UM PAÍS SEMPRE EM RECONSTRUÇÃO, VERDADEIRA OU DE FACHADA?
Por Cunha e Silva Filho Em: 26/05/2023, às 13H21
UM PAÍS SEMPRE EM RECONSTRUÇÃO, VERDADEIRA OU DE FACHADA?
CUNHA E SILVA FILHO
Nas esferas das letras e artes em geral o país sempre se distinguiu e deu certo. Vejam-se o quanto somos como nação que tem dado frutos de primeira qualidade e, o que é altamente auspícioso, nesses domínios culturais andamos muito para frente ao passarmos pelas diversas modalidades de movimentos artísticos : na literatura na pintura, no teatro, no cinema, na música, enfim, em tudo que depende de nosso talento multifacetado para a criação artística.
Por outro lado, ao nos defrontarmos com a práxis política, os resultados são desastrosos, desde o Brasil Colonial. Aqui a coisa pega e os retrocessos são muitos. No plano ético, no plano jurídico, só teoricamente avançamos na produção de obras caras ao pensamento avançado nacional.
Citemos alguns autores de grande monta, que deram um enorme contribuição ao entendimento da nossa formação histórico-social, não importando aqui a posição ideológico-política de cada um: Gilberto Freyre, Nelson Werneck Sodré, Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), Caio Prado Jr., Clóvis Moura, Raimundo Faoro, Celso Furtado, o recém-falecido historiador Bóris Fausto, Eduardo Portella, José Guilherme Merquior, entre tantos outros pensadores tanto no passado quanto na atualidade.
Entretanto, tudo desanda na ordem política e praticamente em poucas fases da história social e política brasileira tivemos resultados compensadores no que concerne à vida social, notadamente na questão crônica e imutável da mobilidade social.
A questão que se põe em discussão é: por que não melhoramos secularmente o que de mais se exige no desenvolvimento de um país com as riquezas que tem o Brasil? Por que teimamos em não sermos verdadeiros, sérios íntegros? Por que, quando menos se esperam resvalamos no lodaçal da corrupção e da impunidade crônicas?
Para sermos mais simplificado, uma vez que aqui não temos a pretensão em breve artigo, de largos voos em torno da vida social e política nacional, a velha citação do livro de Stefan Zweig, Brasil, país do futuro se torna, assim, tão rasa e bombástica quanto ao livro do conde de Afonso Celso Por que me ufano do meu país?. Um fato curioso é que, nas festas de nosso carnaval, tão bem estudadas nos seus objetivos sociais e simbólicos pelo antropólogo Roberto DaMatta no livro Carnavais, malandors e heróis, o que se depreende é um país que está sempre se vangloriando de nosso fastos e de temas ufanistas, como se nosso país fosse uma ilha de fantasia durante os festejos do momo. Ora, ao combinarmos os ingredientes ufanistas de país do carnaval e do futebol, o “grande catalizador” na afirmação laudatória de Tristão de Athayde (já citado atrás ), juntando samba e mulheres bonitas, negras, mulatas e brancas, obtemos uma retrato que não expressa o que adrede quer ocultar da pátria amada, salve salve.
Ou seja, na fusão das etnias e livrando-se do odiento preconceito hoje ressuscitado para vergonha de um país mestiço, que foi polarizado, nas últimas eleições presidenciais, drasticamente dividindo-nos como uma sociedade que se define como progressista ou conservadora, fenômeno provocado pelas disputa acirrada entre o bolsonarismo e o lulismo, os quais, nos seus extremos ou excessos, se transformaram em fanatismo perigoso de debates políticos no país inteiro.
Ora, o fanatismo é pernicioso em ambos os lados e ninguém pode se arvorar detentor da verdade em matéria controversa como no domínio político. Cumpre agir no meio termo, a fim de não cairmos no bolsonarismo que culminou na quase tragédia do dia 8 de janeiro naquela tentativa de extremistas da direita (civis e militares) de invasão da Praça dos Três Poderes na tentativa fracassada de colimar uma ruptura do Estado Democrático ainda que este tenha igualmente seus erros e defeitos ocorridos no passado do governo petista, sobretudo levando em conta mudanças político-econômicas que só pioram com a implantação do nefasto neoliberalismo globalizado, cujos princípios datam já da infausta era Collor, passando por FHC e até, em parte, pelo petismo.
Quem acompanhou com atenção os sucessivos governos federais anteriores à volta da democracia e posteriores a ela, não pode do mesmo modo ignorar os acertos, fracassos e os escândalos petistas. Em vários artigos, no passado, me reportei aos desmandos e “malfeitos” ocorridos no governo Lula a partir do seu segundo mandato, assim como no governo de Dilma Rousself e Temer dois grandes fracassos causadores de sofrimentos e aperturas financeiras, ainda culminados com o fracassado governo do Sr. Bolsonaro.
Por outro lado, espero que, desta vez, com uma experiência mais vasta na presidência da República, o Sr. Lula tenha o amadurecimento cabal de se recuperar dos estigmas do passado e realizar um governo sóbrio e que atenda não só aos despossuídos mas a todas as diferenças de classes sociais, enfrentando dois grandes problemas inadiáveis: a elevadíssima carestia (inflação impiedosa)) desenfreada de preços de alimentos e outros itens vitais a uma vida digna de todos os brasileiros e a escalada nunca vista antes da violência em todo o país, sobretudo no eixo Rio-São Paulo. Esse dois urgentíssimos problemas devem ser a meta principal do Sr. Lula. Ignorá-los seria a derrocada do PT.