[Flávio Bittencourt]

Zumbificação

A palavra zumbificação é quase tão assustadora quanto a zumbificação propriamente dita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"VAMOS HOMENAGEAR GÊNIOS DURANTE AS SUAS VIDAS?

POIS O GRANDE CINEASTA AMERICANO GEORGE A. ROMERO

AINDA ESTÁ VAGANDO AQUI PELO REINO DOS QUE VIVEM!!! "

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

 

 

GEORGE A. ROMERO, gênio do cinema estadunidense,

mestre dos "filmes de zumbi", sub-gênero do gênero

FILMES DE TERROR: Romero é uma espécie de

"Zé do Caixão norte-americano"!

(SÓ A FOTO DO GENIAL G. A. ROMERO,

SEM A LEGENDA ACIMA EXARADA:

http://blogdofialho.wordpress.com/category/cinema/)

 

 

 

"Terça-feira, 16 de junho de 2009

PICOLÉ DE AÇAÍ

 

CONTÉM 4 PICOLÉS DE AÇAÍ "
 
 

 foto

 

 

 

 

 (http://www.flickr.com/photos/odlaniger/2186625513/)

 

 

 

 



 

(http://www.taringa.net/comunidades/amigosdetony/510479/%C2%BFSi-te-mueres-quisieras-que-te-quemen-o-entierren-asi-nomas.html)

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.taringa.net/comunidades/amigosdetony/510479/%C2%BFSi-te-mueres-quisieras-que-te-quemen-o-entierren-asi-nomas.html)

 

 

 

“[Na lenda] um zumbi é alguém que teve sua alma roubada por um feitiço e que fica capturado em um estado de purgatório perpétuo e que acaba sendo mandado para trabalhar como escravo em plantações. Hoje sabemos que não há nenhum tipo de incentivo para criar uma força de escravos-zumbis no Haiti, mas dada a história colonial aliada à ideia de perder a sua alma – o que significa perder a possibilidade de ter uma morte digna para o voduista –, tornar-se um zumbi é um destino pior do que a morte”.

(WADE DAVIS, em entrevista - adiante reproduzida na íntegra - para DIEGO ASSIS, do Portal G1 [São Paulo-SP, Brasil])

 

 

 

                         Homenageando o Dr. Wade Davis e

                         os cineastas absolutamente geniais

                         George Andrew Romero e

                         José Mojica Marins e agradecendo ao

                         jornalista Diego Assis por ter conseguido transmitir para leigos

                         em medicina, etnobotânica, antropologia e zumbis, de forma até onde possível clara,

                         o que significa zumbificação de seres humanos

 

 

 

10.2.2011 - Pior do que uma pessoa (seu corpo) tornar-se fisiologicamente imortal, imagino que é o cabra ser zumbificado - É mesmo por isso que não compreendo como alguém pode se prestar a ser congelado (ser congelado não é ser zumbificado, mas... vira o cidadão ou a cidadã falecido(a) uma espécie de PICOLÉ DE ZUMBI CRIOGENIZADO), de livre e espontânea vontade... de antes de morrer, é claro.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

Portal G1 /

pop & arte / zumbis

 

"28/01/10 - 12h39 - Atualizado em 28/01/10 - 13h10

Cientista defende verdades por trás do mito dos zumbis

Canadense Wade Davis desvendou segredos da zumbificação.
Livro 'A serpente e o arco-íris' virou filme de Wes Craven em 87.

Diego Assis Do G1, em São Paulo

 

O etnobotanista Wade Davis em foto tirada no Haiti no início dos anos 1980 (Foto: Arquivo Pessoal)

O etnobotânico Wade Davis não gosta de ser chamado de “zumbiólogo”. Ainda assim, aos 56 anos, este cientista canadense que hoje trabalha como explorador da “National Geographic” é um dos raros acadêmicos que se dedicou a entender o que há de verdade naquilo que conhecemos como zumbis.

 Em quatro anos de pesquisa na década de 1980 – três dos quais vividos no Haiti, berço do mito contemporâneo dos zumbis –, Davis afirma ter encontrado “um veneno que faz alguém parecer que está morto, mesmo que esteja vivo”. A poção, produzida por feiticeiros vodus a partir da toxina de um peixe nativo misturada a ervas alucinógenas e restos humanos como ossos e pele, seria o elemento central no processo de zumbificação, prática que iria bem além da simples magia negra, defende o cientista, mas que funcionaria como punição social dentro da cultura e dos costumes da religião vodu.

