Austrália: formigas loucas atacam caranguejos vermelhos
Engana-se quem pensa que a pior praga na Ilha Christmas, na Austrália, é a dos caranguejos vermelhos.
Legenda, no original: "Les boîtes de crabe" [As latas de caranguejo],
quadro da estória em quadrinhos O caranguejos das tenazes de
ouro (da série de álbuns As aventuras de Tintim e Milu; Tournai (Bélgica):
Editions Casterman, 1941), criação do desenhista e argumentista belga
Hergé (1907 - 1983; http://lalongue-vue.m6blog.fr/tag/tintin)
Em respeitosa memória do jornalista e escritor estadunidense Truman Capote e do lendário ator Vic Morrow (Victor Morrow), o pai das atrizes Jennifer Jason Leigh e Carrie Morrow, nascido no Bronx, Nova Iorque, em 14 de fevereiro de 1929, que morreu filmando, em desastre de helicóptero, em 23 de julho de 1982, no condado de Ventura, sul da Califórnia (EUA)
Brasília, 16.11.2009 - Como se pode perceber na leitura da notícia abaixo reproduzida, a pior praga da Ilha Natal - ou Christmas -, na Austrália, é a de formigas que devastam caranguejos - e não a famosa praga dos caranguejos vermelhos, que passam, aos milhões, pelo meio da cidade, em ciclo anual de proliferação da espécie.
Garrincha é o guru da Coluna
Esta coluna não é científico-zoológica. Mitos e lendas, por exemplo, sobre sobre plantas carnívoras e animais aqui emergem como textos mais interessantes do que estudos científicos sobre botânica e zoologia (sem que a ciência deixe de ser considerada, é claro). Mas, também aqui, não se examinam artigos especializados na área de botânica, nem de zoologia. Há algo de antropo-lógico (ou de uma semiótica da cultura), sempre aqui, onde resiste bravamente um certo gosto, um grande gosto, aliás, por estórias simples e compreensíveis [1], no exato ângulo de percepção onde intencionalmente se ignoram as datadíssimas lutas pelo poder e pelos controles econômicos disso ou daquilo. Sempre, neste espaço, sob o guarda-chuva amigo de uma sadia (espero!) preocupação com aspectos literários e cinematográficos de fenômenos que se tornam estórias universais: poesia do conto popular, das estórias de pescadores, dos contos de fadas, dos mitos indígenas e das estórias infantis e infanto-juvenis, lá onde simplicidade, vale dizer, algo para ser lido em suaves tardes domingueiras, consegue se sobrepor às efervescências dos conflitos de interesses imediatos - "imediotas", às vezes (quando fazem adoecer) - e dos trabalhos ou estudos muito estafantes. Estórias várias, sempre aqui, além de certos fatos que aconteceram (ou não) na vida desse homem-poema que foi Manuel francisco dos Santos, o futebolista que se consagrou internacionalmente com o formidável apelido de... Garrincha [outro guru deste espaço é Abelardo Chacrinha Barbosa [2], naturalmente - e, felizmente ainda vivos, Chico Anysio, o Chaplin brasileiro, e José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", personalidades magnas do Brasil a quem mando, neste momento, os meus mais fraternos abraços].
