[Flávio Bittencourt]
Slavoj Zizek perturbando o Universo
Livro Bem-vindo ao Deserto do Real, do pensador e político esloveno Slavoj Žižek, é comentado por V. Safatle.
"SERÁ O ' DESERTO DO (lacaneano) REAL', A QUE SE REFERE O
GRANDE TEÓRICO ESLOVENO S. ZIZEK, O RESULTADO DA EXPLOSÃO
DO FINAL DO FILME ZABRISKIE POINT? "
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
CARTAZ DE FILME LANÇADO EM 1970, DE ANTONIONI,
NO QUAL SÃO APRESENTADOS PLANOS DE
MEGAEXPLOSÃO PELA QUAL voam longe
OBJETOS DA SOCIEDADE DE CONSUMO,
NO VALE DA MORTE, CALIFÓRNIA (EUA)
MINIARTIGO DE JOÃO LOPES (JUL. / 2007),
NO QUAL TRANSFORMAÇÕES "DE BASE"
NA ESFERA DO CINEMA - arte particularmente
cara ao Prof. Zizek - SÃO MENCIONADAS:
"Terça-feira, Julho 31, 2007
Antonioni: conviver com o video
Numa adaptação muito livre de
L'Aigle à Deux Têtes, de Jean Cocteau, Michelangelo Antonioni dirigiu, em 1981, o filme
O Mistério de Oberwald. Monica Vitti surgia na teia de um romantismo austero, quase cruel, austeridade e crueldade agudizadas pelo facto de Antonioni ter filmado em... video!
Na altura, importa recordá-lo, a sofisticação técnica e as opções videográficas nada tinham que ver com o desenvolvimento a que se assistiu em anos recentes. Antonioni filmava em video para afirmar uma alternativa clara e, por assim dizer, utópica -- o cinema, afinal, podia continuar por outros meios. Ou ainda: a película não era a matéria sagrada dos filmes e tudo voltava a ser possível.
Escusado será dizer que, mais de 25 anos depois, a escolha de Antonioni se inscreveu na história das formas cinematográficas como um exercício de radical pioneirismo, precedido por poucos (Jean-Luc Godard fizera o seu videográfico Número Dois no ano de 1975). Era a prova real de que cinema e televisão se podem (re)converter incessantemente, contaminando-se, sem alienar a sua especificidade.
BRASÃO DE ARMAS DE LJUBLJANA [LIUBLIANA, LAIBACH, LUBIANA OU LABACUM], ESLOVÊNIA (EX-IUGOSLÁVIA), CIDADE ONDE O PROF. DR. SLAVOJ ZIZEK NASCEU, EM MARÇO DE 1949
O "VÓRTICE" ZIZEK REFERE-SE AOS PRESIDENTES
LULA, CHÁVEZ E OUTROS LÍDERES DA AMÉRICA DO SUL,
Youtube:
(Globonews, entrevista ao nobre jornalista Jorge Pontual, gravada no estúdio da TV Globo em Nova Iorque, EUA, trecho do histórico depoimento concedido à televisão brasileira)
POEMA "MANDATOS", DE AUREO MELLO
(POETA, ADVOGADO E POLÍTICO BRASILEIRO,
FOI SENADOR DA REPÚBLICA E LÍDER DA
BANCADA GOVERNISTA NO SENADO BRASILEIRO,
NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 1990):
"Mandatos
AUREO MELLO
Fui benigno. E também leal com os meus patrícios.
Não retirei o pão da boca de coitados.
Fechei-me às tentações e dei volta aos achados
Potes de ouro e dobrões que me seriam propícios.
Ao sonho consagrei, qual fogos de artifícios
Palavras com clarões que vos foram mostrados
E no potro do ideal corri nos descampados
A bandeira a agitar do Cristo os sacrifícios.
Só pequei por amor a celestes fascínios
De corpos aromais e sagrados escrínios
Onde depositei meus astros lapidados.
Ou Heliotrópios meus, adamantinos lácteos
Que o mistério maior, sem ter piedade, abate-os
Na campina surreal dos fatos consumados".
(transcrito de Heliotrópios Adamantinos Lácteos: suco de estrelas,
SOBRE (possíveis) CONTRADIÇÕES ENTRE POSIÇÕES TÉORICAS
E PLATAFORMAS PRÁTICO-POLÍTICAS DE S. ZIZEK:
"(...) O marxismo está presente em Zizek como caldo de cultura de sua própria vida na Iugoslávia, embora, com o desmoronamento do país, tenha se candidatado à presidência da Eslovênia com base em uma plataforma liberal, apoiando medidas de choque de capitalismo. Mas, ainda nos anos 90, volta a carregar o marxismo como uma de suas mais importantes ferramentas teóricas e práticas, ainda que de modo próprio.
Desde os tempos de sua formação intelectual, Zizek se põe num diálogo próximo com a corrente que foi denominada “pós-marxismo”, destacadamente com Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. Mas é exatamente este diálogo que revela mostras das trilhas próprias construídas por Zizek em sua filosofia política. Enquanto nos últimos tempos Laclau erige uma teoria da razão populista, buscando um diálogo de assimilação da tradição política de Chávez, Morales e Kirchner, Zizek tem persistido pelo campo da crítica mais contundente e da desconstrução das alternativas hoje postas em campo pela política progressista já estabelecida. Pode-se argumentar que a posição de Zizek seja, para o jogo presente, ao mesmo tempo mais exigente teoricamente, porque não se contenta com a reforma, mas conservadora na prática, na medida em que a falta de apoio ao progressismo em marcha pode ser confundido com uma resistência que é, no fundo, uma preferência circunstancial pelas políticas de cidadania liberal. Se esse perigo se põe na sua posição política prática, Zizek dele se afasta, no entanto, quando de sua proposição teórica. (...)"
(ALYSSON LEANDRO MASCARO, PROFESSOR DA FACULDADE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO [USP])
PORTAL UOL - CINEMA
FESTIVAL DO RIO 2010
William Kunstler: Perturbando o Universo
"Sinopse
Nas décadas de 60 e 70, o ativista radical William Kunstler tornou-se um dos advogados mais polêmicos dos Estados Unidos. Tendo se unido a Martin Luther King Jr. na luta pelos direitos civis e representado os "Chicago 8", tornou-se o mais requisitado advogado da esquerda radical e logo passou a defender acusados de estupro, de terrorismo e chefes da máfia. Suas filhas Emily e Sarah, que nem sempre compreendiam as atitudes do pai, empreendem com este filme uma investigação sobre a história de um homem que arriscou a segurança da própria família em nome da justiça para todos.
Ficha técnica
Título inglês: William Kunstler: Disturbing the Universe
Diretor: Sarah Kunstler, Emily Kunstler
Elenco: William Kunstler, Herman Badillo, Dennis Banks, Harry Belafonte
Ano de Produção: 2009
País: Estados Unidos
Duração: 87".
"A esquerda bate na esquerda |
Há muito tempo a esquerda não apanhava tanto. Da esquerda. O filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek bate pesado. “Com essa esquerda quem precisa de direita?” é o que pergunta ao inventariar asneiras e disparates ditos pelas esquerdas européia e americana depois da derrubada das torres do World Trade Center. O 11 de setembro é um eixo importante de “Bem-Vindo ao Deserto do Real”, título do livro que acaba de sair aqui, que é citação literal da saudação de Morpheus, o guru, ao personagem vivido por Keanu Reeves no filme “Matrix”.
Zizek, que é tido como um dos mais originais pensadores de esquerda da atualidade, não poupa ninguém. Fustiga o alemão Jürgen Habermas, remanescente do marxismo da Escola de Frankfurt, que profanou a Teoria Crítica a ponto de virar ídolo de José Maria Aznar, o primeiro-ministro da Espanha e estrela da nova direita européia. Bate no escritor Tariq Ali, militante da anti-globalização e da causa palestina. Dá cotoveladas em Gilles Deleuze ("existe coisa mais monótona que a poesia deleuziana da vida contemporânea como a proliferação descentrada de multidões de diferenças não-totalizáveis?"), em Alain Badiou, em meio mundo.