 Suas conclusões foram registradas em dois livros “Passage of darkness: the ethnobiology of the Haitian zombie”, de 1988, resultado da tese de doutorado de Davis em Harvard, e “A serpente e o arco-íris”, lançado no Brasil pela Jorge Zahar em 1986, e que ganhou uma adaptação para o cinema no ano seguinte pelas mãos de Wes Craven, de “A hora do pesadelo” , da qual o autor não quer nem ouvir falar.


“O que minha pesquisa tenta sugerir não é que exista uma linha de produção de zumbis no Haiti, mas que o conceito se baseia em algo real”, argumenta Davis em entrevista por telefone ao G1. “[Na lenda] um zumbi é alguém que teve sua alma roubada por um feitiço e que fica capturado em um estado de purgatório perpétuo e que acaba sendo mandado para trabalhar como escravo em plantações. Hoje sabemos que não há nenhum tipo de incentivo para criar uma força de escravos-zumbis no Haiti, mas dada a história colonial aliada à ideia de perder a sua alma – o que significa perder a possibilidade de ter uma morte digna para o voduista –, tornar-se um zumbi é um destino pior do que a morte”, explica.

 

Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Davis de sua casa, em Washington DC.


G1 – Descobri só há pouco que um de seus livros, “A serpente e o arco-íris”, também já foi transformado em filme...
Wade Davis -
Sim, infelizmente.Foi uma dessas coisas em que eles prometem um diretor e depois aparecem com outro. Nesse caso me prometeram Peter Weir ["O ano que vivemos em perigo", "A testemunha", “Sociedade dos poetas mortos”, “O show de Truman”] e achei que ele seria um ótimo diretor para aquele livro em especial. Mas ele não podia fazer porque tinha acabado de fazer um filme e precisava descansar. E, sendo um jovem escritor, você sabe que não tem muito controle sobre o processo, infelizmente.

 

G1 – Qual é sua opinião geral sobre os filmes de Hollywood que tratam de zumbis?
Davis –
É preciso voltar ao porquê de termos essa ideia de vodu como magia negra. Se você se perguntar sobre as grandes religiões do mundo – budismo, judaísmo, cristianismo, islamismo – haverá sempre um continente deixado de fora, a África. Afora os países islâmicos, o que se assume é que os africanos não tem religião, mas é claro que têm. Quando os africanos foram trocados como escravos, eles trouxeram suas crenças religiosas e, dependendo de aonde as pessoas foram levadas, nas diferentes circunstâncias históricas, formas diferentes de religião se desenvolveram. Você tem a santeria nos países de colonização hispânica como Porto Rico, Cuba e República Dominicana, tem o candomblé no Brasil e o vodu no Haiti. Vodu não é magia, mas uma forma complexa e metafísica de ver o mundo. É uma religião dinâmica e viva em que os seres humanos entram em contato com os mortos e se tornam os espíritos e múltiplas expressões de Deus.

 

E de onde se tirou essa ideia de o vodu ser demoníaco? Em primeiro lugar, o Haiti era a única nação negra independente por cem anos. Os haitianos costumavam comprar navios de escravos que iriam para os EUA e dar-lhes liberdade no Haiti. O país deu dinheiro a Simon Bolívar em suas lutas de liberação na Gran Colômbia. Mas em 1915 o Exército americano ocupou o Haiti. Era época da segregação, e a maioria dos soldados eram homens sulistas, crescidos em meio ao racismo, e todos, do cabo ao sargento, acabaram assinando contrato para escrever um livro. E os livros que saíam tinham títulos como "Fogo vodu no Haiti", "Aparição na terra vodu" ou "A ilha mágica", todos cheios de crianças que eram levadas para o caldeirão e zumbis se levantando dos túmulos para atacar pessoas. Foram essas histórias que deram origem aos filmes de Hollywood da RKO dos anos 1940. Esses livros e filmes terríveis diziam essencialmente aos americanos que qualquer país onde coisas terríveis assim acontecem precisam de redenção pela ocupação militar.