Teatro de operações na Austrália
O interessante, no caso ora abordado, do ponto de vista literário - ou cinematográfico -, é que certa chamada jornalística ("150 milhões de caranguejos invadem uma cidade", título bombástico que remete, talvez, a um deslocamento total de habitantes, e não, quem sabe, a mera "incursão militar de anexação territorial") dá a impressão de que os tais caranguejos vermelhos, aos milhões, são um transtorno (a seres humanos, não aos próprios crustáceos, é claro). Mas não. As formigas africanas, loucas, terrivelmente amarelas, invasoras, é que são um transtorno para os caranguejos... vermelhos! Eis um dantesco cenário de guerra. Vejam bem: aí está uma plácida ilha da Oceania - um verdadeiro paraíso tropical - subitamente transformada(o) em teatro de operações (bélicas), de forma tão surpreendente quanto, por exemplo, a chegada repentina de grande manada de elefantes em A hora dos ruminantes, do escritor brasileiro José J. Veiga (ou aquele conto em que um megaengarrafamento de trânsito na rodovia Paris-Marselha surge e depois desaparece, quase que por encanto, texto literário de autoria do argentino Julio Cortázar). É possível que, nesse caso, não sejam evocados os fanáticos combates em ilhas do Pacífico, durante a II Guerra Mundial? O engraçado é que formigas e caranguejos são bichos (em nossa escala) pequenos. E isso aconteceu, mesmo, no mundo da experiência, vale dizer que um escritor não criou essa estória. Está no jornal "a coisa": a estória, o relato, o conto. Jornalistas recontam estórias do domínio público, também (e não penso apenas em colunas de crônicas). Difícil seria não dedicar este artigo a Capote.
A culpa não é dos insetos
As formigas africanas não são produto, na Austrália, de uma sabotagem ecológica. Chegaram casualmente, em navios de carga. Pacificamente. No comércio regular, intercontinental. Elas só querem viver. Mas são uma praga medonha. Contra os seres humanos? Também, mas principalmente... contra os caranguejos! Pobres caranguejos... Que sejam combatidas as formigas invasoras, então... por humanos! Estes não são tão "maus", assim. Mas, evidentemente, os navios não foram inventados por formigas. Combatendo a praga das formigas, os homens e as mulheres da ilha australiana estarão ecologicamente defendendo a praga dos caranguejos, com a qual aprenderam a conviver. Assim, a praga dos caranguejos poderá existir em paz. E o peso da culpa será removido da consciência de seres que não são formigas, nem caranguejos.
Guerra regular na Ilha
Amarelas contra vermelhos, uma guerra regular [3] na Austrália. Aí está o enredo do conto, da novela, do romance ou do filme. Ou o motivo principal desta "série televisiva", mais emocionante do que Lost - ou do que a "pré-histórica" Lost in Space (Perdidos no espaço), aquela do célebre e doentio "Dr. Smith", personagem que jamais foi, nem será, esquecido, já que encarnava o mal, entidade metafísica assustadora que, por definição, existe para incomodar.
Conclusão: o assunto passa, imediatamente, a ser objeto de nossa atenção. Mas as formigas não são as culpadas, notem bem!
A seguir, a notícia atinente. Flávio A. L. Bittencourt ([email protected])
Notas -
[1] - Sempre contra velhos preconceitos anti-cultura-popular, sendo 'cultura popular' uma esfera da cultura humana que é considerada - neste espaço "Recontando estórias do domínio público" - como a quintessência dos fundamentos últimos do prazer literário ["Esopo", ou seja, bichos conversando (http://recantodasletras.uol.com.br/biografias/621597), nesta coluna de crítica e discussão fala(m) mais alto do que "Homero", ou seja, do que guerras mediterrâneo-imperialistas (http://www.templodeapolo.net/civilizacoes/grecia/historia_civilizacao/bronze5.html)].
