A hora da desdobra
Por Carlos Evandro Martins Eulálio Em: 10/02/2011, às 10H10
[Carlos Evandro Martins Eulálio]
No meu tempo de bancário, funcionário do Banespa, situado na rua Álvaro Mendes, esquina com a Barroso, em Teresina, vivi algumas situações curiosas. Lembro-me de algumas, como aquela protagonizada pela vendedora de pastéis.
No expediente da manhã, vendia pastéis de carne moída com batata nas agências bancárias e repartições públicas, antes de fazer ponto nas praças do centro da cidade.
Nosso intervalo para o lanche acontecia por volta das 9h, minutos antes da abertura dos bancos ao público. Nessa hora, lá estava a humilde senhora servindo com presteza seu conhecido e famoso pastel, acompanhado de suco de cajá, abacaxi, maracujá ou de caju. Os pastéis eram acondicionados numa cesta de palha, semelhante àquelas que se vendem no Mercado Velho. O suco, em botijão de plástico, com torneirinha.
Naquela época, como encarregado da carteira de abertura de contas, chegava à cantina sempre atrasado para o lanche, porque precisava pôr o setor em ordem, atulhado de pendências do dia anterior. A mulher ficava então ansiosa, quando me via muito atarefado, na impossibilidade de ir à cantina: era menos um freguês. Pressentindo que isso pudesse acontecer, dirigia-se a mim, sugerindo que largasse o serviço e fosse merendar. Pedia-lhe que aguardasse um instante. Mas quando percebia que eu estava desconversando, dizia-me em tom ameaçador: “Vamos, homem, que já tá na hora da desdobra.”
Curioso, quis um dia saber o que era a desdobra. Ela então me disse que, após todos tomarem o suco, completaria o que restava no botijão com água e açúcar.
O que ali sobrava transformava-se como o vinho das bodas de Caná, para em seguida ser servido aos frequentadores da praça Rio Branco e adjacências.