UMA ESTREIA PROMISSORA
Por Washington Ramos Em: 10/02/2025, às 22H30
[WASHINGTON RAMOS]
UMA ESTREIA PROMISSORA
No Salipi de 2024, num Bate-Papo Literário conduzido pelo Thiago Eh, conheci o poeta Carvalho Filho, de Parnaíba. Gostei da leitura que ele fez de alguns poemas de Onde estão meus girassóis?, seu livro de estreia. Aproveitei a ocasião e me apresentei ao poeta. Disse-lhe que depois compraria seu livro, que custava 40 reais.
O tempo passou, e só agora, neste começo de fevereiro de 2025, adquiri a obra. Ainda bem que não aumentou de preço neste país em que, infelizmente, a inflação voltou e quase tudo sobe quase todo dia.
Onde estão meus girassóis? é um livro de poesia estruturado em três partes, que se intitulam respectivamente Engrenagens, Pássaros e Arcádia em chamas. A primeira parte, em que os poemas Como se fosse ontem, Flores em devaneio, Complicações do ofício da poesia e Brinquedo de poeta me tocaram muito, é uma espécie de preparação e lubrificação para o que vem nas outras duas partes. Na segunda, destaco Passarei, Carne e brisa etérea, Antiquário, Canto o que posso cantar e Pã, poesias que, juntamente com as outras dessa mesma parte e da primeira, preparam uma espécie de voo que vai desembarcar na Arcádia em chamas, a terceira parte. Como nas duas primeiras predominam os textos da forma livre e na terceira todos os poemas são formas fixas da poética tradicional, então é como se a modernidade estivesse indo se confirmar e se autoafirmar na lírica do passado, mas sem deixar de ser modernidade ou pós-modernidade. Afinal, uma não despreza a outra, e as duas ratificam a transição do passado para o presente.
O título do livro é uma pergunta. Será que, para ela, há resposta? Acredito que sim. Os girassóis de Carvalho Filho estão no próprio livro, inclusive a partir de sua bela capa, que lembra o pintor Van Gogh e seus girassóis. Os poemas são girassóis também, acompanham o autor e seus leitores. Depois de publicado, um livro não pertence mais somente a quem o escreveu. Esta comparação pode ser desentranhada do livro: assim como a flor do girassol, para viver e produzir, acompanha nossa estrela maior, os poemas e a capa dessa obra poética acompanham o autor e seus leitores, insuflando-lhes conhecimentos, reflexões e prazer estético. Pode-se dizer também o contrário. Ou seja, nós, leitores e autor, é que acompanhamos o livro. Ainda sobre o título, é interessante notar que o poeta não usou o artigo definido os antes do possessivo meus e evitou um pleonasmo vicioso tão comum em textos literários e não literários.
É digno de nota também o fato de o poeta não ter cometido o erro de fazer nota de rodapé explicando o próprio texto e tornando-o uma coisa didática e sem graça. Esse equívoco é muito cometido por muitos “poetas” e “ficcionistas” atuais.
Ainda há vários aspectos interessantes que podem ser comentados sobre esse promissor e primeiro livro solo de Carvalho Filho. Mas não quero cansar meus poucos leitores, que podem ser enumerados nos dedos de uma só mão. Além do mais, o melhor mesmo é ler a obra. Boa leitura a todos.