A falta que nos fará
Por Maria do Rosário Pedreira Em: 25/06/2023, às 20H54
[Maria do Rosário Pedreira]
Na semana passada, jantava eu com dois autores brasileiros que publico (Itamar Vieira Junior e Celso Costa), recebi a notícia da morte de José Pinho, o homem que sonhou e fez a livraria Ler Devagar, que transformou Óbidos numa vila literária e desenhou o festival FOLIO, que recuperou das cinzas a Livraria Férin, que levou livros portugueses às feiras estrangeiras em que Portugal era tema, que programou o Festival 5L e que, entre muitísimas outras coisas e mesmo doente, tinha previsto abrir já este mês um Centro Cultural no Bairro Alto com sei lá quantos andares de livros... O José Pinho era uma força da natureza, um homem que nunca baixava os braços, uma pessoa cheia de entusiasmo por tudo, um combatente sempre com um sorriso na boca e os olhos a brilharem de alegria... enfim, alguém que não vejo como pode ser substituído (não conheço na sua área ninguém parecido) e que nos vai fazer muitíssima falta. Deveria ter escrito sobre ele mal soube, mas, sei lá, ainda acreditei que a notícia fosse falsa, que viesse alguém desmenti-la, pois o Pinho parecia aquela pessoa eterna que vence todos os obstáculos, e já tinha vencido outras fases dessa doença que não cessa de matar em todo o mundo. Vá lá que os poderes ainda foram a tempo de o homenagear e condecorar, o que, mesmo que não tenha grande importância, dá sempre a quem recebe pelo menos a dimensão de um reconhecimento. Reconheçamos que o José Pinho merecia isso e muito mais e rendamo-nos à evidência de que não há outro como ele.