Wilson Brandão e o Prefácio
Por Cunha e Silva Filho Em: 10/09/2021, às 19H38
A partir de hoje, sempre que possível, republicarei, algum artigo já publicado há tempos, ou outro texto de gênero diferente, à guisa de uma seleta de textos escolhidos a dedo. O primeiro segue abaixo, e cada qual terá a numeração ascendente, porquanto ainda não sei ao certo até que número publicarei. As fontes dos textos, em geral, são de jornais de Teresina, como Diário do Povo, Meio-Norte, entre outros. Independente disso, artigos novos continuarão a ser publicados nesta Coluna.
WILSON BRANDÃO E O PREFÁCIO (1)
Cunha e Silva Filho
Situaria como uma das minhas frustrações de ordem intelectual (e para o intelectual nunca faltam frustrações, que o diga Lima Barreto) um pequeno incidente que se deu durante a publicação no Piauí, do meu estudo de Mestrado sobre Da Costa e Silva. Agora, já posso confessá-lo ao leitor. O incidente deveu-se ao prefácio para o referido livro de título Da Costa e Silva: uma leitura da saudade(1996)
Ou seja, quem seria o prefaciador, já que eu havia me decidido aqui no Rio de Janeiro a pedir à saudosa professora carioca de literatura brasileira da UFRJ, Gilda Salem Szklo, que me fizesse tal prefácio? Havia, porém, um problema "no meio do caminho". Saindo o livro editado por uma universidade do Piauí, a Federal, seria mais do que natural ou de direito que o prefaciador fosse um intelectual do Piauí e, sobretudo, saísse dos quadros da Academia Piauiense de Letras, visto que a publicação era através de um convênio entre a Universidade Federal do Piauí e a Academia Piauiense de Letras. Que sufoco pra mim?
Mais: ainda: era natural que o prefácio ficasse a cargo do então Presidente da Casa de Lucídio Freitas, o saudoso jurista e professor Wilson de Andrade Brandão, admirador, leitor e também autor de trabalhos sobre Da Costa e Silva. Piorou a minha situação porque o incidente, ipso facto, já havia gerado um constrangimento. E como constrangimento ficou, infelizmente. No entanto, o fato me incomodou profundamente, porquanto o livro, por assim dizer, já saíra do Rio de Janeiro com prefácio da mencionada professora e ao mesmo tempo me parecia uma traição ou um desapreço aos intelectuais do meu querido estado.
Engoli em seco o meu próprio desapontamento, sobretudo porque tivera conhecimento de que Wilson Brandão, um intelectual de altíssimo valor, já tinha escrito o prefácio ao meu livro, me privando, assim, de poder saber com mais profundidade o que aquele eminente escritor escrevera sobre o meu estudo, principalmente porque me disseram que aquele jurista, como crítico, não era inclinado ao elogio fácil.
O único consolo que ainda pude ter foi que a apresentação do meu livro, em lançamento memorável, numa das manhãs teresinenses mais comoventes da minha vida, foi feita pelo ilustre jurista e professor de literatura francesa. De certa maneira, a generosidade dos elogios de Wilson Brandão me confortou um pouco, mas confesso, leitor, não me livrou do constrangimento. Não renego a prefaciadora carioca, porém confesso agora eu a minha alegria teria sido mais completa e plena se aquele prefácio tivesse sido mesmo assinado por Wilson Brandão.
Só não pude foi contornar a situação embaraçosa porque já tinha assumido compromisso com a ensaísta Gilda Salem. No fundo, porém, ficou a decepção por mim causada, ainda que sem a mínima intenção de subestimar meus conterrâneos piauienses. Todavia, para me redimir desse acidente de percurso, em homenagem à memória de Wilson Brandão, para concluir, registro aqui o testemunho neutro de um leitor carioca de assuntos jurídicos e da obra de Wilson Brandão, o meu filho, Cunha e Silva Neto. Para ele, o texto do jurista piauiense nada fica a dever aos grandes autores brasileiros da área de Direito, haja vista, me recorda meu filho, o ensaio introdutório de Wilson Brandão a uma obra de Antonio Coelho Rodrigues. Nada mais justo e oportuno do que esse depoimento de um jovem advogado carioca.