Biologia na Ficção Científica

Eduardo Torres disserta com brilho sobre esse assunto científico/ficcional.

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

"A atriz americana Sigourney Weaver [celebrizada, também, por suas atuações perfeitas nos filmes de FC Aliendenunciou, em entrevista coletiva, a 'distorção' e o 'sensacionalismo' com que Hollywood trata o mundo árabe. Segundo ela, é preciso ter prudência por causa do 'efeito profundo que os filmes têm sobre as pessoas'. Sigourney acredita que a eleição de Barack Obama pode transformar as coisas (...)".

(http://palavracult.wordpress.com/2008/11/)

 

 

 "[À direita, na foto] Natascha McElhone [que trabalhou com Viola Davis, G. Clooney e outros grandes atores no filme, lançado em 2002, Solarisat a paediatric hospital in Lubango, Angola, which treats maternal and newborn tetanus"

(http://www.irishtimes.com/newspaper/magazine/2009/1010/1224256064873.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

O ator George Clooney em Solaris, formidável produto de FICÇÃO CIENTÍFICA,

cujo título evoca a grandiosidade da produção literária polonesa, a qualidade

do cinema soviético dos anos 1970 e a inteligência pragmático-mercadológica da

indústria cinematográfica dos EUA, com as conhecidas cifras astronômicas

envolvidas em produções por toda parte exibidas (em salas de projeção) e

reexibidas (pela televisão & vídeo e por outros meios eletrônicos de reprodução

audiovisual)

(http://www.themoviespoiler.com/Spoilers/solaris.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VIOLA DAVIS, QUE TRABALHOU EM SOLARIS, COM McELHONE, CLOONEY E

OUTROS NÃO MENOS TALENTOSOS ATORES

(A FOTO, SEM A LEGENDA ACIMA DIGITADA, ESTÁ, NA WEB, EM: http://www.usatoday.com/life/people/2009-02-17-viola-spotlight_N.htm)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

JÚLIO VERNE (1828 - 1905): precursor da FC

(http://ronyvaldo.wordpress.com/2008/09/30/julio-verne/)

 

 

(http://planetadisney.blogspot.com/2009_02_01_archive.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A tradução de JÚPITER À VENDA à venda

(http://maisbook.blogspot.com/2008/07/jpiter-venda-isaac-asimov.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

SIR ARTHUR C. CLARKE, RADICADO NO SRI LANKA (antigo CEILÃO):

ALGUNS DE SEUS AMIGOS E COLABORADORES INFAUSTAMENTE

DESAPARECERAM SOB A VIOLÊNCIA DO TSUNAMI, EM DEZ./2004

(Só a foto, sem a legenda acima conferida:

http://lirneasia.net/tag/matara/)

"The tsunami has touched around 800 000 Sri Lankans on the 26 th of December 2004:
- 38 000 people are dead
- 500 000 people were moved.
- 80 000 houses were destroyed or damaged"

(http://www.studentsoftheworld.info/sites/country/5452.php)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

"Sir Arthur Clarke visiting Colombo [Sri Lanka] University's telescope dome in 2004"

(http://thilinaheenatigala.blogspot.com/2008/12/from-trincomalee-to-mars-journey-of.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BRAULIO TAVARES: escreve (como também o faz

Miguel Carqueija, outro respeitado autor brasileiro

de FC) regularmente neste ENTRE-TEXTOS

(http://ozlopesjr.multiply.com/journal/item/231)

 

 

 

 

(http://www.movieguys.org/weaver-talks-about-the-future-of-ellen-ripley-361087.html)

 

 

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
ALIEN vs PREDADOR
 

 

 

 

                                                        Aos atores  S. Weaver, V. Davis, N. McElhone e G. Clooney,

                                                        que se transformam, para o deleite de seus milhões de fãs,

 

                                                         aos escritores e estudiosos da FC Braulio Tavares,

                                                         Moacy Cirne [de quem fui aluno em quatro disciplinas, no IACS/UFF],

                                                         Athos Cardoso,

                                                         Alberto Francisco do Carmo,

                                                         Eduardo Torres e

                                                         Miguel Carqueija,

                                                         com amizade e

                                                         grande admiração e

 

                                                          em memória de Jules Gabriel Verne,

                                                          Isaac Asimov (Айзек Азимов),

                                                          Stanislaw Lem,

                                                          Andrei Arsenyevich Tarkovski (Андре́й Арсе́ньевич Тарко́вский),

                                                          Stanley Kubrick,

                                                          François Truffaut e

                                                          Arthur Charles Clarke

                                                           

 

 

