AUSÊNCIAS MÚLTIPLAS
Por Rosidelma Fraga Em: 24/12/2019, às 22H52
Que sentido faz o tempo,
se não haverá mais a colheita
da maçã e as uvas apodreceram?
O tempo bebeu a ausência
e me fez colecionadora
de restos e pedaços de solidão.
Não haverá mais tempo, inclusive
para dizer eu te amo no elevador...
Que razão há em perfumar a cama?
Se o mato cresceu no quintal,
os pombos devoraram as ervas,
os cachorros lamberam minha falta,
e o mendigo quebrou o portão?
Não dará tempo para salvar a horta
As verduras murcharam a tua espera
A orta já sangra pelos anos de tua presença
na ausência múltipla na mesa do bar.
Que sentido fará o tempo do espelho
se já não ouço teus passos dormindo?
Os pés já não fazem barulho e nem me acordam
Porque as solas dos sapatos envelheceram.
Então, que sentido faz o tempo
se o minuto é a brevidade perdida?
Aquela eternidade de um minuto
Eu, poeta da razão e das horas,
guardei nas páginas de meu corpo.