[WASHINGTON RAMOS]

                                                               A NARRATIVA DO PARNAÍBA

     O romance Um rio de águas barrentas, de J. Ribamar Oliveira, é totalmente ambientado no rio Parnaíba e em cidades que ficam em sua margem direita como Floriano, Amarante, Uruçuí, Teresina, União, Porto e Parnaíba.

     O tempo nesse romance é cronológico e se estende de 1859 a 1988. Ou seja, começa com a primeira viagem do vapor Uruçuí subindo de Parnaíba para Teresina e vai até a viagem da Barca do Sal no mesmo percurso.

     Toda a ação nesse livro ocorre nas cidades supracitadas, nas águas do Parnaíba e em suas coroas. Esta talvez seja a principal vantagem dessa obra literária: colocar um rio como principal ambiente e motivo de desenvolvimento das peripécias que nele acontecem. Eu próprio não conheço nenhuma obra de ficção ou de poesia que tenha feito algo semelhante.

     Outro ponto muito positivo esteticamente nesse livro é que ele desenvolve duas narrativas que se entrelaçam. O autor não divide a obra em partes muito diferentes como se fossem estanques entre si. Ela tem 35 capítulos, mas a ação prossegue normalmente como se fosse uma só história, porém são duas. Elas coexistem nas mesmas páginas. Uma comprovação disso é que algumas personagens como Jacundino Koema, Luisinho da Conceição e Amadeu de Carvalho interagem entre si em diferentes trechos do livro, embora sejam de histórias diferentes.

     Uma diferença marcante entre as duas narrativas é que uma narra mais a relação entre personagens de elite e melhor condição financeira como comandantes de vapor e suas mulheres, o presidente da Província do Piauí na época, ministros do Império e políticos. Enquanto a outra narrativa mostra a atuação de pessoas simples como vareiros, escravos, prostitutas, soldados da polícia, cozinheiros... Um dos personagens que transitam nessas duas narrativas é Luisinho da Conceição, que começou a vida como ajudante de vapor e se tornou comandante de um.

     Um rio de águas barrentas é também um romance histórico. Sua ação narrativa começa no Império ainda escravista, passa pela Abolição da Escravatura, pela Proclamação da República, pela passagem da Coluna Prestes pelo Piauí e chega até os anos 80 do século XX. Nesse percurso de tempo, ele mostra o apogeu da navegação no rio Parnaíba e sua decadência. Esta começa com a construção das estradas de rodagem, que oferecem um transporte mais rápido de mercadorias.

     Através desse romance, fiquei sabendo que Felinto Müller, o grande repressor da Ditadura Vargas, o qual foi o responsável pela prisão de muitos comunistas, participou da Coluna Prestes. Assim que li essa informação, fiquei em dúvida, fui pesquisar e confirmei a veracidade da mesma. No livro, o autor coloca Luisinho da Conceição em contato com Luís Carlos Preses e com Felinto Müller.

     Por fim, Um rio de águas barrentas é a narrativa do rio Parnaíba. É o romance histórico em que aprendi uma informação surpreendente. Grande livro! Pois, como se costuma dizer que um livro que deixa uma palavra no leitor já deixa alguma coisa positiva, imagine um livro que deixa uma informação. Recomendo sua leitura já.