A PANTERA 17
Por Obras integrais Em: 11/12/2018, às 00H06
A PANTERA 17.
ROGEL SAMUEL
Decidi morar em Paris até o fim dos meus dias. Não podia sentir medo diariamente, vendo inimigos em toda parte. Com meu tio e Jara, ganhava a família que nunca tive.
Para fixar-me em Paris, dei entrada no pedido de cidadania francesa. Meu pai era francês.
O tio disse que gostaria de rever Biarritz, onde estivera antes. Passamos alguns dias no Hotel Marbella. Meu tio se lembrava de cada esquina daquela cidade. Dias felizes. Demos um mergulho no mar de águas geladas. Entramos em lojas, galerias, jardins...
Eu disse para ele que não mais regressaria ao Brasil, e pedi que ficasse conosco.
Não respondeu.
Presumo que ele não entendia de onde eu tirava dinheiro, nem eu lhe contei. Naquele tempo já tinha conta em banco europeu. Não era muito dinheiro, mas dava para manter-nos por algum tempo. Eu esperava trabalhar depois de meu curso de moda.
Eu queria tê-lo a meu lado, já muito velho para morar sozinho no sítio. A vida cultural de Paris o atraía, museus, concertos, livrarias, conferências, bibliotecas. Ele passava a viver novamente, fazia novas amizades. Cozinhávamos em casa para economizar, e o simples fato de andar por aquelas ruas era um grande programa.
Mas o tio voltou para o sítio.
E nós continuamos em Paris, no apartamento da rue Violet. Por telefone, mantínhamos contato. Tomado por Paris, começou a dizer que voltaria, que ia arrendar o sítio, mas nada fazia.
Eu e Jara éramos felizes e eu estava cada vez mais animado com o curso, pois logo virei professor de modelos especiais (senhoras baixas, gordas e idosas). Nisso eu era bom.
Mas tudo mudou quando Jara começou a dizer que queria voltar para a tribo.
A princípio, não levei a sério, mas ela repetia, e eu comecei a suspeitar que estivesse louca.
Por fim, tomou decisão de voltar sozinha e disse que ninguém poderia impedi-la.
Assim eu a mandei sozinha para Manaus, onde meus companheiros a esperavam e a levaram para a mata e onde ela simplesmente desapareceu.