G1 – Portanto, o sr. está dizendo que o preconceito marcou esses primeiros filmes?
Davis -
Nenhuma dessas coisas era consciente. Não significa que alguém em Hollywood tenha dito: “vamos pegar os negros”. Era um período de segregação. Mas, por sinal, isso não foi embora. Você deve ter ouvido falar que o fundamentalista cristão e ex-candidato ao governo dos EUA Pat Robertson, na semana passada, culpou os haitianos pelo terremoto, dizendo que a tragédia é resultado de um pacto que eles teriam feito com o diabo na época da revolução. É difícil imaginar algo mais ignorante, cruel e insensível sendo dito por qualquer um.  

G1 – De todo modo, os primeiros filmes de Hollywood, da década de 30 e 40, pareciam estar mais afinados com os relatos de zumbis haitianos – seres que tinham sido declarado mortos, enterrados e depois trazidos de volta à vida sem vontade própria por um feiticeiro vodu. Não eram as hordas de comedores de carne humana em que se transformaram os zumbis do cinema a partir dos anos 60.
Davis –
O que minha pesquisa tenta sugerir não é que exista uma linha de produção de zumbis no Haiti, mas que o conceito se baseia em algo real. [Na lenda] um zumbi é alguém que teve sua alma roubada por um feitiço e que fica capturado em um estado de purgatório perpétuo e que acaba sendo mandado para trabalhar como escravo em plantações. Hoje sabemos que não há nenhum tipo de incentivo para criar uma força de escravos-zumbis no Haiti, mas dada a história colonial aliada à ideia de perder a sua alma – o que significa perder a possibilidade de ter uma morte digna para o voduista –, tornar-se um zumbi é um destino pior do que a morte. É por isso que no Haiti não se teme os zumbis, mas se tornar um zumbi.

O que minha pesquisa faz é perguntar quais são as ramificações dessa ideia. Seria possível existir um veneno que fizesse as pessoas aparentarem estar mortas para depois tornarem ao mundo dos vivos? Se isso existisse, talvez tivesse implicações médicas importantes. Esse veneno foi citado na literatura e nas lendas do povo, e há de fato um veneno no Haiti que tem um ingrediente que sabemos cientificamente que pode fazer precisamente isso: fazer alguém parecer que está morto, mesmo que esteja vivo. Mas fui procurar a base química do evento e acabei explorando o lado social, psicológico, político e cultural das possibilidades químicas. Sabemos de sociedades secretas na África Equatorial que, por uma função política tradicional, punem as pessoas com venenos. No Haiti também há sociedades secretas no campo que aparentam ter uma função política e que fazem a mesma coisa. Minha conclusão foi que a noção de zumbi, como sendo um destino pior que a morte, era de certa forma a punição maior para quem violasse as regras de uma cultura tradicional. 

E os primeiros filmes tentavam refletir isso. Em partes por influência de uma folclorista maravilhosa chamada Zora Neale Hurston, que [nos anos 30] escreveu o livro "Tell my horse", em que basicamente diz tudo isso sobre zumbis. Acho que os primeiros filmes de Hollywood de certa forma espelhavam o que Zora estava escrevendo. Mas então os zumbis se tornaram parte do gênero mais amplo dos filmes de horror, junto com múmias e fantasmas... Mas isso de certo modo reflete todas as nossas obsessões com a morte e a incerteza sobre o que ela representa, o pesadelo terrível da morte voltando para assombrar os vivos. Acho que os filmes de Hollywood, terríveis como podem ser, refletem uma fascinação geral humana por essa noção.

G1 – É possível afirmar que o conceito de zumbi como uma pessoa trazida de volta à vida sob o comando de um mestre é algo genuinamente haitiano? O zumbi haitiano é o “original”?
Davis -
Uma das coisas que nunca investiguei a fundo é que o peixe que contém a toxina que identifiquei [como fundamental no preparo do veneno] existe também em águas de rios da África Equatorial. Mas acho que uma das coisas que aconteceu nas Américas é que, para onde que fossem os africanos, eles estavam sujeitos a vários tipos de influências. E uma das coisas que é bastante única no Haiti é que, diferentemente da Jamaica que foi colônia britânica até 1963, o Haiti era um país independente desde 1804. E depois da revolta dos escravos um certo manto de isolamento cobriu o Haiti, até a igreja foi expulsa. Enquanto no século XIX lugares como Brasil ou Jamaica ou o Sul dos EUA eram expostos à cultura europeia, o Haiti já estava isolado, e formas africanas persisitiram no Haiti de forma significativa. Claro que há influências da Europa, da Igreja Católica, o [idioma] francês se tornou o creole, mas o isolamento e a influência da Àfrica fizeram do Haiti único. Embora outras culturas, como o candomblé no Brasil, tenham noções de possessões de espíritos e o senso fundamental de adoração de ancestrais, o zumbi, na minha experiência, é algo unicamente haitiano.