Seu combate no terreno das idéias é contra maniqueísmos que produzem engodos de argumentação. Demole o “choque de civilizações” de Samuel Huntington, provando que não há choques entre civilizações mas que os choques estão dentro de cada civilização, roendo suas entranhas. Não acredita que a “democracia liberal” seja remédio contra os “fundamentalismos”. Nem que haja diferença palpável entre sionismo e “islamofascismo”. E mesmo que estas contraposições pareçam fáceis e batidas demais, ele encara cada uma delas pelo lado mais difícil (...)".
(BOITEMPO EDITORIAL,
http://www.boitempo.com/publicacoes_imprensa.php?isbn=85-7559-035-9&veiculo=site no mínimo)
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CONSTRUÍDO SOBRE O MORRO ESTÁ O CASTELO DE LJUBLJANA,
ESLOVÊNIA (EX-IUGOSLÁVIA)
"Photographer: Branislav Orlovic
Date Taken: 9/15/05
Location: Castle
Description: Ljubljana"
(http://www.davestravelcorner.com/photos/slovenia/)
The European Graduate School (EGS) - Media and Communication, Saas-Fee, Switzerland
["CLASSE DO LADO DE FORA (DO PRÉDIO DA FACULDADE)"]
Slavoj Zizek
onde se pode ler:
"(...) Flagelo de Bush, por causa dos artigos no New York Times, o filósofo [S. ZIZEK] afirma que a grande catástrofe dos países árabes é a derrocada da esquerda laica. [ESCREVEU ZIZEK;] ' O pan-arabismo dos anos cinquenta era um movimento laico. Hoje praticamente desapareceram os laicos do mundo árabe, em boa medida porque os Estados Unidos se aliaram aos islâmicos para acabar com os democratas, nos quais viam um ninho de comunistas. Os agentes da CIA de ontem são os terroristas de hoje. Agora acontece o contrário. Para a esquerda européia, os laicos árabes antiislâmicos são agentes americanos' (...)." [CRISTÓVÃO FEIL])
RELAÇÃO DE LIVROS ESCRITOS PELO PROF. DR. SLAVOJ ZIZEK [NASCIDO EM 21.3.1949,
NA CIDADE DE LJUBLJANA, ESLOVÊNIA, PAÍS QUE, COMO SE SABE, FAZIA PARTE DA ANTIGA IUGOSLÁVIA], WIKIPÉDIA:
"Slavoj Žižek bibliography
The philosopher and cultural theorist Slavoj Žižek is a prolific writer who has published in numerous languages.
Books
- 2011, Hegel and the Infinite: Religion, Politics, and Dialectic, New York: Columbia University Press (edited by Clayton Crockett, Slavoj Zizek, Creston Davis. Preface, and chapter 12 written by Slavoj Zizek)
- 2010, Paul's New Moment: Continental Philosophy and the Future of Christian Theology, Grand Rapids, MI: Brazos Press (with Creston Davis and John Milbank)
- 2010, The Idea of Communism, London: Verso (Texts from "The Idea of Communism" conference, 2009, edited by Žižek and Costas Douzinas)
- 2010, Living in the End Times, London: Verso.
- 2010, Philosophy in the Present, Polity (with Alain Badiou).
- 2009, Mythology, Madness and Laughter: Subjectivity in German Idealism, Continuum (with Markus Gabriel).
- 2009, First As Tragedy, Then As Farce, London: Verso.
- 2009, In Search of Wagner (Radical Thinkers), London: Verso (Selected texts of Theodor W. Adorno with introduction by Žižek).
- 2009, The Monstrosity of Christ: Paradox or Dialectic?, The MIT Press (with John Milbank).
- 2008, Violence: Big Ideas/Small Books, New York: Picador.
- 2008, In Defense of Lost Causes, London: Verso.
- 2007, En defensa de la intolerancia, Madrid: Sequitur.
- 2007, On Practice and Contradiction, London: Verso (Selected texts of Mao Zedong with introduction by Žižek).
- 2007, Terrorism and Communism, London: Verso (Selected texts of Leon Trotsky with introduction by Žižek).
- 2007, Virtue and Terror, London: Verso (Selected texts of Robespierre with introduction by Žižek).
- 2006, How to Read Lacan, London: Granta Books (also New York: W.W. Norton & Company in 2007). Text
- 2006, The Parallax View, Cambridge, Massachusetts: MIT Press.
- 2006, Neighbors and Other Monsters (in The Neighbor: Three Inquiries in Political Theology), Cambridge, Massachusetts: University of Chicago Press.
- 2006, The Universal Exception, London, New York: Continuum International Publishing Group.
- 2005, Interrogating the Real, London, New York: Continuum International Publishing Group.
- 2005, Kako biti nihče. Ljubljana: Društvo za teoretsko psihoanalizo.
- 2004, Iraq: The Borrowed Kettle, London: Verso.
- 2004, Paralaksa: za politični suspenz etičnega, Ljubljana: Društvo za teoretsko psihoanalizo.
- 2003, The Puppet and the Dwarf: The Perverse Core of Christianity, Cambridge, Massachusetts: MIT Press.
- 2003, Organs Without Bodies, London: Routledge.
- 2002, Revolution at the Gates: Žižek on Lenin, the 1917 Writings, London: Verso.
- 2002, Welcome to the Desert of the Real, London: Verso.
- 2001, Repeating Lenin, Zagreb: Arkzin D.O.O.
- 2001, Opera's Second Death, London: Routledge.
- 2001, On Belief, London: Routledge.
- 2001, The Fright of Real Tears: Krszystof Kieślowski Between Theory and Post-Theory, London: British Film Institute (BFI).
- 2001, Did Somebody Say Totalitarianism?, London: Verso.
- 2000, The Fragile Absolute: Or, Why is the Christian Legacy Worth Fighting For?, London: Verso.
- 2000, The Art of the Ridiculous Sublime: On David Lynch's Lost Highway, Washington: University of Washington Press.
- 2000, Contingency, Hegemony, Universality (authored with Judith Butler and Ernesto Laclau), London: Verso.
- 1999, The Ticklish Subject, London: Verso.
- 1997, The Plague of Fantasies, London: Verso.
- 1997, The Abyss of Freedom, Michigan: University of Michigan Press.
- 1996, The Indivisible Remainder: Essays on Schelling and Related Matters, London: Verso.
- 1996, Slovenska smer (authored with Dimitrij Rupel, Tine Hribar, Peter Vodopivec, Jože Mencinger, Dušan Keber and Veljko Rus), Ljubljana: Cankarjeva založba.
- 1994, The Metastases of Enjoyment, London: Verso.
- 1993, Everything You Always Wanted to Know About Lacan... But Were Afraid to Ask Hitchcock, London: Verso.
- 1993, Tarrying With the Negative, Durham, North Carolina: Duke University Press.
- 1992, Enjoy Your Symptom!, London: Routledge.
- 1991, Looking Awry, Cambridge, Massachusetts: MIT Press.
- 1991, For They Know Not What They Do, London: Verso.
- 1990, Beyond Discourse Analysis (a part in Ernesto Laclau's New Reflections on the Revolution of Our Time), London: Verso.
- 1990, Beseda, dejanje svoboda (authored with Zdravko Kobe, Alenka Zupančič and Miran Božovič), Ljubljana: Društvo za teoretsko psihoanalizo.
- 1989, The Sublime Object of Ideology, London: Verso.
- 1989, Druga smrt Josipa Broza Tita, Ljubljana: Državna založba Slovenije.
- 1988, Pogled s strani, Ljubljana: Ekran.
- 1987, Jezik, ideologija, Slovenci, Ljubljana: Delavska enotnost.
- 1985, Hegel in objekt, (authored with Mladen Dolar), Ljubljana: Društvo za teoretsko psihoanalizo.
- 1984, Filozofija skozi psihoanalizo (editor), Ljubljana: Univerzum.
- 1984, Birokratija i uživanje, Beograd: Radionica SIC.
- 1982, Zgodovina in nezavedno, Ljubljana: Cankarjeva založba.
- 1980, Hegel in označevalec, Ljubljana: Univerzum.
- 1976, Znak, označitelj, pismo, Beograd: Mladost.
- 1972, Bolečina razlike, Maribor: Obzorja.