17.2.2010 - Eduardo Torres, o autor do texto adiante (com a autorização dele) transcrito é o atual presidente do CLFC - Clube de Leitores de Ficção Científica. O artigo é apenas um entre vários outros estudos nos quais esse escritor e pesquisador deixa claro que conhece profundamente o gênero. A FC, aliás, é considerada particularmente interessante no âmbito desta Coluna do Entre-textos.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

Advertência do autor do artigo: "(...) [O artigo] Não está hoje disponivel em lugar nenhum na net.  (...) autorizo a sua publicação exclusivamente no Portal ENTRE-TEXTOS, registrada a autoria e indicado meu e-mail de contato, permitido o download exclusivamente para uso pessoal sem fins comerciais" (Eduardo Torres, em 16.2.2010). [E-mail de Eduardo Torres: [email protected]] 

 

 

 

"Biologia na Ficção Científica

por Eduardo Torres

 

Os que nunca viram um marciano vivo dificilmente podem imaginar o estranho horror do seu aspecto. A boca característica aberta em V, com o lábio superior pontudo, a ausência de testa, a falta de queixo por baixo do lábio inferior que forma ângulo, o tremor incessante dessa boca, os tentáculos gorgônicos, a respiração tumultuosa dos pulmões numa atmosfera diversa, a evidente lentidão e dificuldade de movimentos, devidas à maior energia gravitacional da Terra e, principalmente, a extraordinária intensidade dos olhos - tudo isso me produziu uma sensação semelhante à náusea.

Guerra dos Mundos, H. G. Wells (1898)

Nada como o racionamento do oxigênio para manter um embrião abaixo do normal. Ele esfregou as mãos de novo... – Quanto mais baixa a casta, disse o Sr. Foster, menor é a quantidade de oxigênio. O primeiro órgão afetado é o cérebro... – Mas nos Ipsilones ... não necessitamos de inteligência humana. Não se necessita e não se obtém. Mas embora a mente do Ípsilon esteja madura aos dez, seu corpo só estará pronto para trabalhar aos dezoito longos anos de imaturidade supérflua e desperdiçada. Se o desenvolvimento físico pudesse ser acelerado até alcançar a rapidez do da vaca, que economia enorme para a Comunidade!

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley (1931)  

Como não admirar a simetria que ela apresenta? Um parasita entre uma espécie e outra, capaz de viver de qualquer outra forma de vida que respire, seja qual for a atmosfera em causa ... Seu único propósito é reproduzir-se, isto é, fazer outros da mesma espécie, o que consegue com suprema eficiência. Não existe nada na experiência da humanidade que se compare a isso... Os parasitas que o homem está acostumado a combater são mosquitos e artrópodes infinitesimais ... Esta criatura está para eles em selvageria e eficácia como o homem está para o verme em inteligência.

O Oitavo Passageiro (Alien), Alan Dean Foster (1979) 

 

Nos livros e filmes de Ficção Científica, principalmente na hard-FC, mas também na soft-FC - onde a narrativa, embora centrada mais em aspectos psicológicos e sociais, exige freqüentemente um "pano de fundo" hard - existe sempre uma preocupação dos autores de criar um enredo com verossimilhança científica e tecnológica. Muitos escritores têm formação científica e as melhores produções da TV e do cinema contratam "assessores técnicos" para evitar absurdos e inconsistências nos roteiros.

Mas enquanto a Física, a Astrofísica, a Astronomia e a Astronáutica têm tradicionalmente merecido um certo respeito e um esforço de se fazer um "dever de casa" por parte de autores e roteiristas, a Biologia permanece como o patinho feio das Ciências nas obras literárias, cinematográficas e televisivas de FC.

Num certo sentido, os aspectos biológicos sempre estiveram presentes – e em muitos casos como principais – nas obras de FC desde antes da Golden Age. Espécies alienígenas encontradas em planetas distantes ou invadindo a Terra com intensões malévolas são um tema recorrente da FC. A manipulação biológica de seres humanos antes do nascimento é o eixo central da trama de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado no início dos anos trinta (aliás, bastante consistente em suas especulações). Nas últimas décadas desse século (e milênio), o rápido avanço da genética permitiu técnicas de se alterar o DNA de vegetais e animais, escaneamento rápido de características hereditárias, com mapeamento e seqüenciamento de genomas completos e a clonagem de mamíferos a partir de núcleos de células somáticas adultas. Experiências com úteros artificiais estão também cada vez mais aperfeiçoadas. Essas revoluções científicas com importantes conseqüências sociais colocaram a Biologia num novo patamar de relevância nas tramas de FC, que, como é da sua natureza, especula sobre os impactos das novas tecnologias na sociedade humana.

