Três Poemas
Por Marcos Freitas Em: 27/07/2022, às 21H55
MENINOS DO BARROCÃO
Aos sábados, o pedido de minha mãe
para enfiar a linha pelo fino buraco da agulha.
Após, o eterno rangido da máquina Singer.
Aos domingos, no quintal de casa,
cada menino aguardava a vez
de ganhar seu rolete de cana cortado pelo pai.
Fim de tarde, sonhos alimentados
no alto das goiabeiras.
Em fins de semana de sol,
todos a postos na Rural bicolor
rumo às piscinas do Piauhy Sport Club.
Junhos de papagaios e ventos.
Memórias impressas em nuvens.
À ESPERA DO VENTO DA NOITINHA
para dona Dulce e dona Nonata
velhas cadeiras de balanço.
os espaguetes desbotados denunciam
as tantas conversas e confidências que ali foram reveladas.
velhas cadeiras de balanço.
as tardes mormacentas, refrescadas
à sucos de cajus e cajás, prenunciam
os relâmpagos ao longe, lá pras bandas da beira do rio.
velhas cadeiras de balanço:
guardiãs da memória derradeira (nua e crua)
da rua Gabriel Ferreira.
RUA DO BARROCÃO
no quintal da minha infância
brotavam goiabas
vermelhas, brancas.
no terraço de minha adolescência,
entre bolas e bilas,
cresciam amizades sólidas.
hoje,
homem maduro,
ainda planto sonhos
e aguardo frutos.