[2] - No "departamento" literatura infantil, não poderiam deixar de ser citados (relação incompleta): Adrino Aragão (A verdadeira festa no céu), Ana Maria Machado, Anélio Latini (cinema de animação), Angelo Agostini (quadrinhos), Coelho Neto, Erico Verissimo, Flávia da Silveira Lobo (Aves; Mamíferos), Geraldo Lima (Nuvem muda a todo instante), J. Carlos (quadrinhos), João Carlos Marinho, Leny Werneck (Estória de uma cidade contada por ela mesma), Lygia Bojunga Nunes, Manuel Bonfim, Maria Clara Machado (teatro), Sra. Leandro Dupré (Maria José Dupré), Mauricio de Sousa (quadrinhos e cinema de animação), Monteiro Lobato, Nico Rosso (quadrinhos), Olavo Bilac, Ruth Rocha, Vicente de Paulo Guimarães (o "Vovô Felício"), Viriato Correia, Ziraldo, muitos outros. [De que este colunista tenha conhecimento, o levantamento mais completo sobre esse assunto está no Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira (1882/1982), de Nelly Novaes Coelho (São Paulo: Quíron, 1983); veja outros títulos (e links) concernentes em bibliografia contida em:
http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/Bibliografia.htm; não foram citados vários ilustradores, cujas artes primorosas também integram os livros dos autores acima relacionados; sobre J. Carlos desenhando quadrinhos, algo informei, a respeito do novo livro do pesquisador Athos Cardoso, em:
http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/memorias-d-o-tico-tico,236,2402.html]
[3] - Leia-se este trecho de um especialista: "(...) De facto, na sua tentativa de padronizar o fenómeno da guerra, Jomini [JOMINI, Henri Antoine, Précis de L’Art de la Guerre, Paris: Editions Champ Libre, 1977], deixou de fora as 'guerres nationales', porque aquelas eram uma luta, não entre forças regulares de dois oponentes" [ou seja, a guerra regular] ", mas onde grande parte da população se sublevava contra o poder instituído" [Cf. p. 43 de JOMINI (1977), segundo quem o cita]. Trata-se de trecho ao qual recorreu o militar e pesquisador português Major Luís Fernando Machado Barroso (Oficial de Infantaria e Professor de Tática da Área de Ensino Específico do Exército no IESM - Instituto de Estudos Superiores Militares, Lisboa, Portugal), artigo publicado em 28.11.2007 na Revista Militar (República Portuguesa), "Combate Irregular e Natureza da Estratégia: o Caso da Subversão e Contra-Subversão nas Guerras", que consta, na Web, em http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=229).
Terça-feira, 23 de dezembro de 2008
A Ilha Christmas é um pequeno território ao norte da Austrália. Lá, sempre no último trimestre do ano, um fenômeno interessante ocorre. A reprodução e desova de mais de 150 milhões de caranguejos vermelhos (Gecarcoidea natalis).
Eles invadem a cidade em todos os pontos. Ruas, casas e escolas estão no caminho desta maré de crustáceos. A cidade inclusive tem placas indicando os caminhos principais por onde eles atravessam as ruas. Até as regras do golfe são diferentes nesta época do ano considerando ponto quando a bola é empurrada por caranguejos.
Mas isso fica ainda pior, pois cada caranguejo fêmea coloca cerca de 100 mil ovos e os minúsculos caranguejos que nascem fazem o caminho de volta passando pela cidade. Parece uma maré vermelha em todo lugar. (...)
Como o caranguejo tem uma fase larval marinha, os ovos precisam ser depositados no mar. Esta é a razão que leva os caranguejos a migrarem de suas tocas onde vivem no período seco de abril a novembro na floresta tropical até as praias, levando cerca de cinco dias para ultrapassar uma distância por volta de 8 km.
O caranguejo vermelho das Ilhas Natal está ameaçado junto com outras espécies animais e vegetais do ecossistema local por causa da invasão das formigas loucas amarelas (Anoplolepis gracilipes), umas espécie invasora africana introduzida acidentalmente por transportes humanos.
Existe um programa em andamento para o controle desta espécie de formiga na Austrália utilizando-se Fipronil. Estima-se que esta espécie de formiga já matou cerca de 30% da população original de caranguejos além de causar problemas nas plantações, afetar espécies de aves e causar uma praga de insetos homoptera (pulgões, piolhos-de-planta, etc.).