G1 – No Brasil também temos nosso Zumbi dos Palmares, um líder negro das revoltas escravas, mas que não parece ter a ver com a noção de zumbi dos haitianos.
Davis -
É sempre perigoso dizer porque as palavras podem ser usadas de múltiplas maneiras. Há várias origens diferentes para a palavra zumbi e não se sabe claramente qual é a correta. Vodu é só uma forma de dizer “espírito de deus”. Não se esqueça também que houve muito contato entre os caribenhos e o Brasil naquela época, claro. A revolta bem-sucedida dos escravos no Haiti ficou conhecida e provavelmente também incentivou os brasileiros assim como os americanos a fazerem as suas.

G1 – Seus livros foram publicados na década de 80. Desde então deu seguimento à pesquisa?
Davis -
Eu nunca me vi como um expert em vodu. Estava trabalho na região amazônica como botânico e antropólogo quando recebi convite para ir ao Haiti pesquisar os zumbis. Esse acabou se tornando o tema do meu doutorado em Harvard, fiz os livros, mas no final o filme foi tão ruim, se tornou tão controvertido... Um amigo professor uma vez chegou até a mim e disse, brincando, você quer se tornar um zumbiólogo, quer passar o resto da vida defendendo essa hipótese e correndo pelo Haiti procurando zumbis? Eu ri e disse que não. Passei três anos no Haiti e quatro anos no total pensando sobre vodu e escrevendo os dois livros, realmente já disse tudo o que eu queria dizer. Tinha muito mais interesse em questões gerais de cultura, e já tendo estado no Haiti queria ir pra outro lugar. Era hora de mudar. Escrevi mais 14 outros livros, fiz outros filmes e agora sou um explorador pela ”National Geographic”, celebrando as maravilhas das outras culturas. O que eu sempre quis fazer é tentar expôr os equívocos que temos sobre o outro. E foi isso que tentei fazer no Haiti.

G1 – Durante o tempo em que passou lá, você fez diversos amigos no Haiti. Teve notícias deles após o terremoto recente em Porto Príncipe? Acha que a religião vodu teria uma resposta diferente a eventos como esse?
Davis -
Sim. Um dos meus amigos é uma figura importante em “A serpente e o arco-íris”. Mas ele e sua família estão bem. Os africanos dizem que nenhum evento tem uma vida própria sua, e tenho certeza de que haverá fortes consequências psicológicas. Mas isso acontece em qualquer cultura. Todos se fazem a pergunta fundamental: por que nós, por que agora, por que isso aconteceu depois de tudo o que passamos? Afinal, era isso que os americanos estavam se perguntando depois dos ataques de 11 de setembro: por que eles nos odeiam? Por que isso está acontecendo? Acho que essa é uma resposta bastante universal para cataclismas tão inesperados. Mas uma coisa importante para a comunidade mundial se lembrar é o quanto Haiti já deu para o mundo. 

Quando aquele homem horrível - Pat Robertson - disse aquilo sobre o terremoto e o pacto com o diabo, ele não estava só revelando sua loucura e crueldade mas também sua própria ignorância sobre a história americana. Se não fosse pela revolta dos escravos e patriotas haitianos, os americanos estariam provavelmente falando francês a oeste do Mississipi. Porque Napoleão no alto de seu poderio chegou a mandar um batalhão para ir ao Haiti, massacrar a revolta dos rebeldes, e então seguir até Nova Orleans, onde deveria derrotar as colônias espanholas e britânicas e restaurar o domínio francês. Os EUA devem uma boa parte ao Haiti por derrotar aquelas forças de Napoleão.

