Cunha e Silva Filho


                            O eixo temático deste artigo se limita ao Rio de Janeiro, embora se possa estendê-lo para a cidade de São Paulo, que não deve ser muito diferente. Por ora, quero me limitar ao uso do ônibus e suas implicações para a segurança dos passageiros. Nessas duas megalópoles, os passageiros sofrem muito com a extrema violência, selvageria e truculência de grande parte dos seus motoristas, acrescidas, além disso, da ala velocidade imprimida aos veículos. Em capitais menores do país, a gente sente como os motoristas são diferentes, são mais cordatos, mais disciplinados.             Entretanto, isso não justifica o alto nível de agressividade dos ônibus do Rio e São Paulo.Não é por dirigirem veículos de grandes cidades que os motoristas tenham que se comportar como bárbaros no volante e no relacionamento com o passageiro.
                         As autoridades, governador, prefeito, deputados etc e as pessoas de maior poder aquisitivo que só andam em seus carros particulares, parecem desconhecer a duríssima realidade do cotidiano de quem anda de ônibus, correndo sempre um grande risco, na iminência de que algo trágico possa acontecer a qualquer momento no percurso de uma viagem de seu bairro até o ponto de descida de cada passageiro.
                        Os motoristas cariocas, em geral, não estão respeitando os passageiros nem cumprindo as normas de segurança e limites de velocidade determinados por lei. Estão pondo a vida dos usuários desse transporte de massa em alto risco. Dirigem os veículos com brutalidade, dando freadas bruscas sem necessidades, sacolejando de propósito os veículos ou mesmo pouco se importando com os passageiros que estão viajando em pé e, por isso, mais vulneráveis a sofrerem quedas e serem seriamente machucadas durante a viagem. Muitas vezes, ao notarem pessoas idosas lhe acenando para embarcarem, não param o ônibus, fingem que não veem e até aceleram mais o carro pelo meio da pista. Alegam os idosos que tais motoristas agem assim por pura desconsideração àqueles que têm gratuidade de transporte. 
                     Ora, o dinheiro não é dos motoristas e nem estes são donos do veículo, nem serão, que eu saiba, tampouco recompensados com prêmios para fazerem maldades contra idosos. Não creio que recebam recomendações das empresas para procederem assim, o que seria uma infâmia por parte de empresários que não mereceriam desenvolver este tipo de atividade de caráter essencialmente social. Então, por que tanta maldade? Muitas vezes motoristas incompetentes não prestam a devida atenção aos passageiros que estão descendo dos ônibus por detrás, segundo é a norma hoje, e por isso causam acidentes fatais aos passageiros, sobretudo os mais idosos, o que é uma ato de abominável covardia e desrespeito ao ser humano. Não se lembram os motoristas de hoje que, no futuro, estarão na mesma posição de passageiros que dependem da gratuidade. Mas, isso é pedir muito a quem não tem, em geral, visão do mundo e das voltas que este dá.
                  Como nosso povo suporta tudo sem reclamar, representante do “homem cordial que é, ou por ignorância, ou por covardia, os motoristas indisciplinados se aproveitam desse silêncio e abulia coletivos (sem intenção de trocadilho) e fazem o que bem entendem na direção de um veículo sob sua responsabilidade. Ora, ali se encontra um veículo por vezes lotado de passageiros, aumentando, assim, a possibilidade de um acidente de maior proporção e com desfechos ainda mais trágicos.
                 Cabe à Prefeitura do Rio de Janeiro tomar as medidas urgentes e definitivas neste sentido, uma vez que essa situação se arrasta há anos, determinando que a Secretaria de Transporte Municipal tome providências rigorosas contra as empresas de ônibus ou de outro veículo de massa, aplicando-lhes pesadas multas, e se o caso form mais grave, cassando-lhes as concessões. As empresas de ônibus, por sua vez, devem demitir por justa causa aqueles motoristas relapsos que estejam praticando estejam praticando infrações de todo tipo e principalmente, repito, colocando a vida dos passageiros em constante perigo.
                 É preciso de imediato mudar este esta situação aflitiva para os passageiros que, ao tomarem um ônibus, já se sentem angustiados e apreensivos com o que irão encontrar durante o percurso de suas viagem.
                 Há algumas sugestões que poderiam surtir efeito positivo na melhoria das viagens de ônibus urbano:

1) A seleção de motoristas deveria ser a mais rigorosa possível, sobretudo nos seus aspectos psicossociais. Um candidato a motorista não pode ser um potencial psicopata, um indivíduo desequilibrado. A psicologia já dispõe de meios de aferir se uma pessoa pode exercer ou não uma atividade desta natureza. Por conseguinte, o candidato selecionado deve preencher requisitos fundamentais ao exercício de uma atividade importante socialmente como é a do motorista. Ele vai lidar o tempo todo com vidas humanas e isso não pode ser esquecido;

2) O candidato a motorista deve ter e comprovar conhecimento de leis de trânsito e de saber como tratar os passageiros que, de resto, são as pessoas que garantem o emprego dele;

3) Deve haver constantemente uma pesquisa permitindo que passageiros avaliem seus motoristas. Aliás, tem-se visto que , em alguns ônibus, há uma urnazinha, colocada em lugar visível do veículo, solicitando opiniões dos passageiros sobre o desempenho dos veículos por parte dos motoristas. Contudo, e necessário que os usuários façam a sua parte atendendo a essas solicitações e reclamando insistentemente sobre motoristas irresponsáveis. Os passageiros devem ser solidários uns com os outros sempre que observam que os motoristas estejam conduzindo o veículo de forma desastrada e criminosa;

4) A Secretaria Municipal de Transportes não pode abdicar de sua alta responsabilidade no sentido de fiscalizar permanentemente com todo rigor e aplicação da lei, todos os desmandos e ações criminosas cometidos por motoristas de ônibus;

5) Os motoristas devem ter melhores salários e condições de trabalho. Estes benefícios são é fundamentais – assim como em qualquer outra atividade -, para que bons motoristas sejam estimulados a exercer uma atividade social tão fundamental.
 

6) Uma grande campanha nos diversos meios de comunicação deve ser lançada pelos órgãos municipais competentes chamando a atenção da importância da solidariedade entre passageiros de ônibus e de uma maior aproximação ou melhor entrosamento entre usuários e motoristas. Essa possibilidade é exequível. Basta boa vontade de todos os envolvidos, ou seja, dos passageiros, motoristas e autoridades.