Uma novela inédita de Vergílio Ferreira

Uma novela inédita de Vergílio Ferreira intitulada “A Curva de Uma Vida”, a primeira história que o autor escreveu, acaba de ser publicada pela Quetzal e estará disponível nas livrarias a partir de sexta-feira.


É o primeiro livro de Vergílio Ferreira, datado de 1938. Só no ano seguinte sairia ‘O Caminho Fica Longe’, que até agora é dado como o seu primeiro romance. É evidente que se trata de um texto muito mais curto, uma novela, mas nela aparecem já os grandes temas que marcariam a obra de Vergílio Ferreira. Nomeadamente, a ausência do pai, a figura da mãe, a culpa, a busca da identidade”, disse hoje à Lusa o escritor Francisco José Viegas, diretor editorial da Quetzal.

Nesta novela, Vergílio Ferreira (1916-1996) conta a história de uma personagem cuja descoberta de que não é quem pensa ser e das consequências que tal tem na avaliação que faz da mãe o leva a adoptar um comportamento eticamente reprovável: a violação da irmã adolescente do seu melhor amigo do liceu, que entretanto se tornou advogado e que ele contrata para o defender em tribunal, desconhecendo a identidade da rapariga.

“A Curva de Uma Vida” foi descoberta no espólio do escritor - distinguido com o Prémio Camões em 1992 - por uma equipa de investigadores e professores dirigida pelo professor Hélder Godinho, que está a estudá-lo, catalogá-lo e anotá-lo.

A novela, que é agora publicada no âmbito da (re)edição da obra completa de Vergílio Ferreira pela Quetzal, que mantinha já uma relação estreita com a família do autor, “é uma espécie de aperitivo” para “a grande, grande novidade” que a editora tem para anunciar: “existe um romance inédito” que será publicado em Junho, indicou o editor.

“É uma boa novidade para os leitores de Vergílio Ferreira poder contar, primeiro com esta novela, a primeira história do escritor; depois, saber que há um romance inédito que está neste momento preparado para publicação, graças à equipa do professor Hélder Godinho e, neste caso, ao trabalho da professora Fernanda Irene Fonseca”, sublinhou.

Sobre as razões que terão levado à não-publicação desta primeira obra do escritor, o editor referiu que ele “nunca pôs de parte essa hipótese”.

“O facto é que a guardou, a manteve revista e anotada e a salvo. Vergílio Ferreira disse várias vezes que se deve publicar tudo de um autor e nunca se desfez de nenhum dos seus textos, mesmo desses mais antigos, e é isso que nós (Quetzal) fazemos agora”, observou.

Na opinião de Francisco José Viegas, “a publicação de ‘A Curva de Uma Vida’ nunca foi uma das suas prioridades, o que se compreende num autor que tinha escrito ‘Para Sempre’, ‘Na Tua Face’, ‘Até ao Fim’, ‘Aparição’ ou ‘Alegria Breve’, romances que estão na primeira linha do que foi a literatura portuguesa do século XX”.