sobrecapas.blogspot.com), página que mantém na internet para apresentar capas de livros e discutir sobre os projetos gráficos. E o interesse vem aumentando. Com pouco mais de um ano (o primeiro post é de 13 de outubro de 2009), o blog recebe uma média de 70 visitas por dia.

O projeto surgiu despretensioso, como forma de arquivar informações. “Toda hora pesquiso nos sites das editoras exemplos que salvo e posto no blog para ter como referência”, revela Samir, que trabalha com design de livros há cerca de 10 anos, é um dos editores da Não Editora e também um dos responsáveis pela concepção dos projetos gráficos da empresa.

O SobreCapas supre uma ausência de publicações no Brasil centradas no design de livros. Ao trazer a discussão para o português, também abriu espaço para a criação nacional, pois a maioria dos que havia eram americanos e, portanto, falavam sobre capas americanas. O fato de mostrar o criador dos projetos é o grande trunfo do blog, que mescla apresentação, entrevistas e reflexões sobre os trabalhos.

Samir entende que uma boa capa precisa ser sincera na relação com o conteúdo da obra e sintetizar o clima criado no livro. Porém, mesmo trabalhando com elas e se confessando um apaixonado pela criação, acredita que não é uma boa capa que venda um livro. “A função é fazer com que o leitor se interesse pelo livro e o pegue na mão. Se gostar, ele lê a contracapa, se a contracapa for boa, passa para a orelha, e se a orelha continuar interessante, fecha o ciclo e compra o livro”, projeta Samir. Mas ele mesmo é a exceção para seu postulado e já acabou enfeitiçado pelo projeto gráfico. “A única vez em que comprei um livro pela capa foi uma que o Marcelo Martinez criou para O rei do inverno (de Bernard Cornwell, editora Record), um livro de aventura histórica sobre o Rei Arthur”, admite. Era uma sobrecapa impressa em papel metálico que causava impacto na estante. “O verniz é carne de vaca, todo mundo usa e às vezes acaba ficando brega, mas um trabalho como esse é outra coisa. Por sorte o livro ainda era bom”, minimiza Samir.

O blog pode ser considerado reflexo de uma nova mentalidade quanto à aquisição de uma obra. Samir acredita que hoje em dia, mesmo com a digitalização de livros, quem compra um caderno de papéis também está valorizando o trabalho gráfico desenvolvido com cuidado. O mercado brasileiro, aponta o editor, divide-se entre antes e depois do surgimento da editora Cosac Naify, a quem atribui um significativo crescimento do nível dos projetos editoriais. “Se tu podes fazer com que o livro fique mais bonito, por que não fazer? Afinal, literatura é arte, e por que não tentar espelhar o conteúdo também na capa?”, provoca Samir.

Ricardo Araújo é escritor e doutor em Literatura