A escrava luminosa

Áurea Queiroz
Pesquisadora

O município de Barras fica localizado ao norte do estado do Piauí. Banhado pelos rios Longá e Marataoan possui uma população pacata, ordeira e religiosa. Ao entrarmos na cidade avistamos uma linda imagem de Nossa Senhora que recepcionando os visitantes deseja-lhes uma boa estadia.


São muitos os pratos típicos da cidade servidos aos turistas e sua cultura popular chama a atenção ao valorizar o carnaval e os folguedos, mostrando assim, suas tradições através dessas grandes festas. Existem também várias lendas e mitos contados pelo povo, como a história da escrava luminosa que é passada de pai para filho por muitas gerações.


No tempo da escravidão existia um fazendeiro muito ruim que possuía muitos escravos. Por qualquer falta o escravo era severamente punido com açoite e levado para uma ilha que existia no rio Marataoan. Lá o escravo ficava com pouca comida e isolado para não ser cuidado e por essa razão muitos deles morriam a míngua.


A mulher do fazendeiro também não tinha bom coração e uma de suas diversões era castigar os escravos, não admitia que falassem mal dela para o marido já que os dois tinham muitas desavenças e não viviam bem. Certa vez uma escrava contou para o fazendeiro que a mulher tinha feito algo impróprio resultando desse fato uma grande briga entre o casal.


A escrava foi chamada e a mulher mandou cortar um pedaço de sua língua e a levou para a ilha. O ferimento infeccionou levando a escrava ao óbito. Á partir de então começou a aparecer pela fazenda uma figura feminina, que ao ser vista por alguém, saia uma grande luz de sua boca.


Os escravos ficaram com medo e contaram para o fazendeiro e sua esposa que a alma da escrava estava assombrando pessoas pelos caminhos. Eles não acreditaram pois pensavam que escravo não tinha alma e que ao morrer não restava mais nada e por isso quem falasse nesse assunto era castigado. Os lavradores, os pescadores e os caçadores rezavam escondidos para a escrava ter descanso e não atrapalhar em suas atividades diárias.


Um dia a mulher do fazendeiro teve que sair a noite e no meio do caminho a escrava apareceu surgindo uma grande luz na frente de sua carroça.


A mulher ficou apavorada e com o tempo perdeu o juízo com os pesadelos que tinha com a escrava e sua boca cheia de luz. Em decorrência desse episódio ela não conseguia falar e nem comer chegando a falecer. Após sua morte a assombração não apareceu mais restituindo-se assim a paz naquela fazenda.

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