(...) [SEGUE-SE LISTA DE ARTIGOS PUBLICADOS PELO PROF. ZIZEK]"
(http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_books,_films_and_articles_by_Slavoj_%C5%BDi%C5%BEek)
"(...) Em Bem-vindo ao deserto do real!, Slavoj Žižek usa a provocativa frase "Com essa esquerda, quem precisa de direita?" para comentar a atuação da esquerda no período posterior aos atentados de 2001. Atuação essa que permitiu que a ideologia hegemônica se apropriasse da tragédia e impusesse sua mensagem de que é preciso escolher um lado na 'guerra contra o terrorismo' . (...)".
ESTRELA ACADÊMICA ESTRELA DO ROCK
(O PROF. ZIZEK E (UM MÚSICO FAMOSO)
SUA SENHORA)
"(...) Para Zizek, toda política da identidade faz assim necessariamente o jogo do Capital. (...)"
(VLADIMIR SAFATLE, trecho crucial da resenha adiante apresentada, na íntegra)
O NÓ BORROMEANO DE JACQUES LACAN
"NÓ BORROMEANO (J.P.L): |
Objeto matemático advindo da topologia e utilizado por Lacan desde 1972 para mostrar a articulação dos três registros, Real, Simbólico e Imaginário. O nó borromeano se caracteriza pelo enlaçamento de três "anéis" ou "cordinhas de barbante" tal que a ruptura de um acarreta o desligamento dos três. Tratava-se também da figura inscrita no brasão de famílias dos borromeanos que assim selava sua indissolúvel amizade com outras grandes famílias italianas".
|
"(...) Contra uma política das identidades, uma política da universalidade da inadequação. (...)"
(IDEM, mesmo artigo, um pouco adiante)
HOMENAGEANDO AS SAUDOSAS MEMÓRIAS DE
Prof. Dr. Hans Kelsen (1881 - 1973),
Dr. Heráclito Fontoura Sobral Pinto (1893 - 1991),
Dr. William Moses Kunstler (1919 - 1995),
Dr. Carlos de Araujo Lima (1912 - 1998) e
Com. [regista e autore cinematografico e multimediale] Michelangelo Antonioni,
Cavaliere di gran croce dell'ordine al merito della Repubblica Italiana (1912 - 2007)
E ABRAÇANDO FRATERNAMENTE
Dr. Aureo Macedo Bringel Viveiros de Mello,
Dr. José Bernardo Cabral,
Prof. Dr. Vladimir Pinheiro Safatle,
Prof. Dr. Alysson Leandro Mascaro,
Prof. [da Escola Sup. de Teatro e Cinema de Lisboa] João Lopes,
Prof. [mestrando, Univ. de Paris, França] Cláudio César Dutra de Souza e
Prof. Dr. Slavoj Žižek,
A QUEM SE DESEJA MUITA SAÚDE E VIDA LONGA
24.3.2011 - Zizek é uma estrela popteórica, mundial - MAS QUEM AFIRMA ISSO NÃO CONHECE A DENSIDADE FILOSÓFICA E POLÍTICA DE SUAS IDEIAS RADICAIS (antiestrelistas). (Livro de Zizek que foi resenhado por Safatle: Bem-vindo ao Deserto do Real [São Paulo, Boitempo, 2003], tendo sido a primeira edição universal dessa obra publicada por Verso [Londres, 2002].) F. A. L. Bittencourt ([email protected])
RESENHA, POR VLADIMIR SAFATLE,
DO LIVRO DE SLAVOJ ZIZEK
BEM-VINDO AO DESERTO DO REAL:
"Dossiê NOVAS POLÍTICAS
A política do Real de Slavoj Zizek
Por Vladimir Safatle (*)
Editora Boitempo lança no Brasil “Bem-vindo ao Deserto do Real”, do pensador esloveno
“Nós esquecemos como ficar preparados para que mesmo os milagres aconteçam” 1
O lançamento de Bem-vindo ao Deserto do Real (pela editora Boitempo) encerra um hiato de mais de uma década na tradução brasileira da obra de Slavoj Zizek. Após O Mais Sublime dos Histéricos: Hegel com Lacan (Jorge Zahar, 1991) e Eles Não Sabem o Que Fazem: O Sublime Objeto da Ideologia (Jorge Zahar, 1992), as análises e intervenções de Zizek só foram difundidas entre nós através de artigos em coletâneas e jornais de grande circulação.
Nesse período, o filósofo esloveno foi aos poucos firmando-se como um interlocutor maior nos debates sobre o destino do pensamento político de esquerda, isto ao mesmo tempo em que se transformava em figura de proa dos cultural studies norte-americanos, ao fornecer uma via de abordagem da cultura contemporânea que passava ao largo da doxa pós-moderna própria ao relativismo reinante. Via fundada em um duplo recurso, onde um certo resgate da tradição dialética hegeliana se encontrava com uma, até então inédita, “clínica da cultura” de orientação lacaniana.
O subtítulo de seu primeiro livro editado fora da Iugoslávia não deixava dúvidas: Hegel com Lacan. Uma maneira de articular psicanálise e a tradição dialética que não deixava de remeter à estratégia, inaugurada pela Escola de Frankfurt, de reintroduzir as descobertas psicanalíticas no interior da história das idéias e de fundar uma análise do vínculo social a partir da teoria das pulsões.
Mas o que vale a pena salientar aqui é a peculiaridade no uso da dupla filiação reivindicada por Zizek. Pois ela expõe a particularidade e a fonte do interesse cada vez maior despertado pelo seu projeto sociofilosófico. Tal interesse não deve ser creditado apenas ao seu estilo de curtos-circuitos; estilo vertiginoso fundado em cortes sucessivos de planos conceituais que permitem passarmos, sem escalas, da discussão dos impasses do imperativo categórico kantiano à filmografia de David Lynch ou transformarmos Jane Austen no equivalente literário do sistema hegeliano.
Mais do que isto, o que realmente marca Zizek é sua maneira de recorrer à psicanálise e à tradição dialética a fim de resgatar o projeto racionalista moderno com suas aspirações de emancipação e reconhecimento, assim como sua força de crítica da alienação. Isto talvez explique porque, andando na contramão do momento filosófico atual, Zizek prefira conservar “velhas palavras” como: universalidade fundada sobre um acesso possível ao Real, essência, verdade unívoca, sujeito agente, história onde acontecimentos ainda são possíveis, crítica da ideologia, do fetichismo, do simulacro (ou semblant), e outros temas da mesma constelação.
É verdade que defender a constelação conceitual do universalismo nestes tempos de política multicultural e fim das ideologias pode parecer despropositado. Alguns perguntariam se Zizek não está a par do sopro libertário que aparentemente anima a morte do sujeito, a desconstrução da razão moderna, a denúncia genealógica da interação entre saber e poder, a crença na multiplicidade plástica das formas contemporâneas de subjetivação e na contingência radical daquilo que procura se colocar como pós-histórico.
Sim, Zizek está a par de tudo isto. Podemos mesmo dizer que é exatamente a tentativa de levar em conta tais desafios que o impulsionou a reconstruir radicalmente o sentido do projeto de modernização presente na tradição dialética. Notemos, por exemplo, como o pensamento de Zizek não procura, em momento algum, legitimar perspectivas que, no limite, visariam fornecer uma teoria normativa da ação social e das práticas expressivas no interior de um Estado Justo.
Zizek pode, no máximo fornecer as coordenadas gerais de um ato de “modernização política”, mas não há nada em suas dezenas de livros que diga respeito a protocolos de “institucionalização reflexiva” deste ato através da normatização reguladora de práticas sociais. Estranho universalismo este que não procura concretizar-se em realidade jurídica alguma, que se desinteressa pelo estabelecimento de regras universalmente compartilhadas e que parece só estar interessado neste ponto de suspensão no qual o ato político descola-se necessariamente do quadro jurídico 2.
A negação como ato político
É exatamente neste ponto que entra o Lacan hegeliano de Zizek. O filósofo esloveno percebeu rapidamente que a leitura dialética de Lacan poderia lhe fornecer uma teoria do sujeito prenhe de consequências políticas e apta a guiar praxis sociais na contemporaneidade.
Sobre o sujeito lacaniano, vale a pena lembrar como a experiência intelectual do psicanalista parisiense traz, pelas vias da negação, uma alternativa à razão centrada na consciência que não implicaria necessariamente em abandono do princípio de subjetividade. Lacan é aquele que critica a transparência auto-reflexiva da consciência e o telos regulador da comunicação plena ao insistir na especificidade do campo do inconsciente e do sexual a todo e qualquer processo auto-reflexivo.
