Treva Nacional

Válber Ribeiro

As últimas chuvas que caíram em Teresina revelaram o caos em que se encontra o sistema elétrico brasileiro. A energia produzida não é suficiente para atender à demanda e, ao menor sinal de chuva, o fornecimento desse serviço fica interrompido.

E os cidadãos como ficam? Às escuras, em casa, na rua, nas paradas de ônibus, ou mesmo, no interior de seu veículo ilhado. Imagine chegar a sua casa, à noite, sob forte temporal e sem nenhuma lâmpada acesa. Então se pensa em reclamar para a Eletrobrás, o que nem sempre resolve. Na maioria das vezes, ouve-se uma música de melodia linear e irritante. Com muita sorte, ao reclamar da falta de energia, alguém lhe dirá – nossa equipe já se encontra na área, senhor. Isso significa em média uma espera de pelo menos  quatro horas. Dissuadido, e com seu direito de cidadão afetado, você vai entregar-se resignado ao abate pelas muriçocas ou travar luta com elas em defesa do seu sangue.

Nesse momento, o indivíduo se pergunta que país é esse se na Constituição se tem todas as garantias (educação, saúde, moradia, segurança, vida digna e tratamento humanizado)? Por que pagar por tudo isso? O que a falta de energia tem a ver com isso? Tratamento humanizado. Sem ela, à noite, não se estuda, não se assiste aos telejornais, não se usa o computador, não se usa microondas etc. Esse fato seria menos grave se não tivéssemos a consciência de que já pagamos por todos esses serviços e bens. Num passado recente, o Brasil sofreu dois grandes apagões. Esses acontecimentos deixaram São Paulo e Rio de Janeiro no Sudeste e boa parte do Nordeste às escuras. Imaginou-se à época que o governo brasileiro fosse resolver esse problema, ledo engano. 

Parece que a política do quanto pior é melhor para nós nos elegermos não sairá de cena. Nisso, há uma lógica, pelo menos, para eles, pois enquanto os problemas de infraestrutura existirem, não fenecerá a esperança do povo – o combustível- que leva os eleitores às urnas. Querem um país desenvolvido, mas fazem uma política social tacanha, voltada para o próprio umbigo. Não há país verdadeiramente desenvolvido, se o seu povo é desassistido principalmente em seus direitos constitucionais. Entre tais garantias do texto constitucional, está a energia, que é um bem- comum. Não se pode deixar que o breu das noites chuvosas atinja as retinas e que não se perceba a ideologia dominante vendida tão cara aos pobres brasileiros, como sendo um mal vitimizador da parcela da população menos privilegiada.

Representantes do povo no Congresso “se esquecem” de que energia é qualidade de vida e índice de desenvolvimento socioeconômico para qualquer país. Então, é possível viver sob trevas?


Válber Ribeiro é mestre em Letras pela UFPI e professor do Instituto Dom Barreto