Agora é hora de a comunidade internacional se unir pelo Haiti. E há tanto que pode ser feito. Os haitianos sofreram por tanto tempo, e o incrível é que em tempos de escassez as pessoas voltam suas mentes para a imaginação. O Haiti é possivelmente tão interessante culturalmente quanto qualquer outro lugar nas Américas, essas pessoas têm uma reserva impressionante de espírito, de esperança e de poder. Só se espera que essa capacidade possa ser usada e não permaneça sob o domínio de oficiais corruptos. O que o Haiti precisa é de investimentos reais, não de piedade".

(http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL1466802-7084,00-CIENTISTA+DEFENDE+VERDADES+POR+TRAS+DO+MITO+DOS+ZUMBIS.html

 

 

 

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COLUNA DA DIGI,

NO BLOG DO FIALHO -

assunto tratado: FILMES "DE ZUMBI",

DE GEORGE A. ROMERO

 

Coluna da Digi # 87 – Zumbis 3 – George Romero caminha entre nós.

janeiro 14, 2011

No dia 14 de dezembro de 2009, publiquei a terceira crônica a respeito do universo dos zumbis no cinema, inspirado pelo livro “Zombie Evolution”, cuja leitura acabara de concluir.

Boa leitura, jovens.

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Zumbis 3 – George Romero caminha entre nós.

George Romero

George A. Romero nasceu em Pittsburgh, estado da Pensilvania, Estados Unidos. Levou uma vida normal, tornou-se um jovem fanático por ficção cientíica e terror (uma espécie de Alex de Souza estadosunidense), estudou cinema e junto com alguns amigos, começou a fazer filmes nas horas vagas. Até aí, esta parece ser a trajetória de milhares de estudantes de cinema ou comunicação pelo mundo que, realizam suas produções independentes para ganhar experiência na área e se divertirem um pouco. Contudo, este exemplo é diferente, pois trata-se do profissional que alterou conceitos, mudou os rumos da indústria do cinema de terror, popularizou um personagem que se converteu num dos monstros mais populares (e por que não dizer pops?) do cinema moderno. No livro que li e que inspirou esta série de crônicas sobre zumbis (“Zombie Evolution – El libro de los muertos vivientes en el cine”), o autor José Serrano Cueto, opina: “Poucas abominações podem ser definidas como tão autenticamente cinematográficas quanto os zumbis.” E foi Romero o grande responsável para que esta afrirmação possa ser encarada hoje como uma irrefutável verdade.

Depois de fazerem diversos filmes experimentais juntos, durante as férias, horarios de folga e fins de semana, os amigos Russel Streiner, Rudy Ricci, Richard Ricci, John Russo e George Romero decidiram abrir em 1963 uma pequena produtora para gravar filmes para publicidade, a “Latent Images”. A empresa foi bem e eles acabaram adquirindo uma câmera de 35mm. Com ela, veio a ideia de realizar um longametragem. Mas sobre o que? John Russo estabeleceu uma premissa: tinha que começar num cemitério. Na época, Romero havia lido o livro “Eu sou a lenda” (Richard Matheson, 1954) em que os antagonistas são vampiros. Baseado no livro havia escrito um argumento sem fazer referência ao que atacava os protagonistas. Mostrou o texto aos amigos e sócios e todos ficaram encantados.

 

“The night of the living dead” (1968)

Ele escreveu o roteiro, os sócios pediram dinheiro emprestado a familiares e conhecidos (20 pessoas contribuíram), arrumaram sangue e carne com um amigo dono de açougue e os mesmos que emprestaram dinheiro foram os atores secundários e figurantes. Na hora de dividir as tarefas imperou o mesmo espírito de cooperativa: uns cuidavam da maquiagem por terem mais aptidão para tal, outro seria o produtor por ter experiência com administração de empresas, e a Romero coube dirigir, pois ele tinha um pouco mais de experiência nessa área que os demais.

O protagonista negro (Duane Jones), foi escolhido por acaso. O roteiro não previa que ele fosse negro. Na verdade, não fazia nenhuma menção à cor da pele. Mas como ele foi muito bem nos testes, Russo e Romero nem quiseram ver mais nenhum ator postulante ao papel. Muitas teorias foram desenvolvidas sobre o significado oculto em se escolher um negro para protagonista, ainda mais que no final acaba morto por brancos, justo no ano em que Martin Luther King foi assassinado. No entanto, todas as suposições deste tipo são falas, uma vez que o filme já estava pronto quando King foi morto e Romero não mexeu sequer uma vírgula no roteiro depois de escolherem Duane Jones para viver Ben. Ou seja, o filme teria sido rigorosamente o mesmo caso o ator principal houvesse sido um branco.