Ele conhece bem a necessidade de demorar-se diante daquilo que resiste à simbolização reflexiva produzida pelo diálogo analítico. Mas a irredutibilidade do inconsciente e do sexual à simbolização nada tem a ver com hipostases do arcaico, do inefável ou da afetividade. Daí porque não há nada menos lacaniano do que defender a política do retorno à imediaticidade de uma experiência da origem.
Não há nenhuma positividade primeira enunciada pelo inconsciente lacaniano, já que ele não é uma caixa de Pandora de onde sairiam pulsões não-socializadas e conteúdos recalcados. Ele é, antes, aquilo que, no sujeito, se define por resistir continuamente aos processos de auto-reflexão. Ele é lugar do que só pode aparecer como irredutivelmente negativo no sujeito. De onde se segue a importância do tema do descentramento do sujeito do inconsciente (e não seu abandono). Descentramento que indica a posição de não-identidade que um conceito não-substancial de sujeito sempre sustentará diante dos espaços de representação, de auto-apreensão reflexiva e de identificação social 3.
Tal articulação entre sujeito e negação é fundamental para Zizek conservar certas aspirações de emancipação do sujeito próprias ao projeto moderno. Tudo o que ele precisou fazer foi tirar uma conclusão política desta “ontologia negativa” que suporta a reflexão lacaniana sobre a função do sujeito. Daí porque Zizek pode afirmar que: “O sujeito é inerentemente político no sentido que ‘sujeito’, para mim, denota uma partícula de liberdade, já que ele não fundamenta suas raízes em uma substância firme qualquer, mas que se encontra em uma situação aberta” 4.
Esta politização da defesa da irredutibilidade do sujeito marca a maneira com que Zizek entra no debate da contemporaneidade. Lembremos, por exemplo, como ela é mobilizada na viabilização de sua crítica contra a ideologia da “livre escolha” própria ao multiculturalismo liberal, ideologia cujo ápice será o uso da noção de gender como construção performativa do sexual. Pois a experiência da negatividade do sujeito indica, entre outras coisas, como o desejo não se satisfaz na assunção de identidades ligadas a particularismos sexuais.
O sujeito é aquilo que nunca é totalmente idêntico a seus papéis e identificações sociais, já que seu desejo insiste enquanto expressão da inadequação radical entre o sexual e as representações do gozo (seja na forma de identidades como: gay, lésbica, queer, SM, andróginos etc. etc.). Isto permite a Zizek afirmar que a tolerância da multiplicidade liberal (“cada um pode ter sua forma de gozo”) esconde a intolerância diante da opacidade radical do sexual. O que não deve nos surpreender, já que a falsa universalidade do Capital acomoda-se muito bem a esta multiplicidade.
Todas estas reivindicações identitárias (que se dão principalmente na esfera do mercado: para cada identidade um target com uma linha completa de produtos e uma linguagem publicitária específica) estão subordinadas à falsa universalidade do Capital. O mercado é o único meio neutro no qual tal multiplicidade pode articular-se, assumindo a figura de uma rede mercantil de targets.
Para Zizek, toda política da identidade faz assim necessariamente o jogo do Capital. O que nos mostra como a negação pode nos abrir uma via para a fundação de um universal não-substancial 5, caro a um pensamento crítico de esquerda que não queira entregar o discurso do universalismo aos arautos do capitalismo global. Contra uma política das identidades, uma política da universalidade da inadequação.
O primeiro gesto político fundamental consistiria então em sustentar esta liberdade negativa dos sujeitos, permitindo que ela se inscreva no campo do reconhecimento político. Isto significaria, por exemplo, sustentar os modos de manifestação da resistência do sujeito aos processos de instrumentalização social do gozo. Mas é claro que a perspectiva de Zizek não para aqui. Se este fosse o caso, seria difícil não transformá-lo em defensor contemporâneo da ética da ataraxia, da retórica da perpetuação da falta e da incompletude. Ele seria o melhor exemplo dos “pregadores da resignação infinita”, maneira com que Deleuze definia os lacanianos 6.
Longe da resignação infinita, a aposta de Zizek é outra. Lembremos, por exemplo, de sua tendência secreta em salvar o gesto revolucionário de Lênin, distinguindo-o do totalitarismo stalinista 7. Isto, no fundo, indica sua necessidade de defender a crença em uma violência criadora que se transforma em ato revolucionário capaz de romper o ciclo de repetições e suspender a rede de diferenciais que dá forma ao nosso universo simbólico 8.
A negatividade do sujeito é violência criadora do Real na ordem estabelecida. Segundo Zizek, o verdadeiro ensinamento de Lênin ao insistir na diferença entre “liberdade formal” e “liberdade atual”, consiste em mostrar como “a verdadeira escolha livre é aquela na qual eu não escolho apenas entre duas ou mais opções no interior de uma conjunto prévio de coordenadas, mas escolho mudar o próprio conjunto de coordenadas” 9.
É talvez isto nos explique também, por exemplo, a complacência de Zizek em relação a autores como Carl Schmitt, para quem o verdadeiro ato soberano é a ação violenta capaz de suspender o ordenamento jurídico, ao instaurar um espaço de exceção. Só um gesto desta natureza, que rompe o continuo da história ao suspender a estrutura simbólica na qual o sujeito inscreve o sentido de seu ato nos garantiria que a história não se reduz atualmente a um tempo morto e desprovido de acontecimentos.
Mas aqui fica uma questão: se uma certa forma de negação aparece como o ato político por excelência, por que a verdade deste pensamento do político não seria uma simples paixão de purificação cuja última figura é o desejo niilista de aniquilação? Por que não valeria para Zizek, por exemplo, aquilo que Habermas afirma sobre Carl Schmitt : “É a estética da violência que fascina Schmitt. Interpretada segundo o modelo de uma criação ex nihilo, a soberania adquire um halo de sentido surrealista devido à sua relação com a destruição violenta do normativo” 10. É neste ponto que começa Bem-vindo ao Deserto do Real.
Paixão pelo Real e crítica da ideologia
Bem-vindo ao Deserto do Real começa com a descrição de uma paixão que teria animado toda a história do século XX. Trata-se de uma paixão pelo “Real em sua violência extrema como o preço pago para nos livrarmos das camadas enganadoras da realidade”. Ela explicaria a motivação que teria animado os empreendimentos políticos que quiseram fundar uma nova ordem coletiva por meio de uma ciência do real capaz de fazer a crítica radical da aparência (como a ação revolucionária marxista, por exemplo).
Em outro campo, ela explicaria também a paixão que animou as vanguardas contemporâneas na tentativa de fazer advir a Coisa Real através dos protocolos de crítica à representação, à distinção estruturada em som e ruído, à mimesis, entre outros. A paixão pelo Real seria pois paixão estético-política pela ruptura, niilismo ativo apaixonado pela transgressão, pela radicalidade da violência como signo do aparecimento de uma nova ordem cujo programa positivo nunca foi exaustivamente tematizado.
1 - Christa Wolf, "The Quest for Christa T.", New York, Farrar, Straus & Giroux, 1970, p. 24.
2 - Lembremos, por exemplo, a razão que leva Zizek a pregar uma política inusitada de "retorno a Lênin": "O retorno a Lênin é o esforço de reencontrar este momento único no qual um pensamento ainda transpõe-se em uma organização coletiva, mas ainda não se fixa em uma instituição (a Igreja estabelecida, a IPA, o Partido-Estado stalinista)" (Zizek, "On Belief", Routledge, 2001, p. 4).
3 - Por coincidência, trata-se da mesma constelação utilizada por Zizek para definir o sujeito hegeliano: “O sujeito hegeliano não é nada mais que o simples movimento de auto-decepção unilateral, da hubris de por-se em uma particularidade exclusiva que necessariamente volta-se contra si mesma e termina em auto-negação” (Zizek, "O Mais Sublime dos Histéricos", Zahar, 1991, p. 77).
4 - In Reul, Sabine, e Deichmann, Thomas, "Entrevista a Slavoj Zizek", www.otrocampo.com.
5 - Através desta perspectiva, podemos defender Zizek da acusação de Peter Dews, para quem: “Zizek desenha o sujeito como essencialmente dividido entre universalidade e particularidade, mas não fica claro como o tipo de universalidade invocada pode resolver este dilema ontológico” (Dews, Peter; "The Tremor of Reflection", em "The Limits of Disenchantment", Verso, 1996, p. 252). A universalidade, em Zizek, é universalidade da experiência do negativo.
