Que sentido faz o tempo,

se não haverá mais a colheita

da maçã e as uvas apodreceram?

 

O tempo bebeu a ausência

e me fez colecionadora

de restos e pedaços de solidão.

Não haverá mais tempo, inclusive

para dizer eu te amo no elevador...

 

Que razão há em perfumar a cama?

Se o  mato cresceu no quintal,

os pombos devoraram as ervas,

os cachorros lamberam minha falta,

e  o mendigo quebrou o portão?

 

Não dará tempo para salvar a horta

As verduras murcharam a tua espera

A orta já sangra pelos anos de tua presença

na ausência múltipla na mesa do bar.

 

Que sentido fará o tempo do espelho

se já não ouço teus passos dormindo?

Os pés já não fazem barulho e nem me acordam

Porque as solas dos sapatos envelheceram.

 

Então, que sentido faz o tempo

se o minuto é a brevidade perdida?

Aquela  eternidade de um minuto

Eu, poeta da razão e das horas,

guardei nas páginas de meu corpo.

 

 (Rosidelma FRAGA, 2019, p. .23).