Antoine Albalat e arte de escrever

[Rodrigo Gurgel]

É possível reunir, num único livro, duas renomadas figuras do mundo literário e linguístico, ainda que escrevam em idiomas diferentes?

No mundo da tradução, tudo é possível.

Em A arte de escrever em vinte lições, que acaba de ser reeditado pela Vide Editorial, seu autor, o injustamente esquecido Antoine Albalat, tem a honra de ser traduzido pelo filólogo, dicionarista e escritor Cândido de Figueiredo.

Além de ser autor do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de 1899 (e até hoje reeditado), Cândido, dentre outros méritos, trabalhou com a filóloga e crítica literária Carolina Michaëlis de Vasconcelos para fixar as bases da nossa ortografia.

Albalat recebeu, portanto, uma tradução que não o trai, não o desmerece.

É evidente que o leitor não encontrará neste A arte de escrever em vinte lições o português de hoje — diminuído, na sua capacidade expressiva, por ficcionistas, poetas e acadêmicos que escrevem como se marretassem pedras —, mas descobrirá o português eterno. Ou melhor: as infinitas possibilidades que nossa língua oferece para construir beleza.

O que podemos dizer sobre o trabalho de Albalat?

Algumas de minhas reflexões se encontram na Apresentação que escrevi para o livro, sob o título provocativo de “Anti-Albalat”.

Mas há dois pontos fundamentais.

Primeiro, as lições de Albalat, ainda que escritas no final do século 19, permanecem válidas, atuais. Ele possui bom senso, aguda percepção do que é escrever bem.

Segundo, como afirmo na Apresentação, é preciso ler os exemplos, seguir as escolhas de Albalat sem jamais esquecer o que ele próprio ensina: “A arte não é estacionária”.

A arte de escrever em vinte lições só pode ser comparado ao clássico The Elements of Style, o famoso Strunk & White, que, desde o início do século 20, introduz os estudantes de língua inglesa no mundo da escrita.

Disputada, nas últimas décadas, a socos e pontapés nos sebos, a dupla Alabalat-Cândido de Figueiredo está de volta. Vamos aprender com ela.

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