A fraude que no Brasil é conhecida como “pirâmide”, nos Estados Unidos se chama “o golpe de Ponzi”.
O imigrante italiano Carlo Ponzi aplicou a pirâmide em Boston, Estados Unidos, no começo do século passado. Foi preso e terminou a vida pobre, em 1949, num hospital de caridade do Rio de Janeiro.
Pirâmide ou Golpe de Ponzi, Bernard Madoff é o responsável pela maior fraude da história do mundo – US$50 bilhões – e os detalhes que estão aparecendo são estarrecedores. Diante de seu golpe audacioso, Ponzi ficaria ruborizado.
As pirâmides, em geral, têm vida curta. Em semanas o esquema estoura, como aconteceu com Ponzi e outros fraudadores. O golpe de Madoff durou 17 anos.
No começo, ele arrebanhava investidores em country clubs e obras de caridade. Seu número crescia sempre devido às informações positivas sobre os resultados. Madoff fazia mistério e fingia trabalhar com um grupo de investidores pequeno, mas “sempre encontrava um meio de deixar os interessados entrarem”. Sem eles a fraude não teria continuado.
Durante todo esse tempo ele conseguiu alimentar o golpe, até que com a crise financeira mundial, foi obrigado a confessar que o que fazia era simplesmente manter o pagamento de alto retornos com a entrada de dinheiro novo. Uma simples e colossal pirâmide.
“Jamais aconteceu algo igual, com características globais” declarou Mitchell Zuckoff, autor de “Ponzi’s Scheme: The True Story of a Financial Legend” (“O Golpe de Ponzi: A Verdadeira História de um Mito Financeiro”). “Isto comprova o que já sabemos sobre o mundo: as barreiras cairam; o dinheiro não tem fronteiras, nem limites.”
As autoridades dizem que US$50 bilhões desapareceram de uma hora para outra do bolso de instituições e particulares de todo o mundo. De Long Island, Palm Beach, Emirados Árabes, Europa… Antes de evaporarem financiaram a vida de nababo de Madoff, no apartamento de Manhattan, na casa de praia dos Hamptons, na pequena vila de Cap d´Antibes na Riviera Francesa, no escritório de Mayfair em Londres, e nos iates em Nova York, Flórida e Mediterrâneo.
Madoff começou aos 22 anos a transacionar com ações. Foi o primeiro a perceber que a informática faria do comércio mobiliário uma cornucópia. Não conheceu limites na sua ânsia de poder e dinheiro. Doava para obras de caridade judias, era admitido como membro, e tornava-se depois o administrador financeiro. Algumas dessas instituições relutavam em passar-lhe o dinheiro diante da sua negativa em dar informações básicas que as fizessem confiar em Madoff.
O Oak Ridge Country Club em Hopkins, Minnesota, é frequentado por uma comunidade judia rica. Poucos ali escaparam das garras de Madoff. Uma das vítimas, que pediu ao New York Times para que seu nome não fosse divulgado, perdeu dezenas de milhões de dólares. “Alguns perderam tudo”, ele disse. “Todos pensavam que investir com Madoff fazia-os importantes; consideravam-se parte de um clube exclusivo.”
“Ele e sua mulher, Ruth, eram considerados fora de série”, disse um outro. “Sucesso, filantropia, estima – e se você tinha a sorte de ser seu investidor, dinheiro. Ele era visto como alguém que podia fazer dinheiro para você – dinheiro de verdade.”
Membros da Sinagoga da Quinta Avenida, um grupo de pessoas muito ricas de Nova York, perderam fortunas com Madoff. Com a divulgação da fraude, alguns têm lançado sua ira de perdedores também contra aqueles que os levaram a investir com Madoff. Um deles é Ezra Merkin, dono do Fundo Ascot, que direcionou milhões de dólares de seus clientes para Madoff. Pela televisão, Mortimer Zuckerman, dono do jornal Daily News, disse que suas obras de caridade perderam US$30 milhões por causa do Fundo Ascot.
Madoff captou dinheiro de gente rica de todo o mundo, não apenas de judeus, utilizando outros fundos, como o Fairfield Greenwich Group, de Walter M. Noel, cuja mulher, Monica, é da família Haegler do Rio de Janeiro.
Competidores de Madoff que tentavam imitar seus métodos e viram que era impossível, ficavam suspeitosos. Houve um pequeno banco austríaco, o Bank Medici, que praticamente tinha todo o seu dinheiro, US$2,1 bilhões, com Madoff. “Isso é uma tragédia”, disse o seu presidente Mr. Scheithauer. “Mas não somos apenas nós, outras pessoas também. Se soubéssemos… ele vinha nos pagando direito até há pouco tempo atrás”.
As vítimas futuras iam se acumulando: bancos italianos, suiços, espanhóis, cingapurianos, coreanos, tailandeses, chineses…
Mas, de uma hora para a outra, todos queriam o dinheiro, e estava chegando ao fim a a primeira grande fraude do mundo globalizado. Os filhos de Madoff, que trabalhavam com ele, ouviram-no reclamar que estava com dificuldades para levantar US$7 bilhões para cobrir saques.
No dia 10 de dezembro, ele os chocou de novo ao sugerir que a firma pagasse alguns milhões de dólares de bônus com dois meses de antecedência. Eles pressionaram o pai para dar um motivo. Ele ficou agitado e insistiu que todos fossem para seu apartamento discutir o assunto.
“É tudo um grande mentira”, confessou Madoff. “Uma pirâmide. Não sobrou nada e eu deverei ser preso”.
Um velho amigo quando soube da prisão do fraudador disse: “Alguma coisa está errada, não pode ser o Bernie Madoff que conheço… mas não existe outro Bernie Madoff”.
A língua inglesa, que passará a ter um milhão de palavras em 2009, bem poderia aproveitar a ocasião e tirar Carlo Ponzi da condição incômoda, e em honra dos tempos globalizados, passar a chamar a pirâmide de O Golpe de Madoff. Ele merece."
(http://leiajunto.wordpress.com/2008/12/21/o-golpe-de-ponzi/)