Gosto da palavra telenovelistas, lembrando o português de Portugal. É mais real. Novela inicialmente era no papel, no livro ou no jornal, através do folhetim, depois vieram as radionovelas, na antiga Rádio Nacional do Rio de Janeiro e em seguidas as telenovelas, com a “máquina de fazer doido”, expressão do saudoso jornalista, escritor e humorista Sérgio Porto, também conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, autor, entre outros, do ontológico Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País. “Máquina de fazer doido” era a forma como Stanislaw designava a televisão.
O alô do título é para sugerir, dar uma dica, aos autores das novelas de TVs para uma possível próxima novela ou minissérie. O ano passado, em um programa de TV, falei que está havendo uma crise de criatividade nas telenovelas, os temas são muito repetitivos e assim o público vai cansando, por isso a audiência vem diminuindo. Não é só a questão da chegada do computador e da internet que vai tirando o público da frente da telinha. Respeitosamente falta criatividade.
Escrevo isso com toda respeito e reverência, sei que eles são ótimos escritores, redatores, roteiristas e afins. Os atores brilhantes e as atrizes muito belas, cenários idem e a tecnologia ajuda bastante. Mas, falta algo... e entre estas coisas que faltam, uma delas, é um pouquinho mais de literatura brasileira na TV.
Explico: No citado programa recomendei que se voltassem mais para a beleza da Literatura Brasileira, dos textos e da vida de seus autores, dos seus tempos... se não quiserem fazer telenovelas ou minisséries de época, podem adaptar, atualizá-las, copidescá-las...
Eis um bom exemplo de fofoca literária e fofoca em parte rege a vida; está no livro O Monge do Hotel Bela Vista, de Edmílson Caminha, ed. Thesaurus, Brasília e foi lançado em 2008. São cartas trocadas entre o autor e o falecido memorialista Antonio Carlos Villaça. Vejamos só um item, partindo do texto abaixo já é possível escrever uma bela telenovela, com base no real. Eis um trecho da missiva de Villaça, datada de 15/10/1980:
“Quanto a Gilberto Amado, é certo que matou o poeta Aníbal Teófilo, em junho de 1915 (não na década de 20). Ele tinha 28 anos feitos a 7 de maio. Era deputado federal por Sergipe. Publicara um livro, A Chave de Salomão, pela Francisco Alves, 1914. Aníbal era um pouco mais velho, uns quarenta e pouco. A razão? Tudo permanece obscuro. Diz-se que Aníbal era amante de dona Gaby Coelho Neto e Gilberto teria querido aproximar-se dela. Aníbal hostilizou-o.
“Gilberto então se descontrolou. Há outra versão de que Gilberto teria seus desejos em relação a Aníbal e este o repeliu. O fato é que Aníbal era bissexual. Consta que era amante de Bilac. Este, num ímpeto romântico, derramou um vidro de perfume sobre o cadáver. A verdade histórica é que Aníbal publicamente hostilizava Gilberto. Este reagiu. Mandou dizer-lhe pelo Jackson de Figueiredo que o mataria se ele insistisse em humilhá-lo em público. Gilberto era baixinho. Era um garoto. Aníbal era um atleta, era alto e realmente muito bonito. Gilberto sempre foi sexualmente muito universal, muito sensível à beleza masculina. Por que a hostilidade de Aníbal a Gilberto? Eis o enigma. Gilberto dá uma longa explicação em Memórias. Conclui que se tratava de uma agressão gratuita. Uma antipatia. Um despeito. Seria só despeito literário? Não creio. O capítulo do quarto volume é muito bem escrito, mas verdadeiramente não explica. É vago.
“Comigo, no fim da vida, Gilberto várias vezes se referiu em 1969 à figura de Aníbal, que, no seu dizer expresso, lhe fazia de companheiro, nas horas de solidão, no apartamento da rua General Glicério, Laranjeiras. Não lhe fiz perguntas, seria indelicado. A Aníbal era freqüente que se referisse, dizendo apenas – aquele homem... Gilberto era um ser muito enigmático. Alvejou também Lindolfo Collor e Elloi Pontes, na mesma época. Mas errou os tiros. Que era violento, não há dúvida”.
- páginas 21 e 22 do citado livro do professor, escritor e jornalista Edmílson Caminha.