6 - Cf. Deleuze, Gilles e Parnet, Claire, "Dialogues", Paris: Flammarion, 1977, p. 100.
7 - Ver, por exemplo, Zizek, "Repeating Lenin", Atkinz: Zagreb, 2002.
8 - Para Zizek, o ato é uma categoria puramente negativa, de onde se segue a necessidade de sublinhar que: “Lacan insiste na primazia do ato (negativo) a despeito do estabelecimento (positivo) de uma ‘nova harmonia’ através da intervenção de algum Significante-Mestre novo" (Zizek, "The Ticklish Subject", Verso, 2000, p. 159).
9 - Zizek, "On Belief", op. cit., p. 121
10 - Habermas, "The Horror of Autonomy", em "The New Conservatism", p. 137".
(http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/1778,1.shl)
(*) - Vladimir Pinheiro Safatle: "Possui graduação em filosofia pela Universidade de São Paulo (1994), graduação em Comunicação social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (1994), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Lieux et transformations de la philosophie - Université de Paris VIII (2002). Atualmente é Professor Livre Docente do departamento de filosofia da Universidade de São Paulo. Foi professor visitante das Universidades de Paris VII , Paris VIII, Toulouse e Louvain, além de responsável de seminário no Collège International de Philosophie (Paris). Desenvolve pesquisas nas áreas de: epistemologia da psicanálise e da psicologia, desdobramentos da tradição dialética hegeliana na filosofia do século XX e filosofia da música. É um dos coordenadores da International Society of Psychoanalysis and Philosophy".
(http://sistemas3.usp.br/tycho/CurriculoLattesMostrar?codpub=F7A25A5BAE0F)
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VERBETE 'SLAVOJ ZIZEK',
ENCYCLOPEDIA OF WORLD BIOGRAPHY (em inglês)
"Slavoj Zizek
Slovenian philosopher Slavoj Zizek (born 1949) is an academic star, the "Elvis of Cultural Studies," according to one often-quoted journalistic formulation. His lectures, dealing in ideas that are often dense to the point of impenetrability, draw crowds numbering in the hundreds, with their mix of philosophical theory and topical political ideas, both often illustrated by examples drawn from American popular culture.
Zizek talks as fast as he thinks, and writes nearly as fast as he can talk (he has published as many as three books in the course of a single year), often making things even more difficult for the reader with a style of argument in which he often seems to contradict himself. James Harkin, writing in the London Guardian , called him "a one-man heavy industry of cultural criticism." Yet Zizek's fame rests on more than sheer mental agility. Consistent with his origins in Communist-era Yugoslavia, Zizek has espoused Marxist-Leninist ideas, which have remained current in academic circles even as they have lost ground in the wider political sphere. Zizek has reinvigorated Marxist-Leninist thought with an approach that brings together philosophy, psychology, film studies, humor, and engaging prose. His writing encompasses both political philosopher Karl Marx and film comedian Groucho Marx. Documentary filmmaker Astra Taylor, who made a film about Zizek, told Reyhan Harmaci of the San Francisco Chronicle that Zizek seems "to make intellectualism exciting and fun and vital in a climate of anti-intellectualism." In Zizek's own biography on the website of the European Graduate School, where he is a faculty member, he indicated that he "uses popular culture to explain the theory of [French philosopher] Jacques Lacan and the theory of Jacques Lacan to explain politics and popular culture."
Grew Up Under Communism
A native and lifelong resident of Ljubljana, Slovenia, Slavoj Zizek (SLAH-voy ZHEE-zhek) was born on March 21, 1949, when the small Alpine capital was part of Communist Yugoslavia. An only child, he grew up in the household of professional parents. Like many other young people in the former satellite states of the Soviet Union, he consumed Western popular culture avidly in preference to officially approved domestic television, books, and films. Much of his encyclopedic knowledge of Hollywood cinema was acquired during his teenage years, when he spent long hours at an auditorium that specialized in showing foreign films. The "Prague spring" reform movement of 1968 in Czechoslovakia during which Czechs agitated for greater freedom but were repressed by the Soviet Union, had an important effect on Zizek, even though he was not one of the demonstrators agitating in favor of greater freedom.
Zizek was in the Czech capital when Soviet troops invaded, and he observed the collision of totalitarian power with the aspirations of ordinary people. "I found there, on the central square, a café that miraculously worked through this emergency," he told Rebecca Mead of the New Yorker . "I remember they had wonderful strawberry cakes, and I was sitting there eating strawberry cakes and watching Russian tanks against demonstrators. It was perfect."
Not that Zizek was a supporter of Communist orthodoxy. As an undergraduate at the University of Ljubljana he read widely, not sticking to approved course lists. He spoke six languages, and immersed himself in the works of Lacan, Jacques Derrida, and other philosophers, mostly French, whose writings had found little favor in socialist circles. In the case of Lacan, that philosopher's work relied on psychology—a suspect science from a collectivist point of view because of its preoccupation with the self and the individual mind. Zizek would, in time, set out to reconcile that seeming dichotomy.
Zizek earned a bachelor's degree in philosophy and sociology in 1971, and then pursued a master's degree, also at the University of Ljubljana, writing his master's thesis on the French philosophers whose ideas he had been studying. The brilliance of his thesis stirred up interest among the university's philosophy faculty, but its ideologically suspect qualities were more troublesome. Finally, after being forced to add an appendix in which he outlined the divergences of his ideas from approved Marxist theory, Zizek was awarded a master's degree in philosophy in 1975. The taint on his reputation kept him from finding a teaching position. For several years Zizek depended on his work as a translator to pay his bills, but in 1977 he gave in to pressure and joined the Communist Party. This opened up government speechwriting jobs, as well as the chance to take a job as a researcher at the Institute of Sociology and Philosophy at the University of Ljubljana in 1979. He retained that position for the next several decades, even after gaining international renown.
Worked as Speechwriter
In 1981 Zizek headed to Paris, where he studied with Lacan's son-in-law and was psychoanalyzed by him. He finished a dissertation and received his doctoral degree from the university that year. By that time Zizek had emerged as something of an expert on Lacan, and as the leader of a group of so-called Ljubljana Lacanians, contributing to a level of familiarity with Lacan in Slovenia that perhaps exceeded even that in France itself.
Zizek's playful side began to emerge during this period, when he wrote, under a pen name, a negative review of one of his own books. Sometimes during his career Zizek would seem to adopt one position and then switch to the exact opposite, but this tendency had roots in the dialectical tradition of philosophy in which his thought was rooted—the conviction that truth is ultimately obtained through the resolution of a series of opposites or conflicts. Zizek's first book published in the West was The Sublime Object of Ideology (1989), which focused on the greatest of all the dialectical philosophers, Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770–1831), through the prism of Lacan's thought. It was a daring combination; Zizek drew new links between philosophy and psychology by considering how these thinkers treated the idea of the Other—anything that is not part of the Self.
Zizek also cultivated his more public persona during the 1980s, a period during which Yugoslavia's Communist central government gradually began to lose control over the country's cultural life. He penned a popular newspaper column, and in 1990, when Slovenia was on the brink of independence from Yugoslavia (achieving it after a ten-day war in 1991), he entered the race to become part of the group of four leaders who would hold the country's joint presidency. Of the five candidates, he finished fifth, and was thus not elected. It was at this time that the impressive spurt in Zizek's productivity began. He was living alone; a marriage from the early 1970s, which produced a son, had ended, and his second and third marriages (the second produced another son) were still in the future. Zizek had few responsibilities other than to think and write. His post was that of researcher, and he rarely if ever taught classes.
Partly this kind of financial freedom for an academic was a holdover from the Communist system, in which intellectuals were considered an important part of the theoretical underpinning of the state, and were thus financially supported if they were seen to be making useful contributions. Zizek cherished this freedom. As his fame grew, he was frequently offered teaching positions in the United States, where he garnered a strong following in university cultural studies departments. He turned them all down, although he cheerfully accepted visiting scholar appointments and often spent much of the year traveling from one academic center to another. "When people ask me why I don't teach permanently in the United States," Zizek was quoted as saying in the Philadelphia Inquirer , "I tell them that it is because American universities have this very strange, eccentric idea that you must work for your salary. I prefer to do the opposite and not work for my salary."