 

O estilo romeriano

O filme entrou pra história e se tornou  um divisor de águas no cinema de terror, transformando o próprio Romero numa lenda, objeto de culto e alvo da admiração de milhares de fãs mundo afora. O que mais chama atenção nos filmes de Romero é a profundidade com que toca temas delicados, por trás da embalagem do terror. Em entrevista, ele declarou: “Todos os meus filmes sobre zumbis surgiram a partir de ideias, ao observar o que estava ocorrendo cultural e politicamente.”

Dessa forma, os monstros se transformam em instrumentos para articular uma crítica social, uma análise dos conflitos humanos que podem ser associados a acontecimentos históricos determinados: a guerra do Vietnã (“The night of the living dead”, 1968), o consumiso exagerado (“Dawn of the dead”, 1978), o abuso do poder militar (“Day of dead”, 1985), a luta de classes (“Land of the dead”, 2005) e a informação sencaionalista (“Diary of the dead”,2008). A Romero não interessa o simples terror, mas leitura que através dele se possa ter da sociedade.

Os 4 primeiros filmes formam uma mesma saga que mostra, gradualmente a devastação do mundo mediante o surgimento e avanço da epidemia dos zumbis. Separadamente, é possível assistir e assimilar a mensagem de cada um deles, mas no todo, representam a decadência do planeta em 3 tempos: a noite, o amanhecer e o dia, até que (no 4º filme) o homem passa a conviver com o problema como se achasse tudo natural e os mortos caminhantes já fizessem parte do dia-a-dia. Nas histórias romerianas, os personagens formam coletivos pequenos em constante conflito entre si.

Outra característica importante é o ambiente da ação. Em seus roteiros, o espaço é tão importante quanto os próprios personagens, sendo praticamente um protagonista em si mesmo. Uma casa no primeiro, um centro comercial no segundo e um bunker no terceiro são, não só cenários, mas também parte ativa das histórias que nos são contadas. A terra dos mortos tenta repetir a fórmula sem êxito. A cidade em que se passa o filme deveria ser uma geradora de conflitos, mas não consegue e isso a afasta das outras 3 produções anteriores, tirando um pouco a unidade da tetralogia.

“Dawn of the dead” (1978)

O segundo filme da saga traz uma clara crítica ao consumismo exarcebado. 10 anos depois do início da epidemia, 4 personagens (2 policiais e 2 jornalistas) decidem ir a um centro de compras de helicóptero, para recolher algumas provisões antes de partirem em busca de um refúgio seguro aonde a epidemia ainda não haja chegado. Uma vez lá dentro, concluem que o lugar pode servir de abrigo temporário antes de partirem , já que está cheio de mantimentos e objetos úteis. No interiro encontram muitos zumbis que se movem mecanicamente como se recordações de vida os fizessem andar pelas lojas. Eles representam a massa alienada, uma hipérbole dos consumidores hipnotizados pela publicidade e se movem todos os dias pelos centros comerciais do mundo. O filme exprime que hoje (já era assim em 1978)não há lugar para a simplicidade voluntária, a que só praticam umas poucas mentes revolucionárias, capazes de sentir que a plenitude não se encontra em possuir, mas em extrair o máximo proveito daquilo que se tem.

A uma certa altura um bando de motoqueiros invade o lugar e começa a saquear e roubar tudo o que podem, ignorando o fato de que dinheiro e objetos outrora vailosos não faziam mais sentido num mundo caótico em que viviam. Nada daquilo que roubam teria utilidade na terra arrasada. É a ganância sobrevivendo mesmo em tempos extremos. O ápice do materialismo, como o consumismo desenfreado mesmo em tempos de crise.

“Day of dead” (1985)

Mais alguns anos depois, a terra está arrasada, o mundo está morto e existem mais zumbis que sobreviventes. O filme começa com imagens silenciosas do chão rachado de um pequeno povoado. Logo o silêncio é quebrado por alguns gemidos distantes.