É de se lamentar, porém, um certo descompasso entre os conhecimentos biológicos da maioria dos autores de FC, principalmente em filmes e séries de TV, e aqueles mínimos necessários para se construir um enredo verossímil. Parece que tem prevalecido, na maioria dos casos, uma certa despreocupação com a consistência científica. Não se dão ao trabalho nem de inventar uma tecnobabble biológica aceitável. Talvez supondo que, diferente dos aspectos físicos e astronômicos, os leitores e espectadores não perceberiam os erros em Biologia, mesmo que verdadeiras sandices lhes fossem impostas.

Os principais temas biológicos (e suas correspondentes distorções) que têm permeado a recente safra de FC podem ser sumarizados como a seguir:

1) Universalidade do DNA

Praticamente está implícito em quase todos os filmes e series de FC que o DNA é a molécula na qual se armazena o código genético de todos os seres vivos do universo, inclusive os mais estranhos alienígenas. O DNA é de fato usado com essa função por todos os seres vivos terrestres.

Mas quem disse que isso também é verdade para todo o universo? De fato, é altamente improvável que o DNA pudesse existir fora do ecossistema terrestre. O DNA é uma molécula que foi criada pela evolução da vida na Terra. Não se sabe exatamente quando foi criada, mas certamente não existia nos estágios iniciais da vida em nosso planeta. Hoje, no entanto, todos os seres vivos terrestres a usam (com algumas exceções de retrovírus, que usam RNA, mas o RNA faz parte também do processo geral de síntese de proteínas). Mais ainda, todos usam o mesmo código genético de uma seqüência de cada três determinados nucleotídeos no DNA codificando a incorporação de um certo aminoácido na síntese de cadeias proteicas em nossos organismos. Nada mais arbitrário que um código. O fato de que toda a vida na Terra usa o mesmo código genético é, aliás, uma forte evidência da origem comum da vida em nosso planeta. O DNA é uma complexa estrutura molecular criada a partir de bilhões de escolhas evolutivas selecionadas em bilhões de anos de evolução em nosso ecossistema. Mesmo supondo que seres alienígenas tenham moléculas que funcionem como nossos genes, codificando a síntese de suas moléculas constitutivas, a probabilidade de que essas informações estejam armazenadas numa molécula exatamente igual ao nosso DNA é, para todos os efeitos práticos, zero. Ter o mesmo código genético, então, é completamente impossível. Seria mais provável encontrar aliens falando português. Roteiros de séries de qualidade, como do universo Star Trek e Babylon 5, no entanto, não se dão conta dessa inconsistência biológica.  

2) Incompatibilidade Metabólica

A vida é um jogo de cartas marcadas. Tudo que é vivo na Terra forma uma comunidade fechada. As moléculas que usamos em nossos metabolismos são estereoisômeros específicos (estereoisômeros são moléculas de mesma fórmula, estrutura e propriedades químicas, diferindo apenas na orientação espacial de seus átomos). Dezenas de outros estereoisômeros seriam possíveis da maioria das moléculas orgânicas que consumimos como alimento ou que compõem nossos tecidos. Mas só usamos um de cada molécula. São assim que são sintetizadas ou absorvidas por todos os organismos. Arthur C. Clarke chegou a escrever um interessante conto em que uma máquina desmaterializava e tornava a materializar uma pessoa e, na "nova versão", ela não conseguia digerir os alimentos normais, só seus estereoisômeros ópticos (moléculas que são como imagens no espelho). Custava uma fortuna para sintetizar esses isômeros, pois não existem na natureza. Nossos sistemas digestivos são feitos para quebrarem determinadas macromoléculas em constituintes menores específicos que serão usados para remontagem, como as proteínas, quebradas em vinte específicos aminoácidos, que funcionam como "blocos de montagem" para síntese de nossas próprias proteínas. Por que só esses vinte? Porque provavelmente, num passado longínquo, tal como os estereoisômeros escolhidos pelos primeiros seres vivos, eram os mais viáveis para sua função. Acabaram fixados através da seleção natural, como um fenômeno QWERTY, embora qualquer outro grupo de aminoácidos (ou estereoisômeros) pudesse cumprir sua tarefa (os chamados fenômenos QWERTY ocorrem quando escolhas iniciais arbitrárias acabam se fixando, pois torna-se difícil voltar atrás após sua popularização, mesmo que depois se descubram soluções melhores – o nome é referência às seis primeiras letras dos teclados das máquinas de escrever, o efeito QWERTY mais famoso). Qual a conseqüência disso tudo? Que seria altamente improvável que pudéssemos comer qualquer coisa alienígena ou fôssemos comidos por seres de outros planetas. Arthur C. Clarke mostrou esse efeito em 2061 quando o ser aquático de Europa vomita sua "comida terrestre". Mas parece que poucos roteiristas leram esse livro.