Caranguejos em seu habitat terrestre
Caranguejos chegando ao mar para a reposição de fluídos e sais e reprodução
Algumas estradas precisam ser fechadas para a travessia
Os caranguejos já fazem parte da vida cotidiana dos habitantes humanos da ilha". (http://www.pipocadebits.com/2008/12/150-milhes-de-caranguejos-invadem-uma.html)
[Comentário de "Anônimo": "Aqui no Brasil, comeriam tudo até a extinção. KKKKK",
sendo que 'KKKKK' significa, como se sabe, 'risos')
===
O SARGENTO DE COMBATE!,
VICTOR MORROW (1929 - 1982)
"Vic Morrow, a esposa e as duas filhas em 1962"
(http://www.tvsinopse.kinghost.net/c/combate2.htm)
ABAIXO, VIC MORROW SOLDADO - " O SARGENTO" - EM AÇÃO, "COMBATENDO O NAZIFASCISMO, NA EUROPA, DURANTE A II GUERRA MUNDIAL" (cinematograficamente reconstituída)
(http://www.ioffer.com/search/items/joe%20air)
NOTÍCIA DO FALECIMENTO DO GRANDE ATOR DO FILME The Glass House (1972)
CARTAZ DE UM FILME CONCEBIDO A PARTIR DE ESTÓRIA CONTADA POR TRUMAN CAPOTE, ESTRELADO, ENTRE OUTROS, POR ALAN ALDA (personagem: professor injustamente preso), VIC MORROW (personagem: presidiário "xerife", na cadeia, extraordinariamente truculento), BILLY DEE WILLIAMS (personagem: presidiário afrodescendente, que, "como Morrow", aliás, 'Hugo Slocum', exerce liderança na prisão), CLU GULAGER (personagem: novo agente penitenciário) e KRISTOFFER TABORI (personagem: jovem barbarizado "por Morrow", que é levado ao suicídio dentro do espaço prisional): UMA VERDADEIRA OBRA-PRIMA DA CINEMATOGRAFIA DITA industrial/comercial NORTE-AMERICANA, ALERTOU AUTORIDADES DE SEGURANÇA PÚBLICA NO MUNDO INTEIRO - e o público em geral - A RESPEITO DOS HORRORES QUE ACONTECEM NO DIA-A-DIA DAS PENITENCIÁRIAS. MORROW, QUE JÁ HAVIA "LUTADO CONTRA O NAZISMO" (como ator, não como soldado, em razão de sua idade), ENCARNANDO, NA PELÍCULA, UM BANDIDO ULTRAPERVERSO, COM SEU INEGÁVEL TALENTO CONTRIBUIU NA LUTA PELA HUMANIZAÇÃO DAS PRISÕES, UMA VEZ QUE O FILME É EXIBIDO EM FACULDADES DE DIREITO, SEMINÁRIOS DE AGENTES PÚBLICOS DE SEGURANÇA, ATIVIDADES DE FORMAÇÃO DE SERVIDORES GOVERNAMENTAIS - NOS QUAIS O COMPONENTE ÉTICO DE SUA ATIVIDADE É RESSALTADA -, CONGRESSOS DE FILOSOFIA, REUNIÕES ANTI-BULLYING ['bullying' (http://www.bullying.com.br/BConceituacao21.htm)
significa 'perseguição sem clemência e indutora do suicídio dirigida a colegas de escola fisicamente menos robustos ou sem proteção humanitária'] ETC.
(À ESQUERDA: OS ATORES VIC MORROW E KRISTOFFER TABORI CONTRACENAM EM 'THE GLASS HOUSE' (EUA, 1972) [http://www.answers.com/topic/the-glass-house-film] - tradução do título no Brasil: 'O SISTEMA' -, FILME BASEADO NUMA ESTÓRIA DE TRUMAN CAPOTE; FILMAGENS: PENITENCIÁRIA ESTADUAL DE UTAH, DIREÇÃO: TOM GRIES)
ABAIXO: "A scene from the series 'Combat!,' with Vic Morrow, left, 1963".
The New York Times - December 4, 2006