É a maneira com que Romero exprime a terra de ninguém e de valores distorcidos que estava sendo construída nos anos 80, em que um governo republicano belicoso governava os Estados Unidos e regia o mundo mediante uma corrida armamentista desenfreada e o mercado financeiro vivia um colapso desesperador. Um mundo cada vez mais desigual, o ápice da desumanidade estava se configurando. Romero disse que ele começava a se perguntar: “O que diabos estivemos construindo esses anos todos?”

“Day of dead” representa todo esse pessimismo. Afinal, o que seria melhor para representar um mundo que perdia sua humanidade do que o domínio daqueles que haviam sido humanos um dia? É o filme mais sujo e mais feio das produções. Logo na primeira aparição de zumbis, um recado claro: esse filme vai ser duro, muito duro. Aqui não se esconde nada. O que vocês vão ver é agressivo.

Os sobreviventes que dessa vez são representados por 3 grupos distintos (cientistas, militares e civie) vivem conflitos entre si. Estão todos encerrados em um bunker. Um cientista louco quer domesticar os zumbis, um militar com vocação para ditador quer matá-los e os civis só querem fugir dali e sobreviver. Os militares representam o excesso de poder em tempos de tensão, os cientistas a insesatez travestida de razão, e os civis seriam os cidadãos comuns, encurralados em meio a essa disputa de ambos os grupos. No fim, um final anárquico e subversivo, obsceno até para os padrões hollywoodianos. Morrem os cientistas e militares das piores formas possíveis e só sobrevivem uma mulher, um negro e um bêbado.

“Land of the dead” (2005)

Em 2005, 20 anos depois do terceiro filme de zumbis, o homem de Pittsburgh, Pensilvania, já se tornara um mito, havendo adquirido fama e respeito e todas as partes. Por isso um dos maiores estúdios estadosunidenses, a Universal, resolveu dar a ele a oportunidade de realizar uma produção com grande orçamento. Pela primeira vez, George A. Romero poderia contar com atores famosos, profissionais vindos de grandes produções (e não apenas seus amigos). Dessa vez, a narrativa gira em torno da luta de classes e, como não poderia deixar de ser em 2005, faz uma crítica ao governo Bush.

O mundo aprendeu a coexistir com os zumbis. As cidades se converteram em enormes fortalezas cercadas por grades, fossos e pontes superprotegidas. As elites financeiras e governantes se refugiaram em enormes arranha céus nos centros, enquanto as populações mais pobres ficavam às margens das grades, mais próximas do perigo, mais expostas. E os zumbis, fora de tudo isso, excluídos do processo e da sociedade, apenas contemplando de longe a cidade que um dia também foi deles. Representam a classe mais oprimida, os deserdados da terra. Romero critica o abuso de poder e a desigualdade social. O vilão da história, Kaufman (Dennis Hopper) é um corrupto e sem escrúpulos gestor que foi baseado no então secretário de estado americano, Donald Rumsfeld.

Em meio a disputa, existem ainda um grupo de mercenários que se encarrega de matar zumbis e cobrar por isso, protegendo as elites e população. Um deles, ambicioso e ingênuo sonha fazer parte da elite dos arranha céus. Em um dado momento da película, alguém faz um alerta despretensioso que dá a chave da trama: “E se eles (os zumbis) adquirissem a capacidade de se organizarem?” É exatamente o que acontece. Os mortos pegam em armas e promovem uma revolução zumbi contra os vivos que os oprimem, partindo em direção a cidade que um dia foi deles para reconquistá-la.

Neste filme ocorre uma humanização maior dos montros, como se, de 68 para cá, eles houvessem evoluído. O resultado, no entanto, na opinião do jornalista Serrano Cueto e do próprio Romero, não foi tão bom quanto os anteriores. Apesar de ter contado com um grande orçamento, pela primeira vez, existe mais ação que trama psicológica e a reflexão social se perde em meio ao ritmo mais acelerado. Os fãs protestaram, as bilheterias não corresponderam e Romero admitiu que o tamanho do projeto o superou. Por isso, decidiu voltar a produções mais  modestas depois dela. “Eu prefiro as coisas mais simples”, declarou. Certamente. E é justamente nas produções mais simples e despretensiosas que ele consegue ser grande. Ou melhor: grandioso.