3) Infecções Alienígenas

Pelos motivos genéticos citados no item 1 podemos praticamente eliminar a hipótese de uma infecção virótica alienígena. Por quê? Porque um vírus infecta uma célula dominando sua maquinaria celular para que passe a usar o genoma do próprio vírus como molde para síntese de novos vírus. E as organelas de síntese proteica de todas as células terrestres usam, conforme vimos, o mesmo único e arbitrário código genético de três nucleotídeos para cada aminoácido. Esses nucleotídeos (usualmente abreviados por G, A, T e C – daí, aliás, o título do filme Gattaca) são arbitrários, assim como os vinte aminoácidos que formam as proteínas. São o resultado de mutações randômicas e seleção natural no ambiente terrestre por bilhões de anos. Mesmo que vírus alienígenas usem proteínas formadas por aminoácidos, a maquinaria celular terrestre de síntese proteica seria inteiramente inadequada para eles. Eles não fazem parte de nossas "cartas marcadas". São feitos para infectar células de seus próprios ecossistemas – supondo que a vida alienígena tenha células. Quanto a infecções bacterianas, não dependentes de mecanismos genéticos, pelos motivos de incompatibilidade metabólica citados no item 2, também devem ter muito pouca probabilidade de ocorrer. Mesmo na Terra, não esqueçamos, infecções tem uma

profunda ligação infectante/infectado, resultado de milhões de anos de evolução paralela. Vírus e bactérias que afetam uma espécie são inteiramente inofensivos para outras. E a provável "imunidade" vale não só para terrestres sujeitos a microrganismos alienígenas, como o inverso. Embora seja um clássico, a Guerra dos Mundos de H. G. Wells é inverossímil nesse ponto, ao mostrar marcianos doentes por causa de germes terrestres. Claro que a "imunidade" só valeria onde houvesse a necessidade de uma improvável interação genética/metabólica entre vida terrestre e vida alienígena. Se fosse apenas o caso de utilização direta de recursos ambientais terrestres inorgânicos pelos organismos alienígenas, não se poderia eliminar a hipótese de uma "infecção planetária".

4) Cruzamentos entre Terrestres e Alienígenas

Fascinante tema da FC, não é mesmo? Mas temos que ter em mente o seguinte: Há mais semelhanças genético-biológicas entre um homem e uma lula do que com qualquer ser alienígena que possamos encontrar. Todos os seres terrestres têm seu código genético espalhado por segmentos de DNA chamados cromossomas. Nos seres sexuados existem células sexuais com metade desses cromossomas, de modo a compor um conjunto completo com metade dos cromossomas vinda do macho e metade vinda da fêmea. O sistema é tão específico para cada espécie que, embora usando a mesma molécula armazenadora das informações genéticas, o mesmo código genético, a mesma estrutura de divisão das informações genéticas por cromossomas, o mesmo tipo de divisão de metade dos cromossomas em cada células reprodutiva, mesmo assim, são raríssimos os casos de cruzamentos viáveis inter-espécies na Terra, mesmo de espécies próximas na linha evolutiva (de fato, esse critério é usado como fator de diferenciação entre espécies). E muitos desses poucos casos, quando ocorrem, geram indivíduos estéreis. Imaginemos agora dois seres vindos de linhas evolutivas diferentes, com moléculas armazenadoras de informações genéticas diferentes e dispostas em diferentes tipos de segmentos, códigos genéticos diferentes, estrutura intra-celular diferente. Mesmo supondo que existam seres alienígenas sexuados e que existam só dois sexos nesses seres, a probabilidade de que ocorram cruzamentos viáveis com terrestres, ainda que por inseminação artificial in vitro - para nem levarmos em conta previsíveis dificuldades, digamos, anatômicas do processo - deve ser ainda menor que as chances de existir DNA extraterrestre.

