Tenham pena da Síria!
Por Cunha e Silva Filho Em: 24/01/2016, às 13H00
Tenham pena dos sírios!
Cunha e Silva Filho
Venho de tempos em tempos publicando artigos sobre a Síria, em particular focalizando o drama apocalíptico desse país. Sendo assim, tenho assinalado as peripécias e os percalços de um povo sofrido sob as ordens truculentas do ditador Bashar al-Assad. A guerra civil que se instalou na região tem multiplicado os milhares de mortos, e por falar em vítimas, estas têm como alvos indiretos os civis. Vendo-se pela TV as imagens das batalhas sangrentas, não mais sentimos que o país possa ser classificado como tal, pois não é mais uma nação na sua estrutura geográfica, arquitetônica e sim destroços de construções, monumentos e mortos por balas assassinas.
No início, as tropas governamentais enfrentavam a oposição contra a ditadura de Assad que, ao que tudo indica, não quer sair do poder discricionário, cruel e sanguinário. Os ditadores são assim mesmo, não querem nunca arredar do poder, do domínio da força bruta contra os sírios que desejam a sua saída e possivelmente tomar o poder com novas perspectivas de melhoria social e organização político-institucional.
Ora, é isso que faz com que os chamados rebeldes resistam a esse genocídio, é isso que torna os campos de guerra mais renhidos de parte a parte. Para piorar ainda mais o estado beligerante entre irmãos da pátria comum , a Síria é ainda invadida pelo Estado Islâmico e por outras facções externas que se aproveitaram para conquistar a frações do território sírio.
O ditador, todavia, não dá o mínimo sinal de entrar em acordo com os rebeldes e o resultado disso foi o êxodo de sírios de todas as idades e condições sociais e culturais em direção a outros países, dando início às ondas de refugiados em direção à Europa, sobretudo Alemanha. Essa fuga da Síria é um dos acontecimentos mais tristes e dolorosos de que já se tem notícias após a Segunda Guerra Mundial. No momento em que os sírios são obrigados a deixar tudo que tinham conseguido no seu país, outros povos, de origem africana, juntaram-se para engrossar o contingente de refugiados buscando emigrar para a Europa e outras partes do mundo, inclusive o Brasil.
Esse refugiados enfrentam os perigos do mar, sofrem perdas de refugiados que morrem afogados em embarcações frágeis com destino a nações que estejam dispostas a dar-lhes a esperança de uma vida nova, ainda que com os problemas de se adaptarem a novos costumes, línguas e de dificuldades de conseguirem um emprego, em geral, subemprego, virarem ambulantes ou dependerem de doações provenientes de órgãos internacionais ou do próprio país em que se instalarem.
Ante todo esse drama feito de sofrimentos e perdas de vidas, os refugiados sírios e de outras nacionalidades ainda enfrentam por vezes a má vontade ou a proibição de países que não permitem a entrada desse enorme contingente de desenraizados.
Não vejo com bons olhos nenhuma ação enérgica dos países mais adiantados no sentido de acionarem a ONU e seu Conselho de Segurança a fim de estancarem as verdadeiras causas dessas atribulações dos sírios.
Não serão os combates de forças de coalização europeia e norte-americana que deslocam seus drones ou mesmo aviões tripulados contra alvos do grupo terrorista EI e de outras facções terroristas que irão desmantelar os inimigos na Síria. Ao invés de armas, por que não negociam logo a saída de Assad? Será porque temem a reação da Rússia, que lhe dá apoio bélico, e do Irã, que lhe concede apoio financeiro? Neste caso, por que os EUA não negociam o imbróglio diretamente com a Rússia e o Irã? O que não pode continuar é permitir-se que a Síria seja destruída totalmente a ponto de o próprio ditador se ver acuado e ter que deixar o poder vazio, mas, em tal situação, a nação síria não servirá para ninguém. Tornar-se-á uma terra inteiramente deserta.
Numa guerra civil que vem desde
A meu ver, a Síria só alcançará a paz desejável quando os países mais desenvolvidos se debruçaram sobre dois grandes componentes desencadeadores da guerra civil síria: a mudança da forma de sistema de governo, ou seja, de uma já longa república de fachada com poderes enfeixados nas mãos de Assad para uma democracia autêntica, na qual os direitos humanos e todas as liberdades do indivíduo sejam postas em vigor por uma nova Constituição determinando a alternância do poder e não como por longo tempo tem sido feito sob o tacão e truculência de um ditador.
O outro componente da guerra civil seria de natureza econômica, a riqueza do seu potencial petrolífero, principalmente em face da propalada notícia de que, no Mar Mediterrâneo, há imensa reserva de petróleo.
Um país com múltiplos grupos éticos, religiosos, políticos, vivendo sob o regime autoritário
O mundo não suporta mais assistir a mortes de crincinhas mortas em praias de outra nação ou no percurso por água a caminho de uma acalentada felicidade.Não queremos tampouco presenciar pela TV o olhar amargurado de uma criança síria expondo o corpinho esquálido, mostrando as costelas sob a pele sofrida como sinal inconteste de que, no próprio país dela, serezinhos assim morram de fome e de desesperança por culpa dos homens sem coração mas ávidos pelo poder a todo custo.Tenham piedade da Síria!