A emancipação democrática
Por Rogel Samuel Em: 13/07/2008, às 23H54
“A falta de esperança é, ela mesma, tanto em termos temporais quanto em conteúdo, o mais intolerável, o absolutamente insuportável para as necessidades humanas”, escreveu Ernst Bloch, em “O princípio esperança”, vol. 1, p. 15. Por isso, mesmo a fraude nos é estimulada e estimulante. Pois, o que o populismo, o demagógico, senão o aceno, ainda que vago, ainda que incerto, ainda que retórico do princípio da esperança de dias melhores, de um mundo melhor, de uma vida melhor e mais feliz? Isso não é auto-ajuda, mas marxismo puro: a crença no porvir, a crença de que as sociedades caminham para a emancipação. Trata-se de uma emancipação democrática, mas nem por isso menos revolucionária. Esse é o desejo de uma qualidade sincera dos povos, que aquilo-ainda-não-consciente se faça matéria verdadeira e consciente, como dizia Lênin: “o sonhar para frente”. “Diz-se que Varrão, na sua gramática latina, esqueceu o futuro”: significa aquela imobilidade, aquela propriedade que tenta “esquecer” o que virá, esquecer o para frente, que tenta excluir o novo, que não percebe a mobilidade e a mudança para o diferente e vê o mundo como a repetição do mesmo, do mesmo-outra-vez, como o reflexo do temor do outro, do desconhecido. É isso próprio das classes dominantes: tentam eternizar-se no mesmo poder.