Um grande filme do grande Walt Disney

UM GRANDE FILME DO GRANDE WALT DISNEY

Miguel Carqueija

Que festa para os olhos e ouvidos este documentário! É Walt Disney do princípio ao fim, a história empolgante de um grande homem, sua inteligência rara, sua criatividade, iniciativa, seus sonhos e ideais, seus princípios morais. A imagem de um homem de família, dedicado à esposa Lilian e às filhas Diane e Sharon (esta, adotiva), ao restante da família e aos seus empreendimentos. Cineasta e editor de revistas em quadrinhos, Disney tornou-se uma figura popularíssima, uma cara conhecida, facilmente reconhecível pelo grande público. Um dos homens mais amados do mundo.

Este documentário produzido pela família de Walt Disney focaliza com riqueza de detalhes desde os primeiros anos de WD — foto até de bebê — até a morte e a comoção mundial que causou seu falecimento, considerado prematuro, aos 65 anos, vítima de um câncer pulmonar.

Os depoimentos que se sucedem ao longo da projeção possuem grande interesse. Diane Disney Miller, por exemplo, fala com emoção de seu ilustre pai. Ray Bradbury aparece para contar como foi ao cinema não para assistir o filme mas seu complemento que era o curto de Disney “Skeleton dance”, uma obra-prima do cinema de animação em 1929. Ward Kimball, grande animador dos Estúdios Disney, dá uma contribuição sagaz e esperta. E até Chuck Jones, um rival, pois trabalhava na Warner com os desenhos da turma do Pernalonga, comparece.

Walt Disney aparece em muitos depoimentos, apresentando a Disneylândia, ou em filmes jornalísticos ou até em obras primitivas da década de 1920, inclusive com a menina Virginia davis, que interpretava Alice da série homônima. Nela Walt colocava a menina de carne e osso num cenário de desenho animado.

É singelo mostrar cenas com o pai de Walt, Elias, a mãe, Flora, os irmãos Roy, Herbert, Ruth, o tio Robert, o genro Ron Miller — ele, um esportista que se tornou produtor de cinema como o sogro — o sócio Ub Iwerks e tanta gente.

Vemos cenas de bastidores com Walt gravando dublagem do desenho do Mickey — e ele próprio fazia a voz de falsete do personagem.

Em depoimento nas investigações sobre comunismo no meio artístico Disney corajosamente declarou: “Acho que eles devem ser tirados dos esconderijos e revelados como são, para que as boas causas do país, o liberalismo realmente americano possa prosseguir sem a mácula do comunismo”.

Basicamente um produtor e criador de cinema, Walt Disney porém inspirou-se no Tivoly Park da Dinamarca para desenvolver a idéia do parque temático Disneylândia, que em tese nunca estaria completo.

Suas audácias — como “Branca de Neve e os sete anões” (1937), “Fantasia” (1940) e a série de documentários “True life adventures” (Aventuras da vida real), sobre a natureza, iniciada em 1947, aparecem com destaque, bem como a sensacional produção “Mary Poppins”, de 1964. Aliás a narração de “Walt: the man behind the myth” está a cargo de Dick van Dyke, o Bert de “Mary Poppins”.

Eu poderia escrever páginas e páginas sobre este emocionante filme de Walt Disney, de tão rico ele é. A gente sente que ainda é um filme dele, embora produzido quase 35 anos após sua morte, porque é ele do princípio ao fim, com sua imagem e sua voz e sua obra em desfile desde os primórdios.

Para quem, como eu, cresceu assistindo Walt Disney no cinema e na televisão, ainda hoje parece irreal a sua morte.

Rio de Janeiro, 31 de julho de 2018.