Used Film to Illustrate Ideas
In any event, Zizek repaid his university's investment by bringing international intellectual attention to tiny Slovenia. He turned out books quickly, and they were translated into some 20 languages; in the United States many were published by Verso in New York, which profited from its association with Zizek, for the books sold well. Zizek communicated and expanded upon Lacan's difficult ideas about perception, desire, and aggression by illustrating them with examples drawn from decades of popular films that students and general readers knew well. Zizek's own books, such as Looking Awry; An Introduction to Jacques Lacan Through Popular Culture (1991) and Enjoy Your Symptom!: Jacques Lacan in Hollywood and Out (1992), were joined on bookstore shelves by collections of articles he edited, including Everything You Always Wanted to Know About Lacan (But Were Afraid to Ask Hitchcock) (1992).
Zizek's international fame grew after a 1997 essay written by the influential British literary critic Terry Eagleton was published in the London Review of Books . The essay reviewed several of Zizek's books and concluded, as quoted in Contemporary Authors , that they "have an enviable knack of making [Continental philosophers] Kant or Kierkegaard sound riotously exciting; his writing bristles with difficulties but never serves up a turgid sentence." It was around this time that Zizek's lectures began to attract large crowds of young intellectuals. Police had to be called to a Zizek appearance at a Lower Manhattan art gallery after the shutout portion of an overflow crowd began banging on the building's windows, demanding admission. Nor was his fame confined to America and Europe; a documentary film, Zizek! , followed the philosopher to Buenos Aires, Argentina, where similar crowds awaited him.
Zizek's popularity was due partly to the dizzying virtuosity of his speeches, which were free form traversals of the history of philosophy, mixed with observations on anything from the Matrix film series to surfing, to world events, to theology (although an atheist, Zizek was fascinated by the figure of Saint Paul, seeing in him an analogue to early Soviet Communist leader Vladimir Lenin in terms of building an organization motivated by ideas). One audience member at a Zizek talk told Scott McLemee, author of the "Zizek Watch," a column published in the Chronicle of Higher Education , "I have no idea where we just went, but that was one wild trip." Another explanation of Zizek's success came from McLemee, who noted the theorist's continuing enthusiasm for American films. "One source of Slavoj Zizek's lasting appeal as a cultural theorist is that he provides a really good excuse to go to the video store," McLemee wrote.
Zizek also showed a knack for keeping himself in the headlines, at least those of intellectual journals. He broadened the focus of his writing to include current events, and he even contributed an essay to the staid U.S. journal Foreign Policy that examined the psychological motivations behind the failed U.S. search for weapons of mass destruction during the Iraq war. The Art of the Ridiculous Sublime: On David Lynch's Lost Highway (2000) was one of several Zizek tomes on contemporary entertainment. With Welcome to the Desert of the Real!: Five Essays on 11 September and Related Dates , Zizek showed an uncharacteristic tendency to edit himself, recalling the book several times for revisions as it went through subsequent printings. Zizek's Iraq: The Borrowed Kettle (2004) critiqued not only the rationale for war but also explored psychological factors involved in the restrictions placed on American civil liberties after the September 11 attacks.
Academic fashions come and go, but as of the mid-2000s the bearded Zizek had spent nearly a decade as what Carlin Romano of the Philadelphia Inquirer called "the ultimate hottie in recent years on the global intellectual circuit." In April of 2005 he married a 27-year-old Argentine model. He joined the faculty of the European Graduate School, an international institute of communications theory with locations in several countries, and he worked for an unusually long time on The Parallax View , a lengthy philosophical tract that attempted to redefine the dialectical idea itself, leaving room, as ever, for discussions of films, the war on terror, and hot topics such as neuroscience. By the time it was published, Zizek had moved on to a new book, In Defense of Lost Causes , in which he discussed the Christian legacy, class struggle, and problems in the world of theory itself. The book was slated for publication in the summer of 2007.
Periodicals
Artforum International , March 1993.
Chronicle of Higher Education , February 6, 2004; April 2, 2004; June 4, 2004.
Guardian (London, England), October 8, 2005.
New Yorker , May 5, 2003.
Philadelphia Inquirer , December 7, 2005.
Tikkun , January-February 2005.
World Literature Today , Spring 2002.
Online
Contemporary Authors Online , Gale, 2006, reproduced in Biography Resource Center , Thomson Gale, 2006, http://galenet/galegroup.com/servlet/BioRC (December 31, 2006).
"Slavoj Zizek: Biography," The European Graduate School, http://www.egs.edu/faculty/zizek.html (December 31, 2006).
Read more: Slavoj Zizek Biography - life, parents, name, history, school, young, son, book, old, born, marriage, time, year, Grew Up Under Communism, Worked as Speechwriter http://www.notablebiographies.com/supp/Supplement-Sp-Z/Zizek-Slavoj.html#ixzz1HaYVNC00".
(http://www.notablebiographies.com/supp/Supplement-Sp-Z/Zizek-Slavoj.html)
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LEIA, TAMBÉM, POR FAVOR
(ARTIGO DE CLÁUDIO CÉSAR DUTRA DE SOUZA):
"Segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Filósofo esloveno diz que o maoísmo criou as condições para o capitalismo autoritário
O novo livro do filósofo e crítico cultural esloveno Slavoj Zizek, First as Tragedy, then as Farce (Verso, 2009, 157 páginas) – ou Primeiro como Tragédia, depois como Farsa –, traz um conjunto de ideias que valem uma reflexão. Entre elas, a mais polêmica é a que formula a hipótese de que estaríamos assistindo à consolidação de uma nova etapa na evolução do sistema capitalista, na qual os laços entre democracia e livre mercado (mesmo sujeitos a lapsos ditatoriais) seriam definitivamente rompidos e a face autoritária do capitalismo abertamente revelada. De acordo com Slavoj Zizek, esse capitalismo autoritário, que encontra na China o seu maior expoente, seria herdeiro da mão de ferro de antigos governos asiáticos totalitários, fossem eles comunistas ou monárquicos, os quais, a partir da emergência dos chamados Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan), na década de 1990, se mesclaram com o modo de produção que se consagrou vitorioso no Ocidente no último século.
A China parece ter aprendido a lição dos grandes felinos. Tomemos Cingapura como exemplo e veremos que a expressão “capitalismo de valores asiáticos” foi cunhada pelo líder que praticamente reinventou aquele país, Lee Quan Yew. Antes de colocar em prática as reformas que frutificam até os dias de hoje, Deng Xiaoping elogiou o crescimento de Cingapura, afirmando que esse seria um modelo para a China naqueles tempos em que todos os partidos comunistas do mundo entravam em um processo de luto pela ideologia perdida com o fim da União Soviética. A partir do modelo de Cingapura, a China encontrou a sua versão do capitalismo autoritário, uma que não exigia grandes mudanças políticas, com estados altamente centralizados e ditatoriais, que controlam a liberdade de expressão e utilizam de forma quase sumária a pena capital.
De acordo com Slavoj Zizek, seriam ingênuos aqueles que acham que o legado da Revolução Cultural Chinesa poderia promover minimamente uma contenção dos excessos do capitalismo. A suprema ironia é que, segundo esse autor, foi justamente o maoísmo que criou as condições para a explosão capitalista da moderna China. A Revolução Cultural, que objetivou o desmoronamento de tradições e introduziu o comunismo naquele país, paradoxalmente, também criou as condições ideológicas para o seu atual desenvolvimento capitalista, reforçando o que Marx afirmava em relação ao colonialismo europeu no sentido de que esse, minando as bases agrárias e tradicionais dos povos colonizados, instituiria a luta de classes e, subsequentemente, o socialismo.
Apesar de polêmica, essa afirmação é coerente com o pensamento de Marx quando fez o elogio da dominação britânica na Índia, escrevendo que a Grã-Bretanha deveria cumprir no subcontinente indiano uma dupla missão – uma destrutiva, outra regeneradora, ou seja, a aniquilação da velha sociedade asiática e o estabelecimento dos fundamentos da sociedade ocidental na Ásia. Para Marx, as idílicas aldeias que existiam antes da dominação britânica eram também vítimas do despotismo oriental, da ignorância e da alienação religiosa, e a situação colonial, por pior que fosse, ajudaria esses povos em sua evolução.
