Cunha e Silva Filho

                          Não sei quem falou que, quando não tinha assunto ou tema para escrever, “inventava” um à medida em que a caneta ou o teclado da máquina de escrever ou, agora, do computador, lhe ia fazendo surgir palavras, frase, períodos e parágrafos, ou seja, numa escrita automática que ia invadindo o espaço em branco ( o terror dos escritores!). De repente, quando menos esperava, lá estava a crônica prontinha para ser publicada ou colocada na gaveta, conforme a possibilidade ou não de vê-la impressa num jornal, revista e, quem , sabe mais tarde, em forma de livro. De qualquer modo, a crônica ali lhe apareceu diante dos olhos surpresos pelo fato e pelo feito.
                          São tantos os sinais que nos dão a mente. Se o tema é a política, pensamos na loucura de um prefeito que, contrário a toda uma população, no caso , a de São Paulo, determina um aumento extorsivo ao comércio e às residências, aumento de IPTU, para ser mais claro. A mensagem é enviada à Câmara municipal para aprovação ou não dos edis paulistanos. A percentagem, acumuladamente, se não me engano, é a mais alta da história da maior cidade da América Latina.
                         O pedido do aumento do prefeito vai para a discussão dos edis. Como sempre, há uma oposição de plantão, uma espécie de simulacro de oposição, melhor dizendo, que faz média e, portanto, não concorda com o abusivo pleito do prefeito Haddad, prefeito, aliás, que nem mesmo soube dirigir com competência um Ministério, o da Educação, quanto mais ter preparo para administrar a prefeitura de São Paulo. Somente num país dos bruzundangas ou de vocação macunaímica é possível acontecer uma vitória de prefeito que, sem nenhuma experiência de administração, conseguiu a inesperada e meteórica reversão dos níveis de expectativa de vitória de outros candidatos graças a quê, adivinhem, ao apoio do PT, ou seja, do Lula. O Lula é mesmo um homem de sorte, que escapa ileso de qualquer denúncia e, por cima de tudo, é ainda tido no exterior, por homem de esquerda! Oh, esquerda de vida direita!
                        Procuro o assunto para fazer uma crônica e o que vejo na minha frente: um país cujo cotidiano está empapado de violência e de corrupção pipocando a cada dia no interior da máquina pública com crimes praticados por pessoas, funcionários púbicos que deviam zelar pelo dinheiro do contribuinte e, ao contrário, cometem malversações e se transformam do dia para a noite em milionários com patrimônios incompatíveis com os seus salários.
                       Penso estar difícil encontrar um assuntinho a fim de que dê conta desse gênero tão superiormente cultivado por um Rubem Braga, um Carlos Drummond de Andrade, um Paulo Mendes Campos, um Fernando Sabino, uma Raquel de Queiroz, um Fernando Veríssimo, e tantos outros grandes cronistas de projeção nacional. Contudo, a inspiração não chega e já está me dando nos nervos. Não posso fazer feio diante dos meus leitores ou serão aqueles leitores de Machado de Assis? Me desculpem, leitor, mas não vou aqui, entre parênteses,buscar no Google as datas de nascimento e falecimento. Façam por mim, desta vez, que lhes agradeço desde já.
                     Tateio, tateio e não sai nada. Mas me recordo de que hoje fui a bancos, vi pessoas, por pouco me aborreci com uma caixa de restaurante. Ah, me lembro que ainda entrei numa farmácia, sempre com aquelas filas de comprar e pagar o medicamento que queremos. Entretanto, nem isso consegui, pois não havia o remédio que queria, até parece que hoje em dia todo mundo anda com colesterol. As farmácia viraram um grande comércio, uma verdadeira indústria da doença e sabemos, por experiência, que os achaques atacam, é claro, mais os velhos, sem falar nos preços dos remédios que estão pela hora da morte.
                     As pessoas reclamam, reclamam, mas quem vai dar voz a quem reclama no país pela alta  dos preços dos alimentos, de tudo? O Mantega, na tevê, com aquela voz mansa, tem sempre uma explicação para afirmar que está tudo sob controle quando, na realidade não está já que os aposentados do INSS , que são o  melhor termômetro  indicativo  da subida dos preços, alegam, e com toda a razão, que seus proventos de aposentados não têm aumento na proporção que elevam os preços de todos os produtos ou por conta própria dos comerciantes, ou por determinação do próprio governo , quer municipal, estadual ou federal.
                    Pensei, agora mesmo, nas manifestações que o país tem enfrentado. Uma paisagem de desolação. Tenho a impressão quando vejo o quebra-quebra, os carros virados e incendiados, as lojas quebradas e os bancos arrombados ao mesmo tempo que a correria dos pacíficos com medo de serem atingidos pelo spray de pimenta, de uma bala de borracha, ou de uso de gás lacrimogêneo que o país está acéfalo, em estado de anarquia, ao deus-dará. Só se vê polícia e manifestantes, coadjuvados pelos misteriosos black blocs. Quem são eles, estes mascarados, espécie de Robin Hood às avessas transformando a vida urbana em terra de ninguém. A que vêm? O que querem? Eis aí uma pergunta para a decifração dos antropólogos e dos sociólogos de que o país anda cheio.
                  Nesse ínterim, lá em Brasília, os congressistas, os marajás dos altos salários(Cadê a devolução dos altos salários que o presidente do Senado  prometeu devolver aos cofres públicos ?) da Câmara dos deputados e do senado parecem que não conseguem acordar do pesado sono das delícias do poder e, bem perto deles, no Palácio do Itamaraty, privilegiados da vida diplomática são servidos pantagruelicamente com café que custa para cada pessoa vestida à Rio Branco a migalha de R$ 150 ou R$ 180 reais. Imagine-se que isso é apenas o café. E as outras refeições? Enquanto isso, na no boteco, o operário mandar ver uma xícara de café com pão e manteiga...
                   Pelo que ando vendo e lendo, a grita da nação que aspira ao bem do Brasil não se corrigiu ainda, porquanto as pesquisas presidenciais apontam a candidata governista nas preferências do eleitorado. Será que o país está tão bem assim. Estou pensando em dar crédito ao Pelé sobre questões eleitorais.

                 Sorte têm os governantes brasileiros com um povo assim, “homem cordial”, país tropical,democracia racial, Maracanã, futebol, carnaval, praia, Copacabana, Garota de Ipanema, samba, feijoada, cervejada, botequim e malandragem de alto a baixo, as favelas e suas UPPs (ouvindo-se ainda ao longe e nas noites fantasmagóricas o eco dos gritos de um Amarildo torturado e assassinado), mistura de todas as raças e religiões sem grandes conflitos.Um povo unido, tranquilo e feliz, O Brasil é mesmo uma salada que dá certo e ao mesmo tempo dá errado, que tem rico e que tem pobre, tem até classe C. O que querem mais? Parafreseando um poeta, direi ao terminar esta página em branco: “Desconfio que fiz uma crônica.”