5) Alienígenas Humanóides

Se o "filme da evolução" pudesse ser "rebobinado" na Terra e "passado" de novo, as formas de vida hoje seriam completamente diferentes. Foram tantas escolhas genéticas selecionadas de um menu randômico de mutações em bilhões de anos, que a história da vida na Terra tomaria caminhos inteiramente diversos. Mais diferentes seriam as novas espécies surgidas do novo "filme" do que hoje são os mamíferos comparados com moluscos ou árvores, embora vindos do mesmo processo evolutivo, no mesmo planeta e com uma origem comum. Imaginem então uma linha evolutiva partindo de uma origem diferente, num ambiente diferente, e seguindo uma evolução diferente. Podemos até especular que talvez algumas características fossem gerais, como os órgãos dos sentidos concentrados num ponto do corpo, ou o corpo dividido em segmentos de controle, suporte de vida e locomoção, como muitos organismos terrestres (incluindo nós mesmos). Mas, mesmo na Terra, temos organismos com sensores por todo o corpo (tato para a maioria e

detectores de pressão em peixes). Temos diferentes formas de locomoção, como patas, barbatanas, tentáculos e asas. Temos 11 tipos diferentes de olhos na natureza, da faixa do infravermelho até o ultravioleta. E sonares em morcegos e cetáceos. E comunicações químicas com feromônios em insetos. Quem pode prever que tipo de sentidos teria uma espécie alienígena? Rádio? Microondas? Vibrações? Eletricidade? Magnetismo? Existiriam indivíduos ou um único organismo formado por indivíduos-células? Moral da história: Mesmo nos chamados planetas "classe M" de Star Trek, de ambiente e gravidade semelhantes aos da Terra, a probabilidade de existirem seres alienígenas humanóides é muito próxima de zero.

6) Clonagem

Esse é o tema quente do momento. Desde a ovelha Dolly passou a fascinar o grande público. A possibilidade de duplicação de seres humanos em escala industrial e a manipulação genética de embriões despertam ao mesmo tempo atração e temor. E os roteiristas de FC atacaram o filão com apetite. Mas esses processos não são coisas inteiramente novas. Os clones vegetais são tão velhos quanto a agricultura. Sempre que plantamos vegetais a partir de mudas retiradas de um único indivíduo criamos vários clones a partir de uma matriz genética original. Pois um clone é apenas isso: Uma cópia genética. Um gêmeo é um clone de seu irmão. Já se havia obtido clones de anfíbios a partir da introdução de um núcleo de célula somática adulta em um óvulo desnucleado desde os anos 50. Dolly trouxe apenas o grande avanço de se obter o mesmo resultado com mamíferos, abrindo o caminho tecnológico para a clonagem de humanos. Mas para se obter um clone adulto temos que esperar vinte anos, como qualquer outra criança, pois um clone é um embrião como qualquer outro, com a única diferença de ter o mesmo genoma de outro indivíduo. Esse simples fato parece, contudo, passar despercebido da maioria dos roteiristas de FC, como em Alien 4, onde vemos um clone de Ripley surgir instantaneamente adulto (sem falar na "fusão" do DNA de Ripley e do Alien, inconsistência que já discutimos anteriormente). Um outro exemplo instrutivo de falta de "dever de casa" foi um episódio de Star Trek The Next Generation, onde vemos um planeta habitado por clones de seis únicos indivíduos. O roteiro explica o motivo: Havia um projeto de colonização, mas a nave sofreu um acidente e quase todos os colonos morreram. A solução para aumentar rapidamente a população foi clonar as duas mulheres e os quatro homens. Pareceu tudo bem lógico ao roteirista. Mas o que tem a ver a necessidade de aumentar rapidamente a população com a clonagem daqueles indivíduos? Não seria mais fácil e geneticamente mais diversificado simplesmente recolher o esperma dos homens e os óvulos das mulheres e fazer fertilizações in vitro de tantos novos indivíduos quanto possível? Para obter um clone teriam que remover o núcleo dos óvulos e substituí-los por núcleos de células somáticas. Por que não usar logo o núcleo original do óvulo já com um conjunto randomicamente escolhido de metade dos cromossomas das mulheres doadoras? Por que não fertilizá-los com espermatozóides dos homens com um conjunto análogo de cromossomas, num processo bem mais simples e eficiente? Assim, teriam indivíduos geneticamente diferentes no final, embora partindo do mesmo pool de genes original dos seis indivíduos. Clones seriam mais difíceis de produzir e trariam um empobrecimento genético `a comunidade. O verdadeiro limitador do processo seriam de fato os úteros artificiais necessários, pois, com apenas os úteros naturais das duas mulheres, o crescimento da população estaria evidentemente limitado. Mas o assunto dos úteros artificiais não foi sequer discutido no episódio. Na

verdade, o clone de Riker aparecia se "desenvolvendo", já em tamanho adulto, como uma massa disforme, numa espécie de "incubadora", num processo que seria impossível para o desenvolvimento real de um ser humano, mas que parece ter sido incorporado à "mitologia" dos clones em roteiros de FC na TV e no cinema.

7) Engenharia Genética

Outro tema da moda, estimulado pela polêmica dos alimentos transgênicos. Manipulação genética de embriões criando crianças de encomenda, eugenia, escaneamentos genéticos e curas genéticas também aguçam a curiosidade do público. Nesse caso parece que os roteiristas estão ainda tímidos, o que tem diminuído o índice de absurdos (ou têm até acertado a mão, como no já citado Gattaca). Tem havido, por outro lado, um certo exagero de "identificações genéticas" como segurança em portas e arquivos. Na verdade isso não é muito seguro. Nosso código genético é único, mas está espalhado por todas as células de nosso corpo. Seria facilmente obtido em resíduos como cabelos ou saliva. Um escaneamento de retina seria bem mais seguro. Outra coisa é a incompreensão de alguns roteiristas de que não podemos mudar nosso código genético após um desenvolvimento maior do embrião. Ele está presente completo no núcleo de todas as nossas células (exceto as sexuais, que têm só metade). Hoje não conseguimos ainda fazer uma engenharia genética "limpa", introduzindo ou removendo genes específicos dos genomas. A coisa é grosseira, usando vetores como vírus e plasmídeos para introduzir genes e vendo no final o que foi obtido. É um processo tentativo e heurístico. Pode ser que no futuro possamos realmente "engenheirar" com precisão os genomas, mas ainda estamos longe.

8) Evolução

Esse assunto, quando tratado pelos roteiristas de FC, bate todos os recordes de asnices. Parece haver uma total incompreensão do que seja a evolução através da seleção natural no sentido neo-darwinista, tal como definido pela moderna Biologia. Vamos recordar: Genes sofrem mutação, indivíduos são selecionados, espécies evoluem. Em todo processo de cópia, como a reprodução dos genes, há pequenos erros. Esses erros causam a formação de genomas ligeiramente diferentes dos originais, que, por sua vez, causarão o surgimento de indivíduos ligeiramente diferentes. A maioria das mudanças será deletéria, muitas serão neutras, mas uma pequena minoria poderá conferir a esse indivíduo alguma vantagem na interação com o meio ambiente, aumentando suas chances de sobrevivência e reprodução. Dizemos que esse indivíduo será selecionado. Assim, na geração seguinte, esse gene modificado estará presente em sua prole e o processo prosseguirá. Após um número muito grande de gerações, a proporção desse gene que conferiu maior aptidão aos indivíduos que o possuem irá paulatinamente aumentar até fazer parte de todos os indivíduos, em mais uma etapa da evolução daquela espécie. Esses são, em linhas gerais, os princípios básicos da evolução através da seleção natural. Vemos, portanto, que a evolução não planeja, não vê à frente, não pode ter perdas a curto prazo compensadas por ganhos a longo prazo. É um processo mecânico, automático e algorítmico de pequenas etapas, cada uma se mantendo se for benéfica em si mesma. A beleza e sutileza desse processo é que é cumulativo durante um tempo inimaginavelmente longo, produzindo no final as estruturas mais elegantes e complexas da natureza. A influência do ambiente nos indivíduos não é, portanto, direta numa relação de causa e efeito. As mudanças surgem randomicamente em função de falhas

de copiamento de genes. O ambiente faz com que algumas sejam selecionadas quando os indivíduos que as possuem são mais aptos. As que são prejudiciais morrem com os indivíduos que as possuem e que não conseguem assim passá-las à próxima geração. Com isto em mente podemos compreender o absurdo biológico das guelras que surgem em Kevin Kostner em Waterworld. O roteiro dá a entender que o ambiente aquático da Terra já estava "influenciando" a evolução da espécie humana para a respiração submarina com o surgimento de guelras. Ora, não existe, como vimos, essa "influência". O ambiente não pode criar as mudanças nos indivíduos, só selecionar as que lhes conferem maior aptidão. As mudanças ocorrem por acaso, embora sua seleção não tenha nada a ver com o acaso. As guelras foram "inventadas" pelos peixes há centenas de milhões de anos, para fazer trocas gasosas entre os tecidos do animal e a água do mar. Admite-se que os pulmões evoluíram das guelras com a formação inicial de bolsas de ar (como ainda ocorre com alguns peixes que "andam" em terra) em anfíbios primitivos, até tornar-se o sistema respiratório de répteis, aves e mamíferos. Mas nesse caso houve um ganho em cada etapa evolutiva. O caminho inverso é muito diferente. Para um mamífero passar a respirar por guelras ao invés de pulmões seu organismo teria que passar por uma verdadeira revolução no processo. Em algum momento a eficiência respiratória seria pior que os pulmões originais. E a evolução, como observamos, não pode ter perdas a curto prazo, mesmo para ter grandes ganhos no futuro. Esses indivíduos "intermediários" seriam menos aptos e não seriam selecionados. Por isso mamíferos nunca criarão guelras, nem em milhões de anos de evolução. Muito menos em intervalos de tempo inferiores a um século, como em Waterworld. Por outro lado, processos mais eficientes de respiração pulmonar seriam selecionados em mamíferos que passassem a habitar ambientes aquáticos. Seriam uma clara vantagem. Vemos com freqüência esse processo na natureza. As baleias, por exemplo, descendem de mamíferos terrestres que passaram a viver no mar há cerca de quarenta milhões de anos. E nesse período nunca criaram guelras. No entanto, evoluíram seus sistemas pulmonares para poderem passar longos períodos submersas. Para uma baleia, respirar é algo como ir ao banheiro para nós. E vivem muito felizes com seus pulmões (pelo menos até darem com um arpoador japonês ou norueguês pela frente).

9) Ecologia

Esse tópico normalmente não é muito central nas narrativas de FC. Em algumas obras as descrições do ambiente, animais e vegetais são ricas (como em Duna), mas não se aprofundam muito nas inter-relações dos organismos componentes do ecossistema. Contudo há um filme recente de FC cujo roteiro, creio que até sem essa intenção, enveredou por mostrar cadeias alimentares inusitadas. E, em termos ecológicos, saiu-se com uma inconsistência primária. Qual o filme? Matrix. Sim, isso mesmo. Um excelente filme, mas também com suas falhas em Biologia - para ver como essa ciência tem lá suas sutilezas. Creio que nessa altura todos já sabem que no filme as máquinas dominavam os humanos e passaram a usar seus corpos como fonte de eletricidade enquanto estes ficavam inertes, vivendo vidas virtuais através de interfaces neurais que executavam em cada cérebro um complexo programa de realidade virtual chamado Matrix. E o roteiro explica candidamente que as "pessoas-pilhas" eram alimentadas pelos nutrientes extraídos dos corpos dos mortos, que eram "liquefeitos" para cumprir essa função. Parece lógico, não é? Mas, vamos pensar um pouco: Você na verdade não pode alimentar pessoas numa comunidade fechada com nutrientes retirados de pessoas mortas da mesma comunidade,

como mostrado em Matrix. Isso é um absurdo ecológico. Seria algo como predadores canibais, ou predadores alimentando-se de predadores. Por isso há muito mais presas do que predadores na natureza. Que tal fazer uma continha rápida para estimar quantos cadáveres seriam necessários para alimentar cada "pilha humana" durante seu "período operacional"? Vamos reduzir a um quilo de comida por dia, devido ao provável menor metabolismo, e uma vida útil de 50 anos (viam-se pessoas aparentemente dessa idade no filme). Isso daria 50 x 365 x 1 = 18250 quilos por "pilha" durante sua fase "produtiva". Mesmo supondo que 100% de cada cadáver pudesse ser transformado em nutrientes, admitindo-se um peso médio de 70 quilos/corpo, isso exigiria 18250/70, ou cerca de 260 cadáveres para alimentar cada pessoa componente da "matriz". A conta, evidentemente, não fecha.

Esses comentários sobre consistência científica em Biologia na FC não devem ser mal interpretados. Concordo que uma boa história compensa sobejamente algumas inconsistências. Sou um eterno fã do Senhor Spock da Star Trek original, apesar de sua inverossímil origem híbrida vulcano-terrestre, sem falar na improvável semelhança entre as espécies. Mas creio firmemente que o próximo século vai ser da Biologia e da Genética, assim como esse foi o da Física. As mudanças sociais causadas pelos avanços das Bio-Ciências vão ser enormes e vão afetar a todos nós de maneira mais avassaladora que a computação e a eletrônica nos afetaram nesse último quartel do século. Temas como nanotecnologia fazendo a "manutenção preventiva" de nossos corpos, a decifração completa de nosso código genético, o avanço da medicina através de tratamentos genéticos e bio-síntese de moléculas, a perspectiva de manipulação precisa de genomas abrindo caminho para a criação de bebês geneticamente programados, o escaneamento genético instantâneo total criando o risco de discriminações sociais e mesmo de eugenia radical, com eliminação dos "geneticamente inferiores", a criação descontrolada de organismos com genomas artificiais e suas possíveis conseqüências ecológicas e a possibilidade de clonagem em grande escala de seres humanos em úteros artificiais são revoluções científicas e tecnológicas que estão criando um Admirável Mundo Novo. A ficção científica deve delas tratar, cumprindo sua tradicional função de nos apresentar o futuro hoje. Mas, para que possamos usar todo o seu potencial nessa nova arena, para que possamos, numa expressão usada pelo escritor de FC brasileiro Bráulio Tavares, "distender ao máximo nossos músculos mentais", é preciso que os autores e consumidores de FC estejam atualizados e reciclados em Biologia, a ciência que poderá, num futuro próximo, moldar nossas vidas e nossa sociedade". (Eduardo Torres)

 

[O artigo - como informa E. Torres -, foi escrito há mais de uma década (1999), mas foi objeto de revisão em 2003, tendo sido enviado por Eduardo Torres à Coluna "Recontando estórias do domínio público" em fevereiro de 2010. Até este momento, só constava esse texto no suporte papel. O responsável por este espaço de crítica democrática, discussão viva e saudável e, como diria Sérgio Cabral (pai), risonha e franca, agradece penhorado a fidalguia dessa preciosa remessa eletrônica, via e-mail, TENDO O TEXTO CHEGADO JÁ DIGITALIZADO, ficando claro que houve um trabalho anterior: é também por essa razão que se faz necessário o registro desse agradecimento público, sincero.] 

                                                                 

                                                                                   

 

(http://cristinalasaitis.wordpress.com/2009/11/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.prometheusbooks.com/index.php?main_page=product_info&products_id=790)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    

FOTO DE CENA: A aldeia do amaldiçoados

(Inglaterra, 1960,

http://rubens-aaldeiadosamaldicoados.blogspot.com/)

 

 

(http://www.slashfilm.com/tag/arthur-c-clarke/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

O INFELIZMENTE JÁ FALECIDO CINEASTA FRANCÊS FRANÇOIS TRUFFAUT

ACEITOU O CONVITE DE SEU AMIGO STEVEN SPIELBERG PARA SER ATOR

NO FILME Encontros imediatos do terceiro grau

(http://www.starmoviesasia.tv/Movies/CloseEncountersOfTheThirdKindDirectorsCut/Guide)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ASSUSTADORAS MATERIALIZAÇÕES DE PENSAMENTOS:

SE O FILME SOVIÉTICO SOLARYS FOI A resposta russa AO

ESTRONDOSO SUCESSO DO FILME, DIRIGIDO POR S. KUBRICK,

2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, A VERSÃO CINEMATOGRÁFICO-

NORTEAMERICANA DE SOLARIS  FOI UMA ESPÉCIE DE

"retradução" hollywoodiana DA VERSÃO ANTERIOR, mas os

finais de ambas as versões não correspondem à sequência última,

poética e magnífica, do livro do escritor polonês Stanislaw Lem

(Só a capa de livro onde o ator estadunidense George Clooney

aparece, sem a legenda lida logo acima, está, na Web, por. ex., em:

http://agresticism.org/furrow/2003/6/17/bits_and_pieces/;

OBS. - NESSA CAPA, A ÚLTIMA LETRA DO PRIMEIRO NOME DE LEM

ESTÁ INCORRETAMENTE GRAFADA: veja, abaixo, o nome do autor

brasileiro de obras de cunho filosófico-esotérico PAULO COELHO,

da Academia Brasileira de Letras, escrito erroneamente na capa

da recente edição espanhola de mais um best seller do escritor!)

  

 

 

(http://www.passeiodasestrelas.com/2009/01/24/filmografia-de-david-fincher/)

  

 

(http://amigosdohomerblog.blogspot.com/2008_07_01_archive.html)

 

 

(http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL196062-7086,00-CANAL+DE+TV+EXIBE+OS+FILMES+PARA+ASSISTIR+ANTES+DE+MORRER.html

 

 

ARQUITETURA DE OSCAR NIEMEYER EM NITERÓI, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL:

projeto inspirado no design futurístico de naves espaciais (Museu de Arte Contemporânea)

 

 

MAC - Niterói

 
mac niterói

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Finalizado em 1996, o MAC, Museu de Arte Contemporânea, levou cinco anos para ficar pronto. Ele foi projetado pelo arquiteto brasileiro, mundialmente conhecido, Oscar Niemeyer, e foi construído na cidade de Niterói-RJ.

Além do formato diferente, que leva algumas pessoas a chamarem-no de "disco voador", e das exposições de arte, há uma bela vista tanto de dentro quanto de fora do MAC, das cidades de Niterói e do Rio
". (http://arquitetura-radical.blogspot.com/2008/10/mac-niteri.html)
 
 




mac niterói

(http://arquitetura-radical.blogspot.com/2008/10/mac-niteri.html)