Slavoj Zizek lembra igualmente que, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx cita Hegel quando o filósofo alemão afirma que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E acrescenta a sua famosa frase: “A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Herbert Marcuse completa que a repetição de um evento como farsa pode ser ainda mais terrível do que a tragédia original. Dentro dessa lógica, não podemos entender a atual situação chinesa como uma farsa das etapas iniciais e trágicas da revolução industrial, mas sim como a instauradora de uma nova ordem que se alastra para outros países, sendo a Rússia de Putin e a Itália de Berlusconi seus exemplos mais marcantes.
Posto isso, não é de se espantar que o país se torne um ícone tanto para os neoliberais quanto para alguns membros do campo das esquerdas. Em relação a esses últimos, a associação frequente da China como uma possível alternativa à hegemonia americana supõe, imaginariamente, algo que ela não é, a não ser que seja para tornar o modelo ainda pior. Francis Fukuyama nos fala de um suposto “consenso de Pequim”, o qual substituiria o conhecido “consenso de Washington”, lançando novas regras e diretrizes para o capitalismo global, no qual seria possível fazer negócios e ganhar dinheiro sem dar importância à democracia e aos direitos humanos. Fukuyama não acredita que esse modelo capitalista autoritário irá substituir o modelo democrático liberal pelo fato de sua eficiência estar restrita a uma estrutura asiática que pressupõe um conjunto de valores culturais específicos. Não obstante, Fukuyama concorda com o editor do semanário internacional Newsweek, Fareed Zakaria, quando este identifica a emergência do modelo chinês como representativo do mundo que ele chamou de “pós-americano”.
Alguns farão a ressalva de que as democracias liberais seriam efetivamente apenas uma máscara suave que outorgaria ao cidadão uma liberdade imaginária. Slavoj Zizek não se furta a criticar de forma contundente nossas supostas “liberdades de escolha”, argumentando que essas existem apenas para legitimar aquilo que o sistema já previamente escolheu, tais como a opção entre Pepsi ou Coca-Cola ou entre um candidato à presidência e outro. Entretanto, existe uma diferença marcante com relação à China: o prescindir de disfarces e o escancarar do autoritarismo como um dispositivo legal e estatal. A necessidade de reconhecer (e discutir) a magnitude de tal diferenciação reside no poder de atração ideológica (com desdobramentos políticos, econômicos e militares) que esse país possui, fruto de seu espetacular desenvolvimento econômico, o que pode representar um perigoso precedente à refração de conquistas sociais duramente conquistadas ao longo do século 20.
* Mestrando em Sociologia pela Universidade de Paris X
POR CLÁUDIO CÉSAR DUTRA DE SOUZA".
(http://slavoj-zizek.blogspot.com/)
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"Domingo, 6 de fevereiro de 2011
O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas Tunísia e Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática secular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, sua corrupção e pobreza, e demandaram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos liberais ocidentais - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo - se provou errada.
Quando um novo governo provisório foi nomeado na Tunísia, ele excluiu os islâmicos e a esquerda mais radical. A reação dos liberais presunçosos foi: bom, eles são basicamente a mesma coisa; dois extremos totalitários - mas as coisas são simples assim? O verdadeiro antagonismo de longa data não é precisamente entre islâmicos e a esquerda? Ainda que eles estejam momentaneamente unidos contra o regime, uma vez que se aproximam da vitória, a sua unidade se parte e eles se engajam numa luta mortal, frequentemente mais cruel do que aquela travada contra o inimigo comum.
Nós não testemunhamos precisamente tal luta depois das eleições no Irã? As centenas de milhares de apoiadores de Mousavi lutavam pelo sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini: liberdade e justiça. Ainda que esse sonho tenha sido utópico, ele levou a uma explosão de criatividade política e social de tirar o fôlego, experiências de organização e debates entre estudantes e pessoas comuns. Essa abertura genuína, que liberou forças de transformação social então desconhecidas, um momento no qual tudo pareceu possível, foi então gradualmente sufocada pela dominação do controle político e do establishment islâmico.
Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, é preciso ser cuidadoso para não perder de vista o componente social. O Talibã é usualmente apresentado como um grupo fundamentalista islâmico que impõe suas leis pelo terror. No entanto, quando, na primavera de 2009, eles tomaram o Vale de Swat no Paquistão, o The New York Times noticiou que eles arquitetaram "uma revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de ricos donos de terra e seus inquilinos desprovidos de um chão". Se, ao "se aproveitar" dos apuros dos agricultores, o Talibã estava criando, nas palavras do New York Times, "um alerta sobre os riscos ao Paquistão, que permanece sendo largamente feudal", o quê impediu os democratas liberais do Paquistão e dos Estados Unidos de, da mesma forma, "se aproveitarem" desses apuros e de tentarem ajudar os agricultores sem terra? Ocorre de as forças feudais no Paquistão serem aliados naturais da democracia liberal?
A conclusão inevitável a ser delineada é que a ascensão do islamismo radical sempre foi o outro lado do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos. Quando o Afeganistão é retratado como sendo o exemplo máximo de um país fundamentalista islâmico, quem ainda se lembra que, há quarenta anos atrás, ele era um país com uma forte tradição secular, incluindo um poderoso partido comunista que havia tomado o poder lá sem dependência da União Soviética? Para onde essa tradição secular foi?
É crucial analisar os eventos em andamento na Tunísia e no Egito (e no Iémen e ... talvez, com esperança, até na Arábia Saudita) em contraste com esse pano de fundo. Se a situação for eventualmente estabilizada de modo ao antigo regime sobreviver, apenas passando por alguma cirurgia cosmética liberal, isso irá gerar um intransponível retrocesso fundamentalista. Para que o legado chave do liberalismo sobreviva, os liberais precisam da ajuda fraternal da esquerda radical. De volta ao Egito, a mais vergonhosa e perigosamente oportunista reação foi aquela de Tony Blair noticiada na CNN: mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável. Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak na forma de ligeiramente alargar o círculo do poder. Este é o motivo pelo qual é uma obscenidade falar em transição pacífica agora: pelo esmagamento da oposição, o próprio Mubarak tornou isso impossível. Depois de Mubarak enviar o exército contra os protestantes, a escolha se tornou clara: ou uma mudança cosmética na qual alguma coisa muda para que tudo continue na mesma, ou uma verdadeira ruptura.
Aqui, portanto, é o momento da verdade: ninguém pode arguir, como no caso da Argélia uma década atrás, que permitir eleições verdadeiramente livres equivale a entregar o poder para fundamentalistas islâmicos. Outra preocupação liberal é de que não existe poder político organizado para tomar o poder caso Mubarak parta. É claro que não existe; Mubarak se assegurou disso ao reduzir a oposição a ornamentos marginais, de forma que o resultado acaba sendo como o título do famoso romance de Agatha Christie, "E Então Não Havia Ninguém". O argumento de Mubarak - é ele ou o caos - é um argumento contra ele.
A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".
Para onde, então, Mubarak deve ir? Aqui, a resposta também é clara: para Haia. Se existe um líder que merece sentar lá, é ele.
(*) Nota do Tradutor: o título original do livro de Agatha Christie é "And Then There Were None", conhecido aqui no Brasil como "O Caso dos Dez Negrinhos".
Referências feitas pelo autor:
http://www.guardian.co.uk/world/2010/feb/02/iran-mousavi-dictatorship-khameini-protests
http://www.nytimes.com/2009/04/17/world/asia/17pstan.html?_r=1
Fonte: Anncol. Traduzido por Henrique Abel para o Diário Liberdade".
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"Sábado, 5 de fevereiro de 2011
Slavoj Zizek projeta-se como um dos pensadores mais conhecidos no cenário intelectual mundial contemporâneo: suas obras têm alcançado repercussão em muitos países, despertando atenção por sua visão insólita e peculiar a respeito da política, da filosofia, da psicanálise e de temas culturais como o cinema. Justamente pela sua condição de filósofo pop, tem sido aclamado e odiado. Sua trajetória intelectual é bastante específica. Sua formação se dá próximo da psicanálise lacaniana, abeirando-se, no mundo francês, de uma leitura estrutural da sociedade. A partir de sua base lacaniana, Zizek terá em Hegel um dos elementos centrais de sua visão filosófica.
O marxismo está presente em Zizek como caldo de cultura de sua própria vida na Iugoslávia, embora, com o desmoronamento do país, tenha se candidatado à presidência da Eslovênia com base em uma plataforma liberal, apoiando medidas de choque de capitalismo. Mas, ainda nos anos 90, volta a carregar o marxismo como uma de suas mais importantes ferramentas teóricas e práticas, ainda que de modo próprio.
Desde os tempos de sua formação intelectual, Zizek se põe num diálogo próximo com a corrente que foi denominada “pós-marxismo”, destacadamente com Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. Mas é exatamente este diálogo que revela mostras das trilhas próprias construídas por Zizek em sua filosofia política. Enquanto nos últimos tempos Laclau erige uma teoria da razão populista, buscando um diálogo de assimilação da tradição política de Chávez, Morales e Kirchner, Zizek tem persistido pelo campo da crítica mais contundente e da desconstrução das alternativas hoje postas em campo pela política progressista já estabelecida. Pode-se argumentar que a posição de Zizek seja, para o jogo presente, ao mesmo tempo mais exigente teoricamente, porque não se contenta com a reforma, mas conservadora na prática, na medida em que a falta de apoio ao progressismo em marcha pode ser confundido com uma resistência que é, no fundo, uma preferência circunstancial pelas políticas de cidadania liberal. Se esse perigo se põe na sua posição política prática, Zizek dele se afasta, no entanto, quando de sua proposição teórica.
Em seus livros recentes, a filosofia de Zizek se encaminha por um cântico de politicidade radical. Em obras como Bem-vindo ao deserto do Real! (São Paulo, Boitempo, 2003) e Às portas da revolução (São Paulo, Boitempo, 2005), Zizek investiga, no evento plenamente revolucionário, a chave para a saída do impasse da própria sociedade capitalista, liberal e democrática, cuja forma é a reprodutora das estruturas da exploração do presente. Por essa razão, é na volta a Lênin que Zizek encontrará meios de retomar a plena caminhada política contemporânea. Suas incursões, nos últimos tempos, sobre o pensamento de Mao e de Robespierre vão pela mesma linha de interesse.
O resultado de sua crescente busca pela forma política radical como elemento de resolução do impasse contemporâneo exponencia-se em seu novo livro, Em defesa das causas perdidas (São Paulo, Boitempo, 2011). Nesta obra, síntese de sua visão filosófica e política atual, Zizek alia a sua formação psicanalítica e sua crítica cultural à construção de caminhos políticos revolucionários concretos. Contra as lutas que se pautam dentro do possível, Zizek aponta ao impossível como forma de superação do presente.
Num cenário no qual o capitalismo se apresenta como único horizonte possível, em que a cidadania e o liberalismo econômico são pilares tidos como alternativas necessárias do bom-senso e da responsabilidade, é preciso dar um passo atrás para ganhar o futuro. Por isso a obra se intitula Em defesa das causas perdidas. O marxismo e as revoluções socialistas foram experiências que eletrizaram a humanidade desde o final do século XIX e durante boa parte do século XX. Hoje, são dadas como causas perdidas. É preciso, no entanto, buscá-las e defendê-las, dirá Zizek.
Das experiências radicais do passado, acusadas pelo presente de nefasto radicalismo, Zizek inverte, neste livro, os termos. Contra a contenção liberal, dirá que é o radicalismo que foi incompleto. A postura leninista, de abrir as portas da revolução mesmo contra o bom-senso, é o mote zizekiano para romper a paralisia do presente. Para tanto, as filosofias da radicalidade, como a de Heidegger, serão revisitadas por Zizek. Em razão desse horizonte de defesa da radicalidade, Zizek atrela a si, além do marxismo, um largo campo de tradições filosóficas e políticas de extrato não-liberal. Heidegger é o caso mais exemplar dessa perspectiva que se afasta dos cânones da reprodução da forma política liberal. O amálgama que Zizek estabelece entre a tradição do marxismo e as visões existenciais e radicais é bastante insólito, porque não se assenta num programa de sistematização interna, mas numa necessidade processual de combate. São as ocasiões presentes que levantam a aliança entre as frentes radicais que buscam causas perdidas.
Aponto, em meu livro Filosofia do Direito (São Paulo, Atlas, 2010), a possibilidade da leitura da filosofia do direito e da filosofia política contemporâneas a partir de três grandes caminhos. O primeiro desses eixos é um vasto campo majoritário, liberal, institucionalista e juspositivista, formando um arco que vai do ecletismo, passando pelo estrito jusnormativismo, até chegar às filosofias liberais éticas do presente. De outro lado, as filosofias não-juspositivistas, não-liberais, que aqui podem se definir pelo negativo, como as de Nietzsche, Heidegger, Gadamer, Carl Schmitt ou Michel Foucault. E, por fim, um terceiro campo, de crítica, que é o do marxismo e todas suas vertentes. Se o juspositivismo é o campeão do atual mundo neoliberal, de um eterno presente a ser sempre repetido sem variações, alguns não-juspositivistas, em certas circunstâncias, foram o esteio do radicalismo reacionário, apontando para o passado. Só o marxismo foi a base de sementes de um futuro diferente. Zizek aponta para o contraste veemente entre as radicalidades reacionária e marxista. A primeira, fascista, tem por mote a divisão, a segregação, o ódio. O socialismo tem o mote justamente contrário, a luta pela universalidade da classe trabalhadora e pela sua apropriação em comum da riqueza socialmente construída. O socialismo é o único mote radical que olha ao futuro.
Em face desse quadro, Zizek constrói sua reflexão tendo por base dois dos três grandes eixos do pensamento filosófico contemporâneo. O seu não-liberalismo faz de algumas das correntes existenciais-decisionistas e da psicanálise aliadas do marxismo, constituindo o pano de fundo da busca e da defesa das causas perdidas socialistas. O que tem identificado Zizek teoricamente, em suas últimas obras e em especial neste Em defesa das causas perdidas, é um amálgama filosófico forjado sob o esteio comum da ruptura com o liberalismo e as visões da reprodução democrática automática sob forma eleitoral e representativa mergulhadas no contexto capitalista. A dosagem de seu marxismo em face da psicanálise lacaniana ou dos excertos de filosofia não-juspositivista é fluida. Em determinadas horas, toma a frente das causas perdidas uma perspectiva existencial-decisionista. Em outros momentos de seu novo livro, é o marxismo, como crítica inclusive à forma mercantil, que pauta sua leitura de mundo. Marcelo Gomes Franco Grillo, no livro O direito na filosofia de Slavoj Zizek: perspectivas para o pensamento jurídico crítico (São Paulo, Alfa-Ômega, 2011), analisando as estratégias jurídicas implícitas do discurso de Zizek, aponta para as dificuldades resultantes de uma ampla frente de combate por ele construída contra o bem-estabelecido, imbricando ao mesmo tempo em contradições teóricas mas também, quiçá, em riquezas de múltiplos apoios e estratégias para a prática política.
Se nesta sua nova obra, Em defesa das causas perdidas, Slavoj Zizek, retoma o ontem radical, na verdade mira no amanhã: romper com a cínica estabilidade do hoje é sua busca teórica sôfrega, explosiva, original e sempre dinâmica. Construindo-se conforme a intervenção no presente, Zizek exprime uma face de ponta do pensamento crítico hoje, insólito no cenário filosófico porque persiste por apontar a causa socialista como meio de transformação dos impasses do presente. Opondo-se ao pensamento conservador, para o qual a estabilidade liberal decreta o fim da história, conforme o adágio Roma locuta, causa finita (Roma falou, a causa está encerrada), Zizek pauta seu livro pela proposição invertida: Causa locuta, Roma finita. Contra a aparentemente invencível Roma do capitalismo, Zizek entoa para que a causa socialista radicalmente fale.
(http://slavoj-zizek.blogspot.com/)
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Slavoj Zizek and Alain Badiou at NYC's Jack Tilton Gallery
(http://kasamaproject.org/category/communist-politics/philosophy/)
A EXPLOSÃO (NO VALE DA MORTE, CALIFÓRNIA, EUA)
EXIBIDA NO FILME Zabriskie Point (1970),
DE MICHELANGELO ANTONIONI
(http://elbo.ws/video/BAcePPSsFP0/)