A DOR QUE NUNCA CALA
Por Margarete Hülsendeger Em: 30/03/2012, às 12H32
Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
José Saramago
Se há algo absolutamente certo na vida é a morte. Podemos não saber quando ela ocorrerá – se será cedo ou tarde – mas jamais duvidamos que, desde o instante do nosso nascimento, temos um encontro marcado com ela. No entanto, a dor de perder alguém que nos é próximo raramente deixa de impactar e o sofrimento sempre nos pega desprevenidos.
Assim, não importa se acreditamos estar preparados para enfrentá-la, quem já passou por essa experiência sabe que nunca se sai dela sem estar minimamente transformado. Talvez seja por isso que existam inúmeros livros tratando desse tema, cheios de “dicas” da melhor forma de se comportar diante dessa inevitável circunstância da vida. Existe, contudo, uma perda sobre a qual ninguém gosta de falar e ainda menos de pensar. Estou falando da dor de perder um filho.
Recentemente uma pesquisa britânica, realizada pela Universidade de York, sugeriu que o impacto da morte de um filho pode ser fatal. Segundo os cientistas, pais cujos filhos morreram no parto ou antes de completar um ano têm um grande risco de morrer prematuramente. E quando as mães foram observadas em separado constatou-se que sobre elas o impacto era ainda maior. Nesse estudo não ficaram claras as razões para a mortalidade dos pais, mas os pesquisadores especulam que possa haver uma forte ligação com o abuso do álcool e suicídios.
De qualquer maneira, parece claro que a morte de um filho é um abalo que poucos pais conseguem superar. Afinal, essa perda subverte completamente as leis da natureza – ou pelo menos as leis que os seres humanos consideram naturais. É inadmissível a ideia de um jovem morrendo antes de uma pessoa mais velha ou que seja retirada de uma criança a possibilidade de experimentar o que de melhor o mundo pode lhe oferecer. Assim, quando essa “lei” não escrita é quebrada, não há racionalização ou lógica que consiga abafar a dor terrível que se apossa do coração e da alma de um pai ou de uma mãe. Ela é indescritível e arrasadora.
Um filho é uma extensão de seus pais. Nele, muitas vezes, são depositadas as esperanças e sonhos de uma família. Um filho traz consigo uma gama de emoções e expectativas que poucas experiências humanas são capazes de proporcionar. Um filho é a concretização de um desejo, de um ato de amor. Logo, não é difícil de compreender o porquê de muitos pais, não aguentando o desgosto, acabarem voltando-se para o álcool ou até mesmo o suicídio.
Portanto, essa pesquisa britânica não traz nenhuma novidade, apenas confirma o que, há muito tempo, pais e mães de todas as épocas e condições sociais já sabem: não há maior dor do que a de se perder um filho. O estudo menciona apenas a morte de recém nascidos, no entanto, não é preciso que se faça outra pesquisa para comprovar que a idade é o que menos importa, o sofrimento é igualmente terrível.
E mesmo que a razão possa concordar com Saramago quando diz que perder um filho não é possível porque ele “Foi apenas um empréstimo”, o amor que se tem por ele, desde antes do seu nascimento, nega e repele essa ideia, como algo impensável. Contudo, como disse antes, esse é o tipo de assunto sobre o qual poucos querem falar, pois o simples pensamento já amedronta, causando pesadelos a qualquer pai minimamente preocupado. Afinal, a morte de um filho enterra todos os sonhos, expectativas e desejos. É ver uma parte importante de si mesmo desaparecer. É morrer um pouco todos os dias, e mesmo